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  Texto selecionado
Um amor de cinema
Projeto Memoria Viva
Paula Santos

Resumo:
esse poema faz parte do Projeto Memoria Viva, uma História de cinema, e fala do primeiro amor de um menino por uma personagem de um filme, e por conseguinte o seu amor pela arte do cinema, e da nostalgia da sua infância na cidade de Campinas, interior de São Paulo.

Ao meu primeiro amor dedico esses versos.
Ao meu primeiro amor me declaro hoje e agora e mais uma vez.
Quando eu a vi.
Foi como se eu enxergasse pela primeira vez.
Tudo o que eu havia visto até então eram borrões.

Cinema cinética desvairada.
Ciência dos movimentos das palavras,
Inúmeras histórias numa caixinha de sonhos.

A cada rolo de filme uma nova aventura,
A cada projeção de luz, um frio bom na barriga.
Uma ansiedade que eu conheci menino.
Quando aos sábados de manhã ia com papai ao Cine Voga,
Logo ali na Avenida Anchieta.
Papai assim como eu adorava filmes.
Por isso digo com satisfação que eu estive em todos os Cines da minha Campinas.
Fecho os olhos e vem tudo na memoria como um filme daqueles que já não fazem mais.
Lembro de Mamãe vigiando nossa brincadeira no quintal,
lembro do olhar sério e ao mesmo tempo carinhoso de Papai,
lembro da rua de terra e da chuva fazendo lama, de como era bom o cheiro,
lembro das vizinhas mexeriqueiras recostadas nas janelas, olhando os namorados passear,
lembro de tudo como se tivesse sido a poucos minutos.
Do gosto da comida de Mamãe, gosto tão bom que nunca mais provei igual.

De gastar minhas ricas moedinhas que ganhava ajudando Papai no Mercado Municipal.
Eu ia todos os dias e não ficava mais que 1 hora,
Papai era rígido quanto aos meus estudos,
Eu me sentia homem feito quando ajudava as senhoras a escolher fruta madura,
e me sentia orgulhoso em ostentar minha riqueza enchendo meus bolsos de bala Juquinha.
Ainda lembro o cheiro bom da pipoca quentinha.
Das sessões do marinheiro Popeye que brigava com o fortão Brutus.
Pelo amor de sua musa alta e esguia com voz engraçada e bom coração.
Que saudade das brincadeiras de a tardezinha,
Ser Simbá, ser caubói, correr pela praça como se fosse o Coliseu.
Ser o herói da cidade, brindar com os companheiros mais uma vitória.
Num dia eu era o Zorro, noutro o Corcunda que badalava os sinos da Catedral.
Corria pela Estação Central procurando com esperança e ingenuidade a pequena Ana.
Tinha em meus secretos sonhos vontade de me aventurar com ela.
De correr voar em um balão de ar e tocar as nuvens.
Tudo era Mágico no auge de meus 08 anos de idade.
Meus bigodes de leite eram tão grossos como o de hoje em dia.

O Cinema é desejo do Homem de ser imortal,
desejo de Eterna Juventude, parar o tempo,
e viver e reviver quantas vezes quiser seus melhores momentos.
Cinema é uma das várias formas de inquietude da alma humana,
uma quimera de desejos e anseios.

Olhem para ela, Ana, menina tímida, sorriso incandescente.
Olha feliz, sem saber que o tempo é implacável.
Corre pelos corredores do seu castelo.
Sua casa de boneca de porcelana em pleno apogeu,
sem se dar conta de que tudo que existe em sua realidade agora é passado.
Sem se dar conta de que o tempo é implacável e cruel.

Ei psiu, olha para mim, por favor, ao menos por um segundo,
se o fizeres eu serei o menino mais feliz do mundo,
Se o fizeres eu prometo congelar o tempo e contemplar o seu olhar para sempre.
Mesmo que o sempre seja só um momento.
Prometo nunca enquanto eu viver.
Que nunca, nunca, nunca vou me esquecer.
Do breve segundo em que eu tive o seu olhar só para mim.

