O riso era solto e alto. Ali não era momento para falar de crise política e econômica. Era o encontro mensal das seis amigas da época da faculdade de direito. Todas riam, comiam e bebiam, menos Marina que parecia cabisbaixa e pediu só uma água, estava sem fome e um tanto enjoada.
Janete questionou se era gravidez. Marina sabia que não, estava assim por causa de uma dor de cabeça infernal, mas já tinha ido ao neurologista, fez exames e estava apenas aguardando os resultados.
No dia seguinte, logo cedo, Marina recebeu os exames pelo motoboy e foi direto ao médico.
- Neoplasia no meu crânio, Doutor, o que é isso? É grave?
- É câncer, filha. É um tipo de câncer que se infiltra nas células e tem uma capacidade de se espalhar muito rápido pelo corpo, possivelmente seu organismo não vá aguentar nem a quimioterapia.
Marina saiu de lá petrificada. Convocou as amigas para o mesmo dia. Todas foram, todas choraram juntas, menos Janete, que
sempre foi a mais insensível e prepotente, talvez porque era a única a se tornar delegada de polícia, mérito do qual sempre dava um jeito de se gabar em todos os encontros.
- Marina, sabia que câncer tem tudo a ver com o emocional? E você não é uma pessoa muito equilibrada, né? Mas olha, somos amigas, diz como quer seu funeral que vamos fazer tudo direitinho.
Marina voou por cima da mesa no pescoço de Janete, a cadeira virou, elas caíram no chão e Marina conseguiu alcançar a arma na cintura de Janete. Foram dois tiros no peito.
No meio da confusão e gritaria, o celular de Marina toca, era seu médico.
- Marina, filha, me escuta. Esses exames que você pegou ontem foram trocados, são de outra paciente, acabamos de descobrir aqui. Olha, foi só um susto, você não tem câncer, é só uma cefaleia comum.
Nunca mais o grupo se viu. Janete foi cremada. Marina, condenada e presa. As outras se afastaram.
|