Oh querida, sim, era eu
que vinha de bicicleta na tarde quente
quando te vi, de repente, do outro lado da rua,
me descontrolei e fui ao chão como faz a lua
quando o sol sai e a deixa desarvorada,
nua, se desmanchando na calçada...
Oh querida, desabei toda a minha fortuna,
meus pensamentos, minha ereta coluna,
no chão, bem de perto, vi um ereto inseto,
formigão, quiçá um louva-deus nada discreto,
sim, fui eu que desmontei a torre do orgulho,
minha vaidade se jogou num mergulho,
do chão olhei tuas pernas e o arrepio
caminhou dos pés à cabeça,
aquela sensação de frio,
fim da nobreza...
Oh querida, me ergui, me limpei em apalpadelas,
inteiro eu estava, sem nenhum arranhão,
descobri, por acaso, que o amor revela
o que nos vai dentro, no coração...
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