“Há prazeres espirituais e sensuais, honestos e defesos. A inteligência cultivada, a instrução variada, os sentidos nobres do coração, a pratica de ações virtuosas, a saúde vigorosa, a jovialidade, a posse de riquezas, uma vida ditosa, são fontes de muitos e variados prazeres, que só serão repreensíveis quando deixarem de ser honestos.”
Dicionário de sinônimos ─ J. I. Roquete e J. da Fonseca
Edição portuguesa ─ 1848
Dia a dia o sistema vigente, criado para manter a humanidade presa num status quo de ilusão, nos empurra para a anedonia ou a perda da capacidade de sentir prazer. E o fenômeno é crescente.
Nos bares e nas chamadas baladas, no excesso de trabalho sob a capa de garantir a sobrevivência, em atividades físicas sob a desculpa de cuidados com a saúde, o que vemos são fugitivos deste mal que inadvertidamente caem em outra armadilha: a da satisfação dos desejos a qualquer preço.
Ao mesmo tempo somos empurrados dia a dia para uma luta sem quartel degladiando-nos como inimigos. Como ensinou Rudolf Steiner, se continuarmos desta forma “nossa atual época e sua civilização serão destruídas pela guerra de todos contra todos”.
Enquanto o prazer é uma sensação, o desejo é uma emoção e a espontaneidade uma atitude.
O desejo sem controle é iníquo, porta aberta para a ilusão mundial. Dele nasce o egoísmo que é senhor de muitos males.
Já o prazer natural é espontâneo. Como quando, no amanhecer de um novo dia de primavera, se contempla uma flor nova no jardim ou se sente a beira-mar o sol quente no corpo nu.
A menina que corre solta com os cabelos ao vento vive o prazer; o corpo liberto de atavios e entregue ao êxtase está no prazer. Dessa forma a condição para o prazer é a liberdade.
Os neurotransmissores liberados no cérebro e que proporcionam a sensação de prazer só o fazem quando, mesmo que apenas por um instante, o indivíduo permite-se vivê-lo.
Epicuro, o Mestre, ensinou que o prazer é o começo e o fim de uma vida feliz e que viver bem é aprender a gerir os prazeres. Não a libertinagem, mas a vivência baseada na prudência. Ainda citando o filósofo: “não existe vida feliz sem prudência...”.
Mas nossa relação com o prazer é hipócrita e contraditória. Hipócrita, pois no nível privado se pode fruir do prazer enquanto que coletivamente isso é reprovável; e nem falar sobre isso pode.
O culto a ataraxia como negação à dor deveria ser implantado por todo aquele que busca a liberdade interior, caminho para a felicidade.
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