Certa vez, um pássaro azul pousou em uma árvore. Tinha vindo de longe e estava exausto, as penas queriam abandonar o seu corpo. Precisava recuperar as energias e não se importou com o estado lamentável do tronco.
Desde a grande seca, nenhuma ave voltara ali…até aquele momento.
—Por que veio me visitar? – quis saber a árvore.
—Preciso apenas de um segundo. – disse o passarinho empertigando-se. – Não vou demorar.
—Um segundo? – balançou a árvore – Pode ficar quando tempo quiser. Já faz anos que estou aqui sozinha.
—Por quê?
—Hora…seu pássaro maluco. Sou obediente a minha espécie. Tenho que ficar aqui quietinha até que a morte me leve ou o lenhador me parta.
—E por que você continua aqui? – assustou-se a ave – Venha comigo voar. Já provou o chimