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Universo, tédio e existência
Rafangel


   E vivemos neste mundo. Nesse Universo sem fim. Nos amando e nos odiando. Passamos nosso tempo a inventar ideias e engenhos para nos distrair do tédio eminente.        Trabalhamos com a ideia de construção, onde cada um com seu trabalho deposita um pequeno “tijolo” nesta colossal obra, chamada sociedade. E há aqueles, que por descaso ou ganância, tendem a roubar o “tijolo” do outro, para assim construírem suas próprias moradas... E vivemos aqui, a esta maneira.
   
   A Terra gira, o Sol aumenta em chamas, os planetas se transformam, as estrelas explodem e ora morrem e ora vivem. E o Universo vai se alargando num tempo diferente do nosso, se expandindo num infinito tão grande, que não existe ainda termos aqui, neste planeta, para defini-lo. E somos frágeis e vulneráveis ao Universo. Somos como microrganismos, ora benéficos, ora maléficos. E somos assim. E negamos a nos sucumbir as bruscas mudanças que nos levariam ao extermínio. “Enfrentamos” a doença social e física: arrogância, pecado, doença, câncer, guerra e pestes. “Enfrentamos” a tudo isto. E o Universo continua silencioso a nós, expandindo-se em avanço desconhecido e misterioso. Enquanto nos agarramos a ideias, preceitos, profissões, sonhos, status, relacionamentos, estilo de vida, moda, dramas, sortilégios ou simplesmente a fatos banais, como uma simples fofoca ou um filme que nem se quer sabemos o nome, tudo isto, para provarmos a nossa existência, provar que estamos aqui afinal de contas. Mas provar para quem? Após uma pausa, se descobre que fazemos o que fazemos para provar a nossa existência, a ninguém mais que a nós mesmos, fugindo assim do temido tédio, que aos poucos se torna o existir, o “eu” e o que esse “eu” é de fato. E de sobre como transcender este “eu” a um estado de apoio, fixação e adaptação. Adaptar-se! Então?! Seria este o termo? Adaptamo-nos a isto tudo, ou tudo isto se adapta a nós? Somos cegos? Ou a cegueira é apenas parte de nosso ser?! E o Universo se expande, enquanto permanecemos aqui! Nos amando, nos odiando, nos embriagando, nos fazendo existir, para provar cegamente a nós mesmos esta tal existência.
     
   Desde que deixamos a infância, passamos a provar direta ou indiretamente aos outros e fundamentalmente a nós mesmos, que nossa existência é um acontecimento inegável, e que sim! Eu existo! E provo isto com o simples fato de respirar? Provo isto com meus atos, com meus fracassos e conquistas que aos olhos dos outros, inspira desdém, inveja, motivação ou idolatria exacerbada. E o Universo continua a se expandir! E a criar novos tempos, novos planetas, novas esferas de existência. E nós como hospedes ou inquilinos da Terra, criando nossos meios de fugir do vazio e do silêncio. Tudo isto para fugir do tédio, pois o tédio é a porta que dá acesso ao “eu”. O tédio é o como os preparativos do mergulho em nós mesmos, no núcleo de nossa própria existência. Fugimos do tédio com o medo cego de nossa descoberta, pois sabemos, sem uma consciência concreta, que ao emergirmos desse mergulho interno, regressaríamos diferentes. Voltaríamos com vassoura e balde em mãos, prontos para limpar esta bagunça chamada vida, ou melhor, uma bagunça sistematicamente organizada, chamada vida... E as estrelas continuam a explodir como corações pulsantes e flamejantes, e os planetas se renovando, uns se extinguido, outros sendo engolidos por uma fenda no espaço e indo se aventurar em outros tempos. E há também planetas virando pó ou amontoados de pedregulhos soltos no espaço. E nós, agregados do planeta Terra continuamos parcialmente a mercê de tudo que acontece na nossa vizinhança espacial, pois a Terra é semelhante a uma “casa” sem janelas, completamente fechada, onde nos abrigamos em seu interior, com medo da forma sem forma do manto negro e das luzes que nele vivem lá fora.
   
   Criamos “presos” a esta casa, mitos, suposições e teorias do que habita do lado externo. Criamos meios e mais meios de evitar que o pó que venha do lado de fora adentre pelas frestas da casa e invada os móveis da mesma. E permanecemos ali.
    
   Corajosos abriram pequenas fissuras nos telhados e paredes para observar minúsculos espaços do externo, mas quase nada viam. Outros saíram pela porta ate o portão de entrada da casa por alguns instantes, e quando voltaram foram aclamados como heróis, mas pouco eles disseram sobre o externo escuro. E quando subitamente algum “visitante” bate a porta, corremos para os quartos e andares de cima da casa, ligamos nossos aparelhos de som e imagem, cantamos nossas canções favoritas, fofocamos da vida alheia, idolatramos, rimos alto, lutamos e gritamos, tudo isto para desviar nossa atenção e abafar o som das batidas na porta. E quando as mesmas se cessam, e o “visitante” parece enfim ter se distanciado, paramos e nos entreolhamos como se imprimíssemos um longo questionário de nós mesmos sobre a face dos que no rodeiam. “Acalmamos” novamente e retornamos rapidamente com as nossas ocupações, mas ainda sentindo aquela fisgada dolorosa no estômago.

   Assim prosseguimos nesta enorme “casa”, alheios do resto, pois estamos com pressa de provarmos nossa existência antes do fim. Do fim? Seria a morte? Mas se mergulhamos novamente nas águas do “eu”, retornaríamos com a resolução de que o fim, ou morte, como assim denominamos, é algo superficial demais para definir em tal termo, já que um cadáver morrera em parte, pois ninguém sabe o que se passa com a essência do mesmo. Um morto seria muito além de um corpo inanimado. Seria o mesmo uma resposta da transmutação que ocorre a nós, e a tudo? Ninguém pode explicar ainda. E enquanto, isso o Universo se expande, sem limites, enquanto continuamos aqui.


Este texto é administrado por: Rafael
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