Desilusões em uma esquina, amores na próxima,
feitos um para o outro,
tendo uma vida ótima,
sou um demônio bondoso,
ela um anjo das trevas,
e depois dessas quedas,
a carne rasgada, por fim, meu osso.
Tenho o dom da abstinência,
tenho a vontade da essência,
o outono leve contrasta com o brilho dos seus olhos,
penso em desistir de tentar entender-vos eu, mas é inútil
esse seu olhar fútil, não devia ser só seu.
Uma gota de suas lágrimas se mistura com o tom do nosso vinho barato,
a vida parecia tão simples do outro lado,
na outra esquina, porque eu entrei nessa?
Pensei que teria festa? Festa da minha ruína.
Ou será que era uma gota de vinho que escorria entre as suas lágrimas?
Você não sabe quem eu sou, por trás dessas sátiras,
pode ser uma gota se sangue, que eu derramo constante,
no meio dessas pessoas, dessas maquinas.
Mas eu já estou dormindo, isso é só um resquício da minha consciência que se importa,
não sei se ainda consigo, ver a vida que antes era contigo,
enquanto a minha mente se esgota.
Idealizada, como todas as outras vidas,
como todas as outras idas,
sufocantes expectativas manchadas pelo vento ainda,
feitas e sentidas numa recaída.
Manchas de inverno cobrem meus olhos mortos, eles já estiveram tão abertos,
direcionados para vidas e afetos,
como se a pluma do orvalho negro tivesse deixado cair,
a esperança que havia em mim,
deixando o vazio por fim.
A bebida ainda está no copo,
como se nada tivesse sido dito,
como se meu coração não tivesse sentido,
o inverno chegando, e seus olhos se fechando,
uma gota de sangue escorre pelos meus olhos,
e sobre meu coração partido, perdido.
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