OBEDECER A DEUS OU AMAR AO PRÓXIMO?
É POSSÍVEL FAZER OS DOIS AO MESMO TEMPO?
*Por Antônio F. Bispo
Na teoria seria possível todos obedecerem a deus e servirem uns aos outros, tratando-se de igual para igual. Na prática isso é impossível! Deus, segundo o conceito bíblico é segregacionista e para obedecê-lo temos de repetir tais ações “amando” a quem nos ama, e aborrecendo quem não concorda conosco. Esse tipo de relação é baseado apenas no princípio da conivência cega, submissão incondicional e amputações do Eu, e não da lucidez e respeito nas relações entre as partes envolvidas.
Todos quantos deixaram de fazer parte dos grupos religiosos onde esse deus é servido quase que de modo forçoso, sabem muito bem a veracidade e intensidade desse tipo de “amor” apresentado pelos tais. Os que de forma livre e espontânea rejeitam na lata esse tipo de evangelho e a submissão forçada pelos representante desse deus, também já tiveram o infortúnio de medir o tamanho do “amor” dessas pessoas.
Numa hipótese subjetiva apresentada pelos que dizem acreditar em deus, seria possível todas pessoas servirem a deus e viverem em comunhão umas com as outras. Na realidade dos fatos isso nunca existiu e nem vai existir jamais, pois amar ao próximo e obedecer a deus são duas coisas que não dá pra se fazer simultaneamente por uma mesma pessoa se levarmos em conta o modelo de deus bíblico adotado pelos ocidentais.
Desde os tempos bíblicos, o conceito de servi-lo estar intrinsicamente associado a destruir, subjugar, escravizar, condenar ou manipular nossos semelhantes ou pelo menos aqueles que não se dobram a esse conceito de deus do antigo testamento.
Nas sociedades cristãs atuais o conceito de servir e obedecer a deus se tornou um pouco mais vago e suave, e cada um pode dar a interpretação que melhor lhe for conveniente sobre esse termo para atrair públicos diferentes ou faturamento financeiro ilimitado. Desde explorar ou ser explorado de todas as formas, infringir ao próprio corpo restrições que mais parecem torturas, até manter ritos litúrgicos insignificantes e ineficazes, isso tudo pode ser considerado obedecer ou servir a deus.
No passado, o conceito de obedecer a deus era bem claro e decisivo: matar ou morrer em nome dele para que o seu nome fosse conhecido entre os povos pelo terror que esse nome causava. Dentro desse pacote de expansão do monopólio desse deus, valia todo tipo de barbáries cometidas contra a vida e a ordem social: estupros, genocídios, invasão de propriedades, posse de pessoas para servirem de escravos braçais ou sexuais e todo tipo de tortura aos “infiéis”. Até hoje alguns dos “primos” dos cristãos, dizem que deus é grande cada vez que comete os mesmo delitos que seus “heróis da fé” do passado.
Vale ressaltar que tão logo esse deus se fazia conhecido para outros povos, logo autorizava a matança a tais povos para provar o quanto ele era grande e poderoso, e inclusive os obedientes do seu próprio povo que cumpriam à risca os mandamentos desse deus, cedo ou tarde iriam também acabar sendo vítima de sua ira irracional, sendo morto de alguma maneira por quebrar algum das centenas de exigências que ele fazia.
No passado, o convite para obedecê-lo não era propriamente um apelo para ficar rico ou viver bem como se ensinam hoje nas igrejas que mais se assemelham-se a casas de apostas. Era um convite para morrer em guerras desnecessária em honra de seu nome para que todos soubessem o quanto ele era grande. Difícil é imaginar como os inimigos do “povo de deus” iria declarar que esse deus era grande estando silenciado pela morte.
Para os do “seu povo” que morriam obedecendo tais ordens restava apenas a memória contada pelas gerações posteriores como sendo homens cheios de bravura, que lutaram e morreram em nome do seu deus, já que até então eles não serviam a deus pensando nos céus ou no inferno. Esse conceito ainda não tinha sido propagado até aqueles dias, e inclusive a maioria dos grupos de judeus ainda não aceitam até hoje tais conceitos e servem ou obedecem a deus com objetivos diferentes dos cristãos.
Para quem ainda não se deu conta, quase todas as passagens bíblicas do antigo testamento em que estivesse ligado o conceito de servir a deus, ali haveria também um rastro incalculável de mortes, dores, sofrimentos e destruições aos povos vizinhos ou as pessoas do mesmo grupo, caso esses viessem a se desviar ainda que um milímetro dos mandamentos desse ser.
Na idade média esse conceito ganhou forças e proporções nunca vistas antes e as pessoas destruíam ou oprimiam umas às outras a fim de se encaixarem nesse conceito de obedecer a vontade de deus. A recomendação de amar a deus e amar ao próximo citada por Jesus segundo os evangelhos estar em opostos extremos, se tornando praticamente impossível cumprir os dois se levado em conta o conceito antigo de obediência ao referido deus.
Nos moldes de serviço ao deus bíblico padrão, todos que decidem servi-lo terá sempre de apontar uma espada para alguém ou para si mesmo como forma de obediência. Então você destrói, humilha, escraviza ou mata outros para servi-lo, ou faz tudo isso a si mesmo, vivendo sob um conceito de pecado, demonizando tudo, atacando todos, e reprimindo os próprios instintos e emoções humanas naturais aos indivíduos em fases ou situações diferentes da vida.
