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Fragmento de um romance.
Antonio Magnani



O homem rude foi despertado por uma fresta de sol, que atravessou os humildes buracos de seu rústico e mísero casebre. Olhou para o telhado empretejado pela fumaça do fogareiro a lenha. Olhou por alguns instantes e em questão de minutos, colocou-se em pé, calçou o velho botinão de couro de animal e partiu em direção da cozinha, esfregando as costas da calejada mão, nos olhos apáticos.
Meio sonolento e selvagem agarrou a sua mulher, que se achava de pé ollando para o horizonte sem fim, derrubou-a no chão, levantou seu roto vestido e começou a seduzi-lá com certa volúpia. Depois de satisfeito, vestiu sua velha roupa e partiu sem dizer nenhuma palavra.
O sol já se punha no alto, e o vento do norte assoprava com certa violência, levantando poeira na estrada. Caminhou por vales e verdes campinas, até que no final do desfiladeiro, chegou a um pequeno povoado, com parcas casas humildes, feita de madeiras e estavam amareladas pelo tempo.
Entrou cabisbaixo e meio desconfiado numa mísera vendinha, comprou sal, toucinho, querosene e sabonete. Pagou com uma nota de 50 réis e partiu tão rapidamente que todos ficaram boquiabertos, mas para surpresa de todos, apareceu na ruela estreita com passos largos e levantando poeira. Pediu uma garrafa de água ardente, colocou no picuá que estava a tiracolo e saiu olhando para todos os lados, feliz e ao mesmo tempo acabrunhado.
Fêz o mesmo percurso de volta, mudou apenas a caminhada, poucos quilometros de casa. Quando resolveu pegar um atalho pelo serrado o qual se deparava com uma grande cachoeira. Olhou dos lados, despiu-se toda roupa e mergulhou abruptamente naquela lagoa cristalina. Lavou todo o corpo com certa delicaleza, sentia o frescor da água, levar toda sujeira daquele corpo envelhecido pelo tempo. Saiu da lagoa com o corpo ainda molhado, vestiu os mulambos e caminhou apressadamente para o seu casebre.
Ao chegar em casa, deixou o toucinho e o sal no colo da companheira, a querosene guardou num armário de aroeria. O sabonete num gesto romântico, entregou nas mãos da amada. Ela não disse nada, apenas sorriu com os lábios fechados.E a pinga guardou numa velha prateleira de ipê.
Tomou uma golada de café, acendeu o cacimbo de barro e o começou a olhar o horizonte avermelhado. Resmungou entre os lábios cerrados, levantou silenciosamente pegou a enxada e colocou nas costas, a moringa na outra mão e partiu para a roça.
O cálido sol primaveril já havia escondido atrás da serra, quando retornou para casa cansado, suado e sujo. Comeu um prato de arroz, feijão andu com torresmos. O cansaço tomou conta do seu envelhecido corpo, se jogou na rede e em pouco tempo roncava como um porco.
O homem rude mais uma vez foi despertado pelo canto do galo, e repetiu mais uma vez a velha rotina de sempre, crendo que o amanhã será melhor que o hoje.
E sempre sonhando que um dia terá um berço nas estrelas.

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