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Em uma padaria qualquer
T. Richter

A TV da padaria onde eu degustava um generoso pedaço de pastelão estava sintonizada em um desses programas vespertinos que aparentemente tem como público alvo gente cuja prioridade na vida é pintar uma das paredes da sala de laranja porque “está na moda” além de “dar outra vida para o ambiente”. O volume alto não me dava sequer a chance de não ouvir o que era diziam.
     No programa, uma auto intitulada “organizadora profissional” era tratada com toda deferência e consideração enquanto dava dicas para arrumar quartos de crianças que qualquer dotado de um mínimo de criatividade e bom senso seria plenamente capaz de pensar por conta própria, como colocar todas as peças do mesmo brinquedo de montar em uma mesma sacola.
      Desanimado, mastigo o último pedaço do pastelão. Afinal, em uma época em que organizadores profissionais são louvados, enquanto intelectuais e pensadores são detratados e desdenhados, pensar por conta própria talvez seja pedir demais, ainda mais se tratando desse crescente número de pessoas cuja escala de valores prioriza banalidades e só entendem como realização algo relacionado ao campo afetivo, cujos padrões parecem moldados a partir de novelas e melosas comédias românticas.
     Termino meu refrigerante em um longo gole. Li em algum lugar muito tempo atrás algo parecido com “maldito do homem que nasce em tempos malditos”. Eu diria que duas vezes mais maldito é o homem (e digo homem no sentido mais geral, de indivíduo ou ser humano) que nasce no tempo da esmalteria, da pipoca gourmet e do livro de colorir para adultos.
     Um atendente do estabelecimento me pergunta se desejo mais alguma coisa. Respondo que não, agradeço e saio para o sol quente desse começo de tarde, enquanto na televisão a organizadora profissional explica, de forma professoral, que devemos colocar todas as peças de um brinquedo de montar na mesma sacola, senão algumas podem acabar sumindo.
                                Setembro, 2017


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