O conceito de deus universal bonzinho, pacifico, compreensivo e cheio de misericórdia é fruto de uma convivência com vários ramos das filosofias do extremo oriente e não do resultado de uma evolução do comportamento do deus bíblico padrão adotado pelos “filhos de Abraão”, até por que segundo a bíblia, deus não muda! A construção da personalidade de Jesus é apenas uma meio de tentar vender um mesmo produto com um rótulo diferente, tanto é que chegam oferecendo os céus e se recusares te ameaçam com o inferno para inibir as mentes já domesticada desde o berço.
O contato com linhas filosóficas de seguimentos relacionadas ao budismo, xintoísmo, taoísmo, confucionismo e outras mais recentes como a Seicho-No-Ie que inclusive são demonizadas por boa parte dos cristãos é que são responsáveis por suavizar a ideia do deus hebreu em sua forma natural. Se não fosse isso, possivelmente ainda ele seria retratado em sua totalidade pela sua real personalidade descrita no antigo testamento. Hoje temos um deus flexível, que pode ser “incorporado” por um hippie que diz que deus é paz e amor até um extremista cristão ou mulçumano que afirma que ele está te vigiando, esperando apenas você tropeçar para te castigar.
Dessa mistura de conceitos vagos sobre ideia deus de todas essas linhas de pensamento, muitos cultuam hoje uma divindade mais politizada que alguns costumam chamar de deus da Nova Era. Mesmo assim, aquele deus “brabão”, sempre irado, é carregado as escondidas nos alforjes dos grupos religiosos pronto para ser lançado como dardos inflamáveis, ou para serem usados como porretes para dar na cabeça de quem pacificamente não aceitou sua oferta com “amor”.
Assim, nos dias de hoje, os grupos cristãos primeiro apresentam o deus moderninho que ama a todos e pai de todos e quando se sentem rejeitados, usam o deus bíblico do antigo testamento como recurso final e partem para ameaças, para hostilizações verbais, com rogos de pragas, condenando todos a um castigo eterno ou se auto intitulando filhos exclusivos desse deus, e o tomando como objeto de uso particular e potencialmente destruidor para quem rejeita essa mensagem.
Entre os grupos cristãos, quem mais costuma fazer uso desses artefatos com forma de conversão forçada são os de linha evangélica pentecostal ou os da crescente linha do evangelho da prosperidade. Rejeite uma explanação de um pregador pentecostal em seu show de “pirotecnia”, enquanto esse prega e entrega profecias ameaçadoras e sinta a fúria desse deus se derramar sobre você. Se recuse a ser explorado financeiramente por um vendedor de bugigangas gospel e do mesmo modo seja ameaçado com toda sorte de pragas e doenças terminais possíveis.
Pessoas bem intencionadas em sua grande maioria quando pensam em servir a deus, logo pensam em atitudes altruístas e se imaginam servindo aos seus semelhantes dentro dos seus limites, e em certos casos indo além deles pelo bem alheio. Essas pessoas em secreto são chamadas de ingênuas por aqueles que a estão manipulando em nome do sagrado. São pessoas de coração puro e boas intenções que logo entrarão em choque entre aquilo que acreditam e o que são ensinadas a fazer dentro desses recintos.
Muitos dos que hoje não fazem mais parte de segmento religioso nenhum ou se assumem declaradamente ateus já fizeram parte de algum segmento religioso cristão, já foram pessoas fervorosas que com todas as suas forças dedicaram tempo, atenção ou recursos financeiros acreditando ser possível estar servindo a deus quando estavam a servir aos seus semelhantes naqueles recintos. Quando perceberam que estavam sendo ludibriadas, pesquisando a origem de suas crenças viram que estavam apenas sendo massa de manobra, resolveram se ausentar de tais agrupamentos e hoje são chamados de filhos do demônio apesar de ainda se manterem com a mesma pureza de intenções que anteriormente.
Há muitos que até hoje pensam em obedecer a deus nesses recintos, mas logo terão de escolher entre obedecer a deus, servir aos líderes religiosos ou amar ao próximo. Fazer os 3 ao mesmo tempo é impossível pois um conceito anula o outro no sentido original do pensamento.
Indivíduos de caráter ilibado e coração generoso são frutos de uma boa educação familiar ou decisão pessoal do próprio ser e pode ser encontrado em qualquer segmento social e não apenas nas igrejas como erroneamente fomos ensinados a acreditar. As igrejas não são capazes de produzir pessoas com tais frutos de caráter tendo como exemplo representantes que usam ameaças de castigo e recompensa como moeda de troca, sejam esses representantes seres metafísicos ou pessoas comuns.
Os que constroem seu caráter e honra baseado apenas no temor a deus logo irão mudar de caráter quando perceberem que a justiça de deus não existe para castigar os que usando seu nome fazem coisas horrendas.
Quem constrói seu caráter baseado no temor a deus será capaz de fazer as coisas mais absurdas possíveis. Quem constrói seu caráter baseado nas relações de harmonia com seus semelhantes será de uma confiança bem maior, e irá manter o mesmo comportamento dentro e fora dos círculos religiosos, estando ou não supervisionado por qualquer pessoa.
Obedecer a deus ou servir ao próximo? A decisão é sua...
Saúde e sanidade a todos!
Texto escrito em 25/11/17
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