APRENDENDO A VIVER
Nunca pedir um minuto de paciência
Porque ter paciência é disposição eterna
É se entregar ao relax de si mesmo
deixando o acaso correr a esmo
deixando acontecer o tão esperado
desejo de que tudo vai dar certo
Sem paciência não se vive nem se respira
porque vivemos sempre buscando
o que de tão natural nunca nos encontrando
leva parte de nós nessa busca eterna
na qual só a paciência é a grande vilã
Paciência... Paciência! Paciiiência.....
A mesma palavra em três momentos
que externando diferentes sentimentos
cresce em nossa alma a capacidade
de vivermos a tristeza ou a felicidade
sem grandes ímpetos de fragilidade
Paciência é também ato de bondade
é tolerância perante o insucesso
é aceitação quando não há progresso
diante da intemperança de vencer
Paciência é esse lento adormecer
que nos acomete após o cansaço
Paciência é uma forma de se morrer
sem ao fracasso se dar o braço
Paciência é enfim e eternamente
a única forma de se viver em paz!
PERGUNTAS, DÚVIDAS, INQUIETAÇÕES
Há tantos prazeres buscando
um espírito que lhes dê repouso
que eu às vezes busco na escrita
um simples momento de pouso
Mas a escrita é muito ampla
quer prazer e até desconsolo
há tantas flores no campo
que mal lhes vemos o miolo
Meu íntimo é um remo expulsando
de sua frente os impecilhos
talvez eu palmilhe grandes trigais
da ida talvez eu guarde
a ânsia de mil andarilhos
Todos nós somos iguais
Meu espírito clama por sossego
Quero ser feliz, viver em paz
numa roda de amigos, ver minha família
na minha família, só ter amigos
quero palmilhar pelas ruas e travessias
plantar em meu jardim uma simples tília
e esquecer, outras flores até desconheço
Minha pessoa é um enigma indecifrável
e eu tento me entender todos os dias
e a cada dia torno-me mais confusa
a sensibilidade é uma arma poderosa
manipula nossas palavras
perde-se e anda perdida dentro de nós
se nós a usamos, mais ela nos usa
e de tanto nos usar – de nós até abusa!
Um dia, chegarei a me entender
Quem sabe?
TEMPO DE MUDANÇA
Se é verdade que no dia do aniversário
a vida recomeça, refaz-se ou reconstitui-se em nós
bom seria que nesse dia ou a partir dele
a vida se transformasse e nela se desfizessem os nós
E de mãos dadas caminhássemos,
entrelaçados a nossos amigos, nossos queridos
perto dos quais raramente sofremos.
Todos os dias alguém faz aniversário
Senão nós, um amigo, um parente, um desconhecido
No entanto a vida prossegue, no dia comovido
Sem novidades, sem mudanças, sem emoções
e todos os seres se mantêm iguais
como se tivessem passado apenas
mais um um dia de suas vidas.
Aniversários marcam números no imenso
painel dos meses, do ano, do tempo
em que sempre se vive sem tempo, vivendo
para recuperar o que vem depois: E o que vem?
Às vezes apenas, um outro aniversário.
NO MAR DOS DELÍRIOS
Meus delírios me fazem companhia
São raios de sol numa tarde fria
São uma brisa que vem ao meio-dia
aliviar as tensões do amanhecer
preparar-me para a tarde e a noite que chegam
às vezes antes do entardecer,
trazendo risos, prantos ou saudades,
eflúvios de tantas sensibilidades
sinais que fazem ou fizeram sofrer
E não me venham convencer
de que sem meus delírios eu viveria
não me tentem, pois dizer
que sem eles eu até ficaria
rindo, chorando, sem me comover
Meus delírios são calados no papel
ressurgem na tela do computador
São suaves, não cobram não exigem
nada além do que chamo de amor
nada além do que ou é prazer ou dor
Lágrimas suaves deslizantes pelo rosto
transformadas num sorriso a gosto.
cujo gosto alivia o meu sofrer.
Meu delírios: simples expansão de sentimentos
encalacrados no peito
buscando no tique-taque sua libertação
Alívio suave para esta emoção
que se não quer perder sem sentir-se forte
ante a vida, incapaz da morte
porque morrendo o poeta, morrem os delírios
e a sensibilidade cai no mar do nada.
HORA DA SABEDORIA
Meio-dia: Hora de rezar
Meia-noite: As bonecas desencantam
Longe, os pássaros nos encantam
Não é de tristeza o seu cantar.
Meio-dia, meia-noite, horas obscuras
no grande relógio da vida
na atmosfera nebulosa do saber
que sempre buscando saber mais
perde-se na hora, no tempo, que sempre sem tempo
um dia nos fez nascer, para no outro,
nos deixar morrer.
Meio-dia: sol alto, calor a agasalhar
Meia-noite: penumbra, silêncio, sonhar
Dois extremos tem o tempo desde o tempo
em que sem hora se vivia
Meio-dia, meia-noite, que fantasia
Por que saber a hora, se apenas em nós
no interior do eu é que estão a noite ou o dia!
Meio-dia, meia noite: dois ponteiros colados
apontando para o infinito
que também só dentro de nós
se revela ou feio ou bonito.
Continua o mistério, que nunca se elucidou
Pois se é mistério, nada o esclarecerá
Meio-dia, meia-noite, falem filósofos, magos ou deuses
Nós, homens, quem de Vocês ouvirá
Essa verdade que ad aeternum niguém saberá
e o mais belo é esse não saber e buscar
Na meia-noite, no meio-dia, o tudo ou o nada
que ninguém sabe se ainda vai achar!
ESPAÇO PARA SORRIR
No silêncio deste dia
que já avança no solaço
ainda não se achou o espaço
para o meu sorriso bonachão
sorriso de bouche à l´oreille
Como é bom sorrir assim
afastando pra longe as dores
alastrando o que há de bom
dentro de mim.
Mas o dia já vai alto, no entanto
Meu riso permanece adormecido
terei deixado lá no fundo vencido
o meu tempo de ser feliz?
Não, não sei se foi a vida que quis
se meu destino de mim se encarregou
hoje, ainda não sorri nem chorei
tampouco meu ego despertou
Estranho dia, estranha manhã
leva-me ao vento, bonachã
deixando-me quieta, tranqüila
sem meu peso, sem minha dor
EMANCIPAÇÃO
Ontem, o meu filho se desprendeu do limbo
Coloquei-o, sozinho, no correio; ele viajou
Alcançará destinatários que nele vão ver
defeitos e qualidades que meu zelo desconhece
Meu livro viajou estados e países afora
Emancipou-se de mim que o fiz nascer
só com carinho
O meu livro se foi, foi sozinho encontrar leitores
como um filho que parte, eu lhe disse adeus
mas eu estava feliz porque, anseios meus
alguém a distância o esperava e folha a folha
quem sabe, me revelará o seu interior
Hoje, o livro que escrevi já não é só meu
e foi para este fim que criei aquele mundo
só que o concebi à minha cara, à minha sensibilidade
dotei-o do que pensava e que julgava ser para mim
o correto de minha mensagem
Meu filho se foi pelos trilhos do correio
Destino certo: encontrará um outro pensar
Quem sabe um leitor afeito a desfolhar
a rir, chorar ou repreender minha forma
de um novo mundo em mim criar.
Uma certa dor de despedida fica na mãe
mas um orgulho também lhe sorri
porque foi com este objetivo que escrevi
de nada adiantaria guardar pra mim a minha cria
Um livro é um filho, amor é criação
Felicidade é ter a quem entregar já criado
o filho que palma a palmo foi elaborado
no ventre fértil de nosso interior
Vai, filho meu, espalha pelos caminhos
teus eflúvios de intenções, mensagens
profícuas, fundadas no amor.
FALTA ALGUMA COISA
Numa manhã de domingo, ensolarada
A alegria invade a minha janela
Por que será que, em mim, a manhã não é bela
Por que, para mim, esta manhã não é aquela
que eu gostaria que fosse, toda ela alegria?
A cada dia, quero o dia seguinte
a noite superada depois de um bom sono
A cada manhã eu busco da festa em mim
o retorno, e quase sempre minha festa
tem uma alegria menor do que a sonhada
A manhã, anuncia um dia feliz, ensolarado
Eu, me aquieto lendo tranqüila o jornal
Mal ouço o assobio matinal, que luminoso
me diz que o dia é todo de sol!
Talvez porque nas manhãs de domingo eu sofra
depois de uma semana, o grande cansaço
Talvez não me anime a ver o oposto do mormaço
Porque, pra mim, o domingo é uma tarde
que exige uma transação para o dia seguinte
mas a manhã traz frescor, vontade de viver
um dia de descontração se anuncia pra vida
parece do contra esta espécie de emoção
que, em mim, apaga o que seria festa e se abre
em vontade de dormir por mais duas horas.
Quem sabe, olhando melhor este sol, ao longe
Vendo azul o horizonte, ergo minha fronte
desfaço em mim este desânimo tristonho
e, alegre, disposta ao sol, feliz me ponho
e começo, porque é domingo, a rir e a cantar!
Esquecendo este lento quase chorar
que precisa de incentivo para ser feliz!
CANSAÇO
Este cansaço que chega à noite
depois de um dia igual aos demais
é quase um suspiro lento de paz
de quem fez alguma coisa porque
fazê-la, era parte da obrigação diária
Este cansaço que chega antes da hora
quando as crianças ainda estão correndo
é a prova de que nossa parte fazendo
algo a mais, em nós está crescendo
porque a vida é cheia de obrigações
Este cansaço precisa de um conforto
talvez, de um simples tempo de sono
ou de um simples e leve pousar de cabeça
no colo de quem durante o dia foi ausência.
Este cansaço passará depressa
às vezes num afago ele logo se vai
às vezes, num fechar de pálpebras passa
num carinho, num beijo se revigora
Este cansaço também é fruto deste agora
que passará num lapso de felicidade
num sono profundo, num sonho invisível
capaz de devolver nova vitalidade!
Tudo dependendo do que ou de quem
temos à nossa volta!
.
ACORDAR, SEM DORMIR
Quero dormir, acordada
Acreditando que o sonho, se belo, foi de verdade
Quero pressentir chegar suave e branda a alvorada
E quando me levantar, não quero parecer cansada
Só porque dormi, acordada.
Quero entregar meu pensamento
à noite, à luz azul que azula meu quarto
quando tudo está, em casa, escuro
quero viver no idílio do silêncio
não o dia cheio de preocupações, que já se foi
mas a serenidade de uma noite que também custou a chegar
para, então, dormir acordada
Não importa que seja uma só noite
Não importa, amanhã, me verem fatigada
Importa minha coragem de estar acordada
E tanto quanto os pesadelos deste dia
enfrentar meus sonhos de frente
Sou louca neste querer absurdo
que todos repudiam pela canseira,
talvez desconhecendo que, ao tirar a viseira,
a vida pode se tornar um sonho bom
Sonho que só acordada
à luz da lua no quarto iluminado
será um alívio, um entusiasmo
transformado num bocejo quase de espasmo
de paz e serenidade dentro de mim.
Quero dormir acordada
para sentir meu sonho, ver suas imagens
entender o mar de bobagens
onde o inconsciente verteu
as aflições do meu dia
Ah, será uma noite de rebeldia
Eu acordada, sonhando sem sonhar,
falando sem conseguir calar,
acordada, cuidando para não acordar.
Se essa noite deveras passar
comigo acordada pressentindo
na noite seu segredo em silêncio transmitido
terei, na vida conquistado
o prêmio de dentro de mim eu ter vivido.
CANTO DE UMA CIDADE
Todos amam o Rio de Janeiro
Todos se encantam pela cidade
e por este povo cheio de humanidade
mas sofrendo as ameaças do bombardeio
que de norte a sul dissemina
o coração do carioca, que brasileiro
se dói, se consome se arruína
E se pergunta: por que tal chacina
espalha no ar o carvão da areia
que barrando o imenso oceano
desmistifica tantos encantos
de um povo, que de tiros ameaçado,
prefere na dor ficar calado
achando que a justiça já o esqueceu
Parece faltar resistência
aos homens, e aos céus clemência
para devolver a este Rio de Janeiro
o rufar alegre de seu pandeiro
sentimento feliz , graça eterna
de ser tudo, sendo brasileiro
Quando dormirão sossegadas
as famílias cariocas que lutam
por seu constante ganha-pão
O que elas querem nem é isso não
é paz, beleza e segurança
carioca sempre será criança
dentro de si pulsa forte um coração
CHUVA BOA, CHUVA FRIA!
Chove muito e minha janela está aberta
a chuva é fina e fria, é certa no meu coração
a chuva é uma espécie de emoção
um tremer sem medo,
como algo que busca
em outro ser aquecer
a frieza mensageira
de uma tristeza que ligeira,
de certo, vai passar
quando, de novo, o sol raiar
Ouvir chover, ouvir cair pesada a chuva
arrastada pelos carros passando
é uma espécie de pranto que deslizando
longe, anuncia uma notícia,
que, talvez, desagradável
vem como Pombo-correio
anunciar o que, ainda que passageiro,
trará, no mínimo,, o pranto de uma noite
A chuva caindo assim forte, à revelia
às escondidas da cor do dia já passado
anuncia algo que parece aprofundado
no coração quase despreparado
para mais outro sofrer
E não adianta dizer que a chuva é boa
que rega matas e jardins, que abastece mares
ela sempre deixa um ar frio nos ares
raramente seca suas gotas de repente
sem deixar um leve orvalho no peito
Sem machucar alguém, como eu, sem jeito
para sofrer; despreparado para a dor.
porque não pediu para sentir este calafrio
Esta água caindo como o passar de um rio
molhando praças, ruas e deixando em nós o frio
sentir de leve tristeza.
Esta chuva como qualquer dor passará
deixando talvez a experiência
de que a alegria depois do sofrimento
é uma forma de aquiescência à vida
à conquista maior desta existência.
QUESTÃO ETERNA
Por que é tão difícil às vezes
viver um momento apenas
Por que escolhemos um sorriso
em meio a tantos mecenas
que distribuem simpatia de noite
e, nem sempre, bondade de dia
Por que num momento há a ocasião
Por que num encontro, há a emoção
tantos momentos são iguais, excelentes
e nenhum é como o escolhido das gentes
O ideal para um relax de felicidade
Por que, na vida, existe saudade
se tantos indivíduos são iguais
se tantos prantos e risos são normais
e, no entanto, basta um sorriso
para marcar nossa vida inteira
Há desigualdade até nos mínimos gestos
nos perturbados sim e não da vida
há tolerâncias e intolerâncias, entanto
nenhuma alegria ou tristeza é perdida
Porque de tudo fica um pouco
no ser ou em sua existência futura
Por mais que se busque idealizar
a vida, o mundo ou a perfeita criatura
essa perfeição será transformada
pela visão, pelo sentimento ou pela ternura
Cada ser tem sua visão de ver
sua maneira de ser e não há
como ou por que mudar.
Sejamos quem somos
eternos ou transitórios gnomos
seres prontos para rir, para chorar
ou tão somente a vida viver
Pois viver a vida
é a formula encontrada ad aeternum
para um só indivíduo
diferente da humanidade.
na sua individualidade Ser
TEMPO DE SONHAR
Nas histórias infantis havia a fada
havia a bruxa e também o bem e o mal
no entanto, na infância tudo é tão natural
que encanta, enleva e adormece
nada ao sonho infantil faz mal
pois sonhar é elevar ao céu uma prece.
As Cinderelas vão para o baile
os anões encontram a sua fiel madrinha
nas dificuldades, surge a mesma varinha
e a magia transforma o mundo
com um simples sapato de cristal.
Por que as crianças crescem um dia
se o mundo para elas é sem tempo definido
se suas bonecas têm o mais perfeito marido
e se elas, quando crescerem, serão iguais?
Só não castigarão como seus pais
que aliás, recompensam com afagos e mimos
a repreensão que deram sem pensar
As mães, essas, antes mesmo de brigar
ou antes mesmo de bater, parecem querer beijar.
Ah, e as bonecas de pano, os soldados de chumbo
o papai noel sempre se guardando para tarde
o choro forte por uma ferida que nem arde,
mas se ardesse, seria melhor curada
porque a mamãe tem de dormir sossegada
Por tudo isto e muito mais
Eu queria não ter crescido
mas se eu não crescesse nem saberia
que a criança que em mim já existia
logo se transformaria no que hoje sou eu.
uma saudosista que olha a infância
e não encontrando seu castelo de sonhos
sorri e se encanta de ter vivido
um tempo que, passado, extinguido
se tornou o sustentáculo deste ser
Que muito tempo depois de nascer
se dá conta de quê
talvez fosse errado ter crescido!
MUTAÇÕES
Perdi no tempo todo tempo
Momentos de imaginação
Perdi no tempo todo tempero
do amor sibilado em canção
Quem sou eu, hoje, diferente
de mim, n´outro tempo de vida
Quem sou, eu, hoje tão distante
de uma folha escrita ou lida?
Tudo muda, eu também mudei
Nesta mudança, eu me perdi
O mundo que, agora, vivo
Sequer foi o que construí
Tudo agora me é tão estranho
que no estranho, sinto a falta
daquele mundo menos sólido,
porém, mais louco e peralta.
Tudo, tudo passa e passando,
vivendo ou se transformando
nosso ser, frágil, vai cedendo
a esse mundo que, esmaecendo,
vai nossa vida transformando.
O que, então, fazer nessa mudança
para onde a vida, inesperada, converge
Sorrir, aceitar, acatar passivo o lago
do qual a imagem do destino emerge?
FRIO INTEMPESTIVO
Está ventando, ventando muito
Sinto incomodar-me a fria brisa
Sinto esfriarem-se minhas mãos
Enquanto as folhas arrastando-se
são levadas, poeiras nesses vãos..
Sinto forte frio percorrer-me
Como um vento agudo, perspicaz
que me quer correr todas as veias
nunca o senti assim ávido, jamais!
Frio estranho que sequer parece
vir de fora, cobrir o horizonte
até quase me nevando a fronte
e estremecer-me de tanto medo.
Frio estranho, irresistível
a mim me tornando sensível
desfazendo minha armadura
essa película meio nublada
que encobre minha fraqueza
e me torna um tanto escura.
É frio forte, é vento gélido
quebra todo o forte de mim mesma
Meu ânimo se desfaz em lesma
já nem sei se isto é simples frio
se isto é apenas forte desânimo
Sei que se me abate, se me quebra
de mim a força, de mim o ânimo.
MENSAGEM IMPOSSÍVEL
Há palavras que não se pronunciam
não se sibilam, sequer se murmuram
Com elas só pensamos, só dizemos
de, nós para nós, os nossos segredos
invioláveis a quaisquer ouvidos
que também em estando possuídos
de outros similares grandes enredos
não nos seriam de compreensão.
Há palavras imensas e caladas
no silêncio de nosso fundo interior
São palavras quase de grande horror
nem seriam ouvidas, se ditas
só interessam a nós mesmos.
Difícil é falar do homem, do ser
que consigo mesmo, sozinho pensa
num vocabulário que lhe é pessoal
que tendo de lhe ser especial
só em seu coração ameniza
tantas palavras estranhas e frias
que falando idioma estrangeiro.
em tom solene de tão forasteiro
desconhecem todas as nossas dores.
Há então no mundo um dicionário
de palavras, aos outros estranhas
que em seus diferentes momentos
são ou de alegrias ou de tormentos
mas são vocábulos particulares
seres vivos em diferentes lares
palavras chamadas a nos decifrar.
Mas nosso enigma é profundo
difícil são idiomas se entenderem
capazes de a nós nos decifrarem
Todos nós somos intraduzíveis.
MEMÓRIA
Cheira a café de manhã
Cheira a assados ao meu dia
Cheira a doce à tarde
À noite, a chuva cai.
Vem então o cheiro
mistura de tantos outros
que o dia transportou
deixando neste último
o que melhor / pior passou.
Dele a memória guarda
a permanência daquele dia
Soma-se ainda a ele
o cheiro da chuva fria.
Ah, o fugaz olfato
esse sentido que absorve
das paixões a lembrança
trazidas tão de repente
Num cheiro, o doce contente
ou o azedo inconformado
o perfume inesperado
exalando, às vezes, saudade!
Dulcíssima brevidade
Só o olfato se apercebe
que todo segundo passa
por esse ar que a gente bebe
E que só em nós se guarda
quando uma semente solta
dele em nós se embebe.
O SEGREDO
Cada um tem seu segredo
Não o conta a ninguém
Será mesmo um segredo
Ou será um único bem?
Segredos invioláveis
Têm força... Ual!
se guardam talismãs
jóias, etc e tal.
Ah, caixinha fechada
Ah, o peito cerrado
Mistério que nem tem
tanto significado
Pá...Pé ante pé...Psiu!....
Alguém, quem me ouviu?
Não quero não vou contar
até proíbo adivinhar
O anel que tu me deste
Cuidado! Pode quebrar
Também este segredo
ainda pode voar
Em outros ouvidos, ele
n’outros se vai transformar.
VÔO COM POUSO CERTO
O sono venceu a vigília
Também ele quebrou a dor
O silêncio que o pensamento
Ocupava por distração
Breve os olhos se fecharam.
por trás das pálpebras cerradas,
os sentidos esvaneceram,
as idéias, no quarto, pereceram
e deram sua vez à solidão.
O sono caiu beneplácito,
vindo como bom agasalho
cobrir um real entristecido,
quebrando na luz já apagada
o dia, que já tinha morrido.
Eu nunca pensara no sono
como um bem tão inocente,
como um toldo que à dor, à ânsia
encobre essa tristeza que
da noite só quer o seu fim.
E ainda como simples prêmio
Vêm os sonhos nos superar
Eis a fantasia que intercepta
a nossa vontade de acordar
DESENCONTRO
Tantos esforços e investidas
Tudo agora está diferente
Palmilhei por um caminho
Não é o mesmo, à minha frente.
As encruzilhadas surpreendem
Há curvas no meio da estrada
Eu juro que eu seguia um trilho
Agora vejo: eu estava errada!
Faço tudo, tudo contrário
Aquilo que sonhei, pelo que lutei
Às vezes nem sei por que faço
O que em estar fazendo, mal faço
Porque sonhei diferente o destino
No entanto, sonho, calculo e não atino
Não era este o destino
Que eu quis tomar, em menino!
O DESCONHECIDO, ESSE GIGANTE
O prazer da descoberta
vai além da inteligência
prega peças de espanto
ocupa nosso pensamento
É um prazer gostoso
faz com que me sinta grande
invade profundo o meu universo
espaço onde o ego se expande
querendo se conhecer.
Nele ficando imerso
esquecido de seu viver
Descobrir é aprender
no novo se conhecer
se tornando, então, maior
Levado pelo mundo
enigma do desconhecido
o homem se torna gênio
com o grande parecido.
