Heroína
Para que depois não digam que sou menos
Eu mesma afirmo, pois não me há coerência
Entre querer e o fazer, e o comer pão e feno,
Ter ou não ter beleza foge de minha ciência
Quando conserto um defeito, outro mais grave,
Mais complicado de resolver, mais um entrave
Vem mostrar que meu mundo de afeto carece
E, embora reze, isso não se resolve com prece
Você, cujos olhos eu amo, agora me desconsidere
Envelheci, morri e continuei envelhecendo, ruínas
É tudo que sou, nada permanece, nem nada sugere
Perdi-me no passado, projetando, dolorida rotina,
Momentos de amor, felizes, e, mesmo que célere,
Nunca paz eu tive, despetalei-me, foi-se a heroína..
19h07
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