Trabalhei alguns anos no centro da cidade. E, antes disso, já havia estagiado por lá, nos bons tempos da faculdade. Uma das lembranças do bairro que guardo com mais carinho é a Igreja de São José em março, enfeitada para a festa de seu padroeiro e com os fieis carregando pequenos ornamentos, feitos do ramo de algo que me pareceu trigo e fitas, ao sair.
Não trabalho mais no centro. Vou lá até com alguma freqüência, mas faz anos desde que entrei na igreja de São José pela última vez. E quando março se aproxima, mesmo não sendo alguém muito religioso, me vem uma tépida vontade de dar uma ida até lá.
Nostalgia? Espero que não. Seria inútil... as flores e as luzes da festa de todos os anos estariam presentes mas o estudante com a mochila sempre pesada de livros que ali entrou não existe mais. O jovem estudante já cruzou a linha de sombra e isso não tem mais volta, mesmo que se volte àquela igreja.
Mas agora... março não demora. Sentimos o tempo passar cada vez mais rápido... Talvez eu vá lá esse ano? Passo tantas vezes em frente a ela... Quem sabe? Um bom punhado de outros marços foi se acumulando, mas acredito que sempre podemos encontrar motivos para voltar a algum lugar. Talvez os levemos conosco, talvez os encontraremos lá. E talvez apenas se volte.
Março... Talvez eu vá... Lá nessa igreja também se encontra um dos mais belos quase-segredos do Rio, a escultura de São José atrás do altar-mor. É admirável, e o é por diversas razões. Tão diversas quanto o são as pessoas.
E se você é um fanático religioso que confunde arte sacra com “idolatria”, o azar é só seu.
Janeiro, 2018
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