Tudo pela descoberta
ânsia de ao outro chegar
caminho de se descobrir
Vontade de vivenciar
nessa trilha do encantado
Outros mundos desbravar.
SENSIBILIDADES
O mar enrola as areias
sob nossos pés, se arrasta
A tarde é de lua cheia
esta tarde não me basta
Quero mais, quero essa força
que o mar enrosca aos pés
são ventos baixos trazendo
notícias de outras marés.
Vêm ondas violentas
estão perto, então vem
Que eu sinta o mar, as areias
o oceano perto, além
Mas que grande conquista!
A natureza a nossos pés
quebrando pensamentos
deixando sonhos,
a média rés
Ah vida, se mal pergunte
em que me sobre curiosidade
que mais ainda queremos
se temos, tanta imensidade!
Queremos o impossível
o tudo que o nada não dá
Queremos decifrar o enigma
o nosso tempo é agora, já.!
Correndo assim tão grande, solto
Como estas ondas do mar!
LE PAPILLON
Ah! papillon colorida
multiformatos de vôo
hélices de esperança,
de dor e de mil cores
qual voadora transporta
a sorte ou a má notícia
depende da venturança
de quem batas à porta
Oiseau sem muito tempo
chegando e já quase se indo
Se a vida te desse demoras
ou se ficasses por horas
nos ensinarias teu mistério
Ficas no mundo etéreo
Céu que evola seus birds
Pappillon de tantas cores
nem sempre nos trazes
só passarinhos verdes
És meio ave, meio flor
Pappilon de encantos
És mística no teu pouso
incógnita, nos anuncias
risos, às vezes, prantos.
Elevaste o meu espírito
assustaste-me certo dia
Papillon,quão rica e bela
é essa tua imensa magia.
SENSAÇÕES
Não sei por quê
Ando angustiada
Espécie de premonição
Dando trela a um coração
que se esvai na emoção
de cada momento.
Ando triste, pensativa
Sugo as preocupações alheias
Cadê as noites de lua cheia
os momentos de felicidade?
Tudo questão de idade
mas minha idade, não preocupa
A solidão dela, talvez
Quero me livrar da amargura
vendo luz na rua escura
sol, além, lá no ocaso
Pouco importa os não motivos
Os raros incentivos da incensatez
Importa a vida que vou levando
todo ano, todo dia, todo mês
pois, como disse o poeta
“O tempo não pára!”
LUA COM QUE SONHEI
No meu quarto silencioso,
o clarão da lua adentrou
me fazendo companhia
Era de noite, no entanto
no quarto, parecia dia
Comecei então a pensar
entre o sono e a razão
Não fosse o luar ardente
triste seria a solidão
No meu quarto havia vida,
luz, lua; só eu a cochilar
Nosso quarto, nosso mundo
basta-nos pôr o sonho
Perto, não importa o lugar.
Feliz com a companhia
Meia-noite me era meio-dia
desisti até do meu sono
No quarto, estava dia.
O mistério se desfez
o que aconteceu, não sei
De repente, entrava o sol
Será que dormi? Não sei!
Pena, aquela lua se foi
e eu, no meu quarto, fiquei
Esperarei outra noite
que, talvez, de novo, terei.
LIÇÕES QUE SE VÃO APRENDENDO
Vem caindo a noite
Que dia nós tivemos?
Rimos ou sofremos
Melhor entendemos
esse mundo tão
sem explicação?
Será que crescemos
Gozamos as horas
Pensamos demoras
Nos tornamos maiores?
Passa o tempo e nós
Nem sempre crescemos
Até esquecemos:
“Viver é importante.”
Não basta o instante
Somemos momentos
Não basta a hora, o dia
Valem experimentos
Sejamos felizes
Eis o grande bem
Vivamos em dobro
Sejamos nós todos
É bom ser alguém.
RECOMPENSAS
Marcar o que fazemos no relógio
Anotar os dias no calendário
Guardar na alma todo esse diário
para enfim, desfolhá-lo num tempo
em que não mais houver sequer tempo
Para ser lido ou refeito outra vez.
Este é de todos o maior idílio
de uma vida que foi à velhice
que se passou sem qualquer mesmice
Vida de alguém que teve o que anotar
e que agora, velho e alquebrado,
fecha os olhos e tudo lá encontra
flashes, imagens dum longo passado.
Valeu viver e mais ainda valeu
nada no papel se ter escrito
tudo que passa voando, sem rastro
é de tudo o mais enorme bonito
Quisera eu estar assim vivendo
mas a folha branca me desperta
Fico à espreita da inspiração
esse reflexo do que sentimos
espelho translúcido da emoção.
Terei de comprar óculos ou lentes
não me bastará, por certo, a memória
Por que será que em tudo nesta vida
encontro enredo pra uma história?
CANTO DAS QUATRO HORAS
O canto do galo é canto bravo
qual despertar da vida, de manhã
primeiro grito, primeiro espanto
branda madrugada, fresca e chã.
Bravo clamor, clamando liberdade
Có...co...ró...có..., Já? Tão longiperto?
a vida se anuncia, supera o sono
eis o dia, rondando-nos por perto.
Belo, este gargantear vermelho
na roça, na cidade anda solto
mestre das madrugadas, infalível
nas noites, no tempo sempre envolto.
Relógio de ponto do destino
anuncias vida ao velho e ao menino
perturbas sem pena quem dorme
Não vês o prejuízo enorme
de quebrar no acaso nosso sonho?
de interromper o nosso descanso?
Galo, a vida te é importante
não admites o silêncio profundo
andas pior do que um rádio alto
em casa, acordando todo mundo.
A FALA DO EU
O meu livro se vai fazendo
Parece se fazer sozinho
Enquanto eu estou dormindo
Construo meu mundo real
Mundo que conheci em mim
na vizinhança, no arredor
mundo que só eu vejo escrito
mal me dando conta de um dia
Tê-lo tido assim, tão bonito!
Será que vivi este mundo?
em palavras, eu o transcrevo
e todo ele se constrói tão rápido
serei eu mesma que o descrevo?
Hoje até, acordei mais cedo
desfolhei meu livro ao acaso
ali nas folhas havia vida
eventos, a longo prazo.
Palavras escritas, reconheço
milagre que só o homem produz
A imaginação cria o signo
o coração acende a luz.
ARES RÁPIDO
Uma criança cantando
Bravos! Que bom é ouví-la
Esta é a vida chegando
Tendo uma criança atenta
Prometendo senti-la...
Eis a chuva pingando
Era verão há pouco
Agora, nesse escuro
que as nuvens guardaram
no ar, o vento puro
começo a rir de novo
Serei poeta pensando
na inspiração chegando
lá da neblina
Quando faltam palavras
é como se o poeta
deixasse seu chapéu
longe, talvez na esquina.
Nesses casos é melhor
pousar a begala
pendurar o chapéu
Voltar a ser menina!
O SEGREDO
Cada um tem seu segredo
não o conta a ninguém
será mesmo um segredo
ou será um único bem?
Segredos invioláveis
têm força... Ual!
se guardam talismãs
jóias, etc e tal.
Ah, caixinha fechada
Ah, o peito cerrado
Mistério que nem tem
tanto significado
Pá...Pé ante pé...Psiu!....
Alguém, quem me ouviu?
Não quero não vou contar
até proíbo adivinhar
O anel que tu me deste
Cuidado! Pode quebrar
Também este segredo
ainda pode voar
Em outros ouvidos, ele
n’outros se vai transformar.
SIMPLES IDÉIA
Não sei, não consigo
explicar o grão de poeira
que mexe a vida inteira
em nossas mentes a idéia
de se nos fazer certeira.
Idéia que nos movimenta;
em nós distende impulsos
se aceleram nossos pulsos
agilizamo-nos com ela.