Te guardarei em meus melhores sonhos,
Te guardarei em cada batida do meu coração,
Em cada sopro de ar,
Em cada passo que eu der,
Meu amor por você é fraterno, é bom,
O mais puro que eu já senti,
O meu primeiro e por isso o mais especial de todos.

Seus olhos continham um brilho tão raro,
A sua beleza era e ainda é a mais encantadora que eu já,
Como eu queria correr contigo de braços dados pela campina.
Como eu queria te contar os meus segredos.

Xiiii a luz já se apagou e sessão já vai começar,
Já estou munido com meus drops e mentex, tudo certo.
Menina queria voar contigo, viver seu sonho.
Já é a décima vez ou mais que eu convenço papai a me deixar de assistir esse filme.
Já sei de cor cada palavra antes mesmo de dizê-la.
Já sei de cor suas feições.
Já sei de cor as manhas.
Já sei de cor o que te faz feliz e o que te faz infeliz...
E o que eu ainda não sei invento.
Quer que eu prove?
Gosta de comer a cobertura do bolo.
Não gosta de cebolas, elas te fazem chorar.
Gosta de brincar de girar com a sua boneca toda enfeitada.
Mas na bolinha de gude, de longe é a mais esperta.
Não gosta de ficar de cama doente.
Gosta de pular na água em dia de chuva.
Gosta de subir em árvore e comer manga do pé.
Gosta de sorvete em dia quente, de chocolate.
Gosta de inventar histórias de rainhas e reis.
Gosta de mais coisas que eu inventei, do o que eu assisti no filme.

O cinema tem dessas coisas de ficar na cabeça da gente.
De fazer a gente sonhar acordado.
De fazer a gente ficar feliz e torcer pelo novo amigo.
E ter que se acostumar com amizades de 90min.
Amores que duram a vida toda e que nunca envelhecem.
Essa é a magia que nos arranca sorrisos só de lembrar como esse tempo era bom.
É disso que se trata.

Mesmo hoje homem feito, barba grossa da idade,
ainda amo aquela película,
A menina que me encheu os olhos ainda é a mesma,
A estação ainda existe, o bonde não mais,
A cidade está aqui, e eu estou aqui,
Vi crescer, e eu cresci.
Dos cinemas que eu fui... hoje só tenho lembranças.
De todos eu sei de cor onde ficam.
De todos me lembro com saudade.
Dos Cines que eu ia com Papai no sábado de manhã.
Das brincadeiras de mocinho e bandido.
Dos filmes de ficção que me fizeram alçar vôo.
Dos rolos de caubói que ainda me deixam sem fôlego.
Podem me arrancar tudo, mas esse gosto não pode tirar.

Os filmes estão em mim, assim como o ar que eu respiro.
As histórias que eu assisti agora fazem parte da minha própria história,
As aventuras que eu vivi, querendo ser como o meu herói preferido,
As viagens que eu fiz, para provar que eu também podia ser um explorador.
Os estudos sem fim para compreender melhor os meus amigos de 90min.
E tudo mais que movimentei, para provar pra mim e para o mundo.
Que eu sou capaz de realizar meus sonhos.
Isso ninguém pode tirar.
Quando eu a vi,
Numa tela grande de cinema, fiquei hipnotizado, nunca mais fui o mesmo.
Lembro-me como se fosse hoje.
Foi como se eu enxergasse pela primeira vez.
Tudo o que eu havia visto até então eram borrões.
E quando eu aceitei que estava apaixonado... tudo ficou claro.

Ao meu primeiro amor dedico esses versos.
Ao cinema e aos filmes por toda a vida me acompanharam.
Aos cinemas que hoje não existem mais, ao ritual de acordar cedinho no sábado.
Para não perder a primeira sessão de desenhos de aventuras.
Ao cheiro da pipoca quentinha que parecia ter algo a mais na minha infância.

A cinética desvairada que movimentou meus pensamentos.
Ao meu primeiro amor mais uma vez me declaro hoje e agora e sempre.



¬¬










Biografia:
estudante de audio visual, analista telecom e escritora em muitos momentos da minha vida.
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Poesias Um amor de cinema Paula Santos


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