Pequena poeira, ínfima
milhões dela penetram-nos
As idéias abem caminhos,
caminhos que são aventura
Todos nós atravessamos
afoitos, a rua escura.
O espaço de ventura
Simples idéia, teu nome?
Elétrodo, força: Vida
ÍNTIMO BULIÇOSO
Há algo bulindo meio inquieto
Meu peito bem sente o movimento
Não é sofrível sequer é festivo
Tampouco sei se há um motivo
Para sentir o que sinto em mim
É noite, sinto a luz forte do dia
nem a chuva me parece fria
caindo sobre a imaginação
Até esta bate em sofreguidão
como se buscando dentro de mim
o que bole e me faz mexer assim
Parece muito forte a comoção
nem diferencio a dor, já arredia
acho que achei seu nome: POESIA!
LIÇÃO POÉTICA
Onde está o verso hexâmetro
que um dia tentei escrever?
Onde está a velha metáfora
Sol, fim de tarde sem chover?
Onde coloquei meu dístico
se sequer sabia versejar
se apenas partia meu verso
pra minha dor não se quebrar
Nunca ninguém me falara
de cânones ou de Petrarca
Nunca me haviam dito
que cada dor tem sua marca.
que cada riso tem um limite
dactílico ou esponsal
que mesmo o sentimento
se não pode cantar mal
Daí mea culpa o engano
do verso que sem ser livre
se queria soltar, liberto
como o poeta quando ivre.
Fechou-se a dor no limite
da arte do bom versejador
O poeta se não quer poeta
quando só se entrega à dor.
IDAS E VINDAS
O meu lugar está vazio na praia
como está vazio meu lugar nas praias
que até hoje ainda não freqüentei
como está de mim vazio o mundo
que até hoje sequer eu visitei
experiências que se perdem de mim
e vão me perdendo, distanciando-se
O meu lugar está vazio na praia
na praia, está vazio o meu lugar
mas pior do que esta parca lacuna
são vazios existentes em mim
vazios que seriam menos profundos
se estas praias que deixei de freqüentar
tampouco fossem tão imensos mundos
As praias que não freqüentei são ruas
cujas lacunas de minhas pegadas
não vivenciaram em seus asfaltos
o pisar de minhas muitas andadas
São ruas que também eu desconheço
entanto seriam, longas estradas.
SENTIMENTO MAIS FORTE
Aquele que vai entrando
no silêncio de uma noite
em que o vento ameaça a chuva
Aquele que vai chegando
envolvendo nosso lar
sem precisar se anunciar
Este é o amigo mais certo
se acercando longiperto
nunca se fizera distanciar.
Amigo que silencioso
pouco diz e tudo fala
Amigo que num sorriso
cessa nosso pranto
ou transforma em riso
A dor opressa no peito
chegando meio suspeito
de que aqui é o seu lugar
De que neste que o espera
olhando a porta sem falar
sua demora, sua ausência
fora prova de resistência
a tudo que exige paciência
a tudo que mesmo a distância
contém grande desabafo
Eis, o amigo que chega
que nos ensina que a felicidade
é o valor de uma amizade
desta grande perenidade
de quem tem um bom amigo
Valor este o mais alto
que alguém traz consigo
quando sua certeza diz
baixo, alto, em bom tom
você de nada mais precisa
você já tem um AMIGO.
nos bons e nos maus momentos
Conte, Conte Sempre Comigo!.
REFLEXÕES
O silêncio tem voz e vocifera
em nossos ouvidos grandes verdades
O mundo sempre tão pleno da espera
busca noutros homens identidades.
Busca nos muitos caprichos, seus zelos
encontra desencontros, desapreços
Sonhos, como fora bom mantê-los
quão triste a vida quando só torpeços.
Mas quem, quem passa despercebido
à ingaia ciência que ensina a sofrer
Quem consegue ser na vida esquecido
pela dor do que vem para se perder?
Quem incólume se fez conhecedor
nesse mundo de mil segredos tantos
Quem jamais se sentiu um perdedor
em meio a quantos sempre muitos prantos?
O ETERNO-SONHAR
O tempo sempre tão vulnerável
a tudo quanto queremos fazer
vive deixando suspenso nas horas
Algo prestes a nos acontecer
Se tivessemos vivido na Grécia
No illo tempore da divindade
Nada seria esquecimento, pois
Mnemosia daria eternidade
Mas importa no hoje o eterno?
Importa tanto assim o que perdura?
O momento mais feliz não é
aquele que rápido, menos dura?
Ah o tempo! Mistério incrível
inexplicável à nossa razão
será qu’inda não entendemos
que o eterno está no coração?
Será que pela vida passaremos
medindo horas e segundos
buscando lembranças terrenas
Longe, em diferentes mundos?
Suster o tempo ou perenizá-lo
num momento de zelo ou certeza
Será que neste ideal infindo
se encerra toda nossa realeza?
Felizes ou tristes, só importa
o que conscientes nós vivemos
esqueçamo-nos de eternidades
gozemos este agora, gozemos!
Ele é tudo e ele nos basta
Pra quê o amanhã duvidoso
Contentemo-nos com este sol
pois todo futuro é nebuloso!
UMA LIÇÃO EXISTENCIAL
Não sei, sequer eu duvido
do quanto um velho viveu
Sequer ouso apurar o ouvido
ouvindo o muito que sofreu
Uma vida se vai fazendo
nos nós do cotidiano
Sempre há muito acontecendo
um feito a cada ano
Um sorriso, uma lágrima
um desafio à emoção
Numa vida jovem, um nada
no idoso, sua extensão.
As vivências constroem
os feixes do dia-a-dia
Os velhos já se aperceberam
da brisa de uma tarde fria.
Os jovens procuram no tempo
a cor fresca dum novo dia
esquecidos da hora passando
buscando somente alegria
Nào lamento o vivido
Nem o pranto enxugado
lamento o não sentido
em cada dia passado
Lamento a pouca vivência
de uma vida às vezes longa
lamento o sorriso escasso
num rosto songa-monga .
EXPERIMENTAÇÃO
Pensava agora em fazer um soneto
Diverso no mundo da concepção
Em todos os versos, muita emoção
No fim, então, um novo terceto
Rimaria com a palavra AMOR
Dele, o significado mais puro
De tão claro, ler-se-ia no escuro.
Qual soneto leve como uma flor.
Mas meu soneto já até se perdeu
Só de pensá-lo, todo se desfez
Em palavras perdidas pelo ocaso
Meu soneto– acho – nunca foi meu
Mal ficou no gesto, numa só vez
Foi apenas uma rosa, morta num vaso.
ROUQUIDÃO MALFADADA
Na tarde ensolarada, minha rouquidão
calou em mim todos meus inúmeros dizeres
O silêncio se transforma em novos sofreres
Dor de quem guarda, bem fechado, seu rincão.
Não conseguir dizer o que penso, calar-me
Ver n’outros rostos a difícil aventura
de querer em mim achar a comum criatura
que se revela, de tudo dando seu alarme
Qual difícil tarefa conseguir me calar
em meio a tantos inúmeros pensamentos
idéias que bem mereceriam ser ouvidas.
Céus, no meu silêncio só há tormentos
palavras ditas que não serão repetidas
rouquidão d’um dia, um dia que passo
sem falar!
DOIS MIL, FINALMENTE!
DOIS MIL tão temido, chegou!
Fogos explodiram no ar
Não é só um ano que vem
É um milênio a se anunciar
Nos corações, nas vidas
nas esperanças adormecidas
Hoje, renovadas na década
no centenário, no milênio,
hoje, tão mais renascidas.
O mundo enfim não acabou
Surgem até mil esperanças
Um sorriso marcando horas
Destas horas ainda crianças
que tanto esperam do porvir
Expectante de venturas
Eis o milênio crescendo
Surgindo e já mostrando
que só em TRÊS mil estará
Quem sabe? morrendo
SE QUISER UMA AMIGA....
Se você quer ser minha amiga
não me diga sua verdade
não me diga da necessidade
de andarmos de pés no chão
Diga-me que em tudo há sonho
sinal de muita fantasia
Diga-me que sequer a noite
termina com um novo dia
Diga-me que no riso fácil
nada há, senão alegria
que no pranto só existe
qualquer quê de ironia
Não tente inventar verdades
defender axiomas provados
não venha com essas conversas
sobre homens angustiados
Diga: - tudo vai muito bem
em toda parte, neste mundo
Diga-me que em todo lugar
o sentimento é profundo.
Diga que no céu ou alhures
: “Nada, nada, nada periga”
Diga tudo sempre rindo
Se quiser mesmo, ser minha amiga.
VÔO EM BUSCA DA FFELICIDADE
A pomba branca, da paz
deu seu derradeiro vôo
em busca da felicidade
dilacerou a amizade
o branco de suas asas
se azulou.
A pomba que se criou quieta
Voou alviçareira
cansou-se de sua mesmeira
esqueceu-se de na vida inteira
ter sido preparada
ter sido amada
para viver naquela janela
Pomba da paz, um dia
prometida para meu descanso
alçou vôo como um ganso
sequer disse adeus, partiu
Quase ninguém mais a viu
voando, tal de si a pressa
se estiver feliz à beça
seu vôo pousará traqüilo
esquecida de ter sido esquilo
onde o frio mais aperta
Neste momento em quê
esquecida de sua missão
minha pomba branca,
já não mais faz companhia
até a janela que se abria
afastou de si os visitantes
tal sua brisa, tão fria
Tudo daqueles instantes
é agora lembrança
duma pomba que partiu!
SIMPLES IDÉIA
Não sei, não consigo
explicar o grão de poeira
que mexe a vida inteira
em nossas mentes a idéia
de se nos fazer certeira.
Idéia que nos movimenta;
em nós distende impulsos
se aceleram nossos pulsos
agilizamo-nos com ela.
Pequena poeira, ínfima
milhões dela penetram-nos
Às idéias abrem-se caminhos,
caminhos que são aventura
Todos nós atravessamos
afoitos, a rua escura.
O espaço de ventura
Simples idéia, teu nome?
Elétrodo, força: Vida
REGENERAÇÃO
Vivo me compensando
das coisas que não tive
Daí, tudo que tenho
ter mais valor pra mim
Queixas mínimas não tocam
minha resistência habituada
à dor, a tudo ou ao nada
que me fizeram ou fazem sofrer
E não venham me dizer
que cada dor tem seu motivo
ou cada ser sua razão
É preciso saber resistir
na dor, separar o joio do trigo
que será que se passa comigo?
Nunca me vi tão forte
dizendo-me assim, poderosa
dizendo-me resistente à força
da calçada toda arenosa.
Terei mesmo mudado?
Não serei mais tão chorosa?
Ou tudo são disfarces
de quem se quer vitoriosa?
O GRANDE SEGREDO
Por que o escritor nasce no desejo
de transformar em seus, qualquer bocejo
de encontrar num qualquer gesto ou num beijo
a força poderosa d´um grande ensejo?
Por que se é ou se quer ser escritor
viver buscando sons e significados
buscando sílabas, simples bocados
vivenciando hoje, longos passados?
Por que essa necessidade estranha
esse pranto, esse riso, essa manha
essa queixa menor, dor tamanha
com a qual o escritor se apanha?
Esse é o mistério indecifrável
o poder forte e inigualável
com que o escritor nasce e vive
momento igual lhe é indecifrável!
A EMOÇÃO QUE FICA
Necessidade de guardar dia a dia
Minuto a minuto, hora a hora
Nossas dores e nossas alegrias
Necessidade de carregar no eu
As emoções de todos nossos dias.
Será que há como guardar no tempo
O minuto breve que passou agora
Armazenar no peito, na lembrança
O que, na vida, constitui história?
Não sei, não quero, juro que recuso
Essas inventivas vindas do agora
Talvez não sejam lembranças do hoje
São momentos que fizeram minha história.
PASSATEMPO
Minha vida não me pertence
Sou do mundo que determina
Se num dia sinto-me velha
No outro, volto a ser menina
Minha vida é uma incógnita
Sou feliz com coisas mínimas
Rio à toa, às vezes, de bobeira
Mas em meio às emoções íntimas
Eu me dou, ,me dou por inteira
Vida, vida, incógnita vida
Como posso te entender
Às vezes a vida desconhece
Mas nascemos para sofrer
Aliás, vivemos a vida porquê
A vida queremos viver!
CHORO PORTUGUÊS
Há tanto que penso em fazer,
que em pensando em tudo,
nada eu mesma faço.
Sinto: há um relógio pulsando
sinto que a vida vai passando
e meus sonhos e impulsos
quão fraca eu sou para eles
que me detenho a pensar
e neles assim pensando
acabo neste nada ou pouco
que me olha, quase a chorar.
Posso, eu sei que posso e devo
minha inércia forte transformar
em ações que averbem
no rol de minhas conquistas
o que diante de minhas vistas
é um mundo prestes a desbravar
Enfim, em mim eu me acomodo
É mais fácil, é menos penoso
Ao fim, tudo é horroroso
O vazio dói, a plenitude não
Por que o homem é assim
Inconformado, entediado
num horizonte sem fim?
Por que não alastrar de azul,
o azul que há em mim?
E que ajudaria o semelhante
a não ser diferente,
mas ser como eu : ASSIM
EXPECTATIVA
Nem sempre a vida dá
O quanto dela esperamos
Esperar não é pecado
Porque esperança e esperado
andam sempre juntos
sonhando no escuro
de nossos pedregulhos
um ideal mal começado
Sonho – esperança – ilusão
Algo pode ser mais inspirado?
Se chove em nosso peito
ficamos prostrados no leito
sem vontade de levantar.
Falta ânimo, falta vida
A vida feita para viver
Como é bom viver a vida
abstraída, sem sofrer.
PASSA TEMPO
Janeiro vai passando
Com problemas e emoções
Pressão alta, nervos
Tudo, grandes paixões!
2003 – Todos os dias
Há dúvidas, incertezas
O sol brilha forte
mas faltam outras belezas!
Vamos levando assim
Deixemos o mês passar
O melhor é sempre rir
Dá trabalho – chorar.
SOFRENTES
Nos caminhos sem destino
mas com curvas perigosas
testamos a capacidade
de vivermos a vida
com a força impetuosa, contida
que sequer nós sabemos
quão forte possuímos.
Somos seres vivos, humanos
driblando barreiras da emoção
sacudindo nosso coração
a todo momento, vivendo.
Mas viver não é sofrer?
Os poetas assim diziam
Não creio que mentissem
Apenas disfarçavam
A capacidade que tinham
Ou, às vezes, nem tinham
Para também eles viverem.
UM PRAZER QUE FICA
Ai, literatura
quanta fartura
a vida nos dá!
Ai, literatura
houvessem livros
houvessem brochuras
houvesse imaginação
um pouco mais de percepção
e tudo seria emoção
As palavras nos tocam
A expressão se revela
À luz de uma vela
o mundo se torna revolução
o poder vem da literatura
ainda que passe, perdura
Emoção não chega e vai
Livros à solta proliferam
Idéias, as mãos se deram
Um mundo se construiu
Feliz de quem o edificou
no pranto, no riso, na experiência
Pois, literatura é existência
que fica e não passa
Que ao homem sensível
pra sempre se abraça
revolucionando idéias ideais
Lágrimas ficam para sempre
Alegrias não passam jamais!
UM MISTÉRIO
O velho que deu sua mão
à criança que engatinhava
daquela mão precisava
para retornar ao passado
para entender quão ousado
fora-lhe o mundo, a vida
que passara perseguida
de pressas, de suspiros, de ausências
O velho que à criança deu sua mão
nessa mão buscava apoio, essências
e até explicação
Na mão que segurava, sentia
bater forte o frágil coração
ainda mal preparado para seguir
mas já seguindo com decisão
as trilhas incessantes do momento
que também a levaria no tempo
a parar, respirar, olhar o firmamento
baixar o olhar e sentir lá longe
o olhar de outra criança
pedindo-lhe apenas AMIZADE.
A FALTA QUE DÓI
Que falta faz
um ombro amigo
Que falta faz alguém
que sofra comigo
que divida suas dores
que mostre seus rancores
que me puxe a orelha
Que falta faz um raio
que com sua centelha
acenda uma luz no caminho
Que falta faz um carinho
o calor de um beijo no rosto
um sorriso meio a gosto
Que falta faz!
Há uma dor nessa falta
nesse isolamento doído
nesse ar tão poluído
onde falta um amigo.
Há um espaço vazio
cuja falta não se preenche
cuja dor se torna imensa
porque na falta se pensa
no vazio, na fenda intensa
onde sozinhos,
às vezes, vivemos!
MUDAMOS E VIVEMOS
O que queremos mudar
quando estamos sozinhas?
Mesas? Cadeiras? Livros?
Mudar objetos é fácil
Mudar pessoas, é impossível
mas mudar o que está em nós
é mudar o que é irreversível.
Arrastamos móveis e pertences
tentamos dar um ar de novo
ao que vivemos
Mas e àquilo que somos e
pelo que sofremos
Há mudança capaz
de alterar nossa aparência?
Talvez exista uma quintaessência
rondando nossos sonhos e hábitos
talvez tentativas de novidade
mas no fundo, se mudamos
mudamos a igualdade
e até nos sentimos melhores.
Ah, tentativa! Mudar e conseguir
ser diferente todo dia e sorrir
fazer de cada hora uma folha lida
e outra prestes a se desfolhar
Porque em tudo há vontade de mudar
E em mudando, quem sabe,
começamos no novo, um outro sonhar.
A NOTÍCIA
Hoje, ouvi uma notícia, que me deixou
estarrecida. Falaram que a felicidade
pode ser tocada, pode ser vivida, contanto
a sintamos dentro de nós
Hoje, ouvi esta notícia e fiquei pensando
se está em nós o privilégio, a raridade
de com um sentir secar o pranto
Por que nos sentimos tão pequenos?
Hoje ouvi esta notícia e, de repente,
contente, espalhei pra todo mundo
dizia que no ser há um eu profundo
capaz de transformar o imutável
num real provável de risos e aberrações
O homem pode modificar o homem, porém
dizia a notícia: “É preciso desculpar o erro
de buscar a perfeição, a beleza, a afeição
olhando apenas dentro de si tais conceitos”
Nesta notícia que hoje ouvi e espalhei
havia até lugar para os maiores defeitos
porém, lugar algum para a Perfeição
Talvez a única mensagem contida
na notícia que ouvi e me empolgou
é a de que no homem tudo é muito pouco
se vazio estiver o seu Coração.
SÓ UMA VOZ
Mil ruídos à minha volta, quebrando
a minha sempre difícil concentração
Sons diferentes, musicados ou não
tentam distrair em mim pensamentos
que verto no papel. Sentimento de quem busca
à clara luz do dia uma idéia, que há muito rebusca
sair do enigma e se colocar ao léu
desvendar de si o toldo e clara, traduzível
como tantas outras, tombar no papel
Verso claro, poema feito, descoberto
Ante o véu da compreensão
daqueles que também buscam na escrita
seu momento de ilusão.
Poeta e escritor não se abalam
com sons mais altos que suas falas
pois são eles que têm de suas cores as palas
para descrever o mundo, que se lhes afigura
tinta clara de cor escura, música leve, coração
em ternura, buscando no horizonte
o leve frescor que na fronte, modifica
todos os sons e ruídos que
como em doses de comprimidos
Fazem da mensagem escrita o grande remédio.
Moderador da alegria, remediador do tédio
bálsamo do poeta que nasceu sensível
e viverá irreversível
à sua concentração no papel.
Espécie de benção, caída do céu
para aliviar os pesares e os excessos
Que mal lhes poderia fazer esses ruídos
da terra, do mundo, ainda que mais altos
do que dentro de si, o escritor ou poeta movido
por todo esse seu ser inventivo
que como animal criador e criativo
Tenha em sua inabalável escritura
O prêmio ou o motivo de seu ser criatura
Predestinada apenas a escrever
Benção que só deixará de existir no dia
em que o próprio escritor morrer
ou o poeta desaparecer
ante seu dom maior de não se abalar
Por mais que a seu lado um mundo a falar
tente desviar-lhe o pensamento
existirá a força do momento
em que, versejando ou consigo falando
Todo seu ser n´outro mundo se transmuta
Vozes somente suas, só ele as escuta!
A RECONQUISTA
Nunca mais fiz um verso,
Um verso sempre me fez
Que andará acontecendo
Perdi meu verso de vez?
Perder um verso é triste
e triste estou agora
perdi um amigo terno
que se me prometera eterno
e se foi, à luz da aurora
O meu ritmo se acelerou
A vida superou o lirismo
Na pressa, a dor ficou
só, neste inconformismo.
Perdi meu verso, e agora?
Como vou reconquistá-lo
Aliás, quando menos o buscava
Ele me surgia de estalo.
Meu verso se foi alhures
Não sei se o perdi na dor
Se na alegria, que não rimei
Mas a perda dói profunda
Perder um verso é como
Perder parte de um amor.
Por menos que me reste tempo
Por mais que eu me resigne
Buscarei de volta meu verso
A palavra que com ele rime
ou que me ensine que o amor
Nunca se vai para sempre.
A NOITE EM FESTA
A noite, sempre a noite
Em sua escuridão de afãs
A noite, sempre a noite
Com sonhos flamboyants
À noite -- dizem – cresce a tristeza
E a solidão se torna maior
Não fosse a noite, porém
O dia não existiria
Outra imagem até se teria
Do mal ou do bem.
Não seria, porém, esta a imagem
Porque é à noite, no escuro
que se percebe o clarão do luar
que se pensa no cansaço
que mais facilmente faz
a gente rir ou chorar
Seria uma imagem diferente
Talvez até mais animosa
Afinal, sabe-se lá por quê
Quase sempre a noite é chorosa
À noite, defloram-se florestas
As piores porque são
As do nosso interior
À noite, abranda-se o riso
Mais pesada cai a dor.
À noite, aos olhos, há o luar,
Há o perfume do dia terminado
Há a imensidão da madrugada
E o sonho ainda não sonhado.
Há a idéia de fim, embora
nem tudo esteja ainda terminado!
E mesmo que seja em festa a noite
Logo será um tempo, no tempo passado!
FEELING
Sinto bater no peito um sentimento
que não sei se é de dor ou de alegria
Sentimento não tem definição
Pode ser até uma simples emoção
que ronda a instabilidade
de quem espera um momento bom.
De quem vive mais em seu espírito
do que na matéria que o envolve
De quem se dá, por inteiro, quando gosta,
Mas que por não receber de volta
o amor que com fé Sempre entrega
Sofre, chora e se lamenta, esperando
Sofrimento menor, no outro dia
Ainda que esta seja uma forma de sofrer
É também sua única forma de viver
E de ser feliz no mundo
Trazendo no peito o sentimento profundo
Que é tanto ou que é mais do que amor
Porque, enfim, tudo é AMIZADE.
E este sentimento, que só exige
RECIPROCIDADE
Nada clama, nada exige, salvo
SINCERIDADE!
JOGO EXISTENCIAL
Não acho graça ao jogo da vida
Ora me faz rir, ora me faz chorar
Ora me deixa vazia, ora me faz pensar
que há um horizonte aberto à minha espera
Não acho graça neste obscurantismo
Nesta verdadeira forma de enganar
me fazendo, às vezes, alegre sorrir
e, logo depois, fazendo-me chorar.
Talvez tenha de ser assim
O mundo no planeta terra
Talvez nenhum segredo encerra
o oscilante jogo da felicidade
Às vezes, pode não ser maldade
receber um não quase agressivo
Talvez faça parte da humanidade
entrar no pró ou contra-ofensivo
mundo do sim, mundo do não.
A vida é um constante desafio
onde o herói e o vilão se degladiam
onde até se amam, mas se enrustecem
porque, por algum motivo
se amar, é que não podiam.
Estranho, o homem não pode ver
o que dentro de si é mera ocasião
o que o impulsiona e mexe
fundo, no que se chama emoção
e, às vezes, frágil, quer se esconder.
Mas é este sentimento dúbio
que leva o homem e que me leva
porque homem sou também a sofrer
mas tampouco me queda ou abate
porque, nele está o meu viver
E não há ou ainda não encontrei
Forma diferente de em mim ser
Aquela pessoa forte e destemida
como naturalmente eu me vi
eu me desejei, antes de nascer
E na qual não me transformarei
É certo, nem quando eu morrer!
Porque, pelo que vou aprendendo
basta-nos apenas rindo ou chorando,
VIVER!
SÓ, SOZINHO
Sentir-se um vaso onde não há terra, não há água
E não há flor; é sentir-se sozinha no espaço
É sentir-se de pé, de braços estendidos, esperando
Que de algum lado, de algum lugar lhe venha
O tão sonhado e preciso grande abraço.
Sentir-se de pé, flutuando em pensamentos
Buscando um ombro em que apóie seu sentir
Buscando um peito aberto a lhe sorrir
É o mesmo que sentir-se só na multidão
Sem nenhuma parede para amparar
Os seus mais profundos sentimentos.
Há quem se sinta só; às vezes, vivendo cercado
de pessoas prometendo carinhos, no entanto
ao se olhar nesses olhos também sozinhos
encontra à extensão dos caminhos
a terra rude, seca e vermelha que machuca
as alpercatas enlaçadas nos pés.
Dói no homem o seu caminhar sozinho
Talvez pra amenizar essa dor
uma sombra venha-lhe atrás, seguindo-o solitária,
incansável em seu perseguir na luta diária
mas sumindo de repente, naquele momento
em que olhando para trás em busca dessa amiga
impedido pela luz ou pelo gesto nem consiga
identificá-la mais atrás de si
quem sabe, a luz a apagou ou ela sumiu
por que também a ela seu percurso cansou.
Ah, solidão dolorosa, essa do homem
Que por mais que ache no mundo companhia
Nas pessoas que considera amigas, um dia
Se desperçam ou partem ou já não são
As mesmas que num iluminado dia de sol
Prometeram entrar pra sempre no coração.
Mas não fosse essa dor tão humanitária
Que torna todo mundo de outro ser dependente
Como se chamaria o mais próximo da gente
Como se viveria sorrindo, senão alegre
Pelo menos forte, de pé, talvez contente?
O VIAJANTE
Caminhando sem destino
Sem rumo e talvez com desatino
Vai o viajante pensante
No caminho que vai achar
Essa sua mania de, acordado, sonhar
Leva-o pelas matas, por terras e oceanos
Leva-o pela vida ao longo dos anos
E não chega aonde quer chegar
Talvez, sonhador, nem saiba
Que todo navio tem um porto
E que todo homem que busca
A felicidade no mundo
Nunca se diz morto porque
A morte é uma forma de chegar
Mas chegar sem nunca ter sonhado
Pegar na estrada esse atalho
Que leva no destino a um fim
É muito pouco ou mesmo é nada
Viver exige a força de um sim.
É preciso saber caminhar
Da sorte buscando o caminho
Do sonho ansiando a fantasia
Cuja luz até no fim do dia
Será um raio de felicidade
Buscando caminhos, ideais, atalhos
O homem vive sua identidade
E vive-a com a mais profunda dignidade
Porque viver um sonho é sempre
Desconhecer no tempo qualquer idade
É também realizar sua missão
No longo percurso cujo companheiro
maior é o seu próprio coração.
EXPLICANDO O INEXPLICÁVEL
Poemas que fiz na infância
e o papel não guardou
São os registros mais fieis
de um tempo que já passou.
Poemas que fiz no travesseiro
que até o luar apagou de mim
São o testemunho fiel de tudo
que no tempo tem seu fim.
Poemas que desperdicei na noite
rimando palavras, suspiros e sons
São emoções que não ficaram
mas tiveram momentos bons.
Poemas que fiz e faço sozinha
sem deixar morrer a inspiração
São desabafos de uma voz
clamando para si atenção.
Poemas são estes suspiros
os fonemas de um só V E R S O
Poemas são tentativas de mudar
no mundo o seu reverso.
Meus poemas são porta-vozes
do que sibilo pensando, querendo
Meus poemas são minhas pegadas
são a vida que vou vivendo.
DOMINGO, À TARDE
Uma tarde de domingo não é uma tarde qualquer
É um momento de silêncio e até de solidão
O dia parece que se arrasta adormecido, esquecido
De que no peito do homem bate um coração
Que não para de bater e até bate mais forte
Em meio ao silêncio, de uma tarde de emoção
Na qual a vida indo sem pressa, nem se apressa
Vendo a noite, solitária, cair.
A tarde de domingo, não é qualquer tarde
São horas que do dia se fazem tarde
Que da tarde se fazem noite, suaves
Lentas, sem pressa do dia seguinte
Dia, que por conseguinte será
O reinício do que foi feito e se desfez
Para ser feito uma segunda ou terceira vez
Num trabalho de Penélope, incansável.
Domingo é domingo, no entanto
Descansemos, pois é domingo!
À NOITE, TUDO É DIFERENTE
Quando a noite me avisa o descanso
Entrego-me ao prazer inesgotável
de ler, escrever ou repousar
no aconchego do meu lar
onde o carinho de minha família
me adormece, desfazendo em mim
todo e qualquer interesse
de fazer o que pretendi e não fiz
Porque é noite e eu estou cansada.
Olho, então, pela janela e vejo o negrume
Me pergunto se além deste dia ou se à frente
outro dia me trará desilusão ou felicidade.
Mas tudo é tão escuro, que em mim busco claridade
e vejo apenas os olhos se fecharem
pedindo-me o descanso a que têm direito
depois de um dia, e nenhum dia nos é perfeito
porque todo ser humano busca o melhor
Mas a noite sempre é um prêmio
Nela refazemos as forças
fazemos mil planos
Nela atravessamos em sonhos
os mais longos anos
de nossa única e verdadeira existência
que ao longo de tanta insistência
nos leva ao percurso difícil
a que chamamos Viver
Sem o qual nada significaria
nosso primeiro e contínuo ato
de nascer ou nosso desejo
de sempre crescer e que é profundo
para nós e para o mundo, pois queremos
ser alguém, mas não passamos de nós mesmos.
De dia não sonhamos, não há tempo
Não há relaxamento em nosso pensamento
que diligente, chega à noite e repousa
como uma ave que depois de voar, pousa
pronta para o vôo, que logo vai levantar
Mas que por enquanto, nem quer cantar
É noite! Deixemo-la, pois,sonhar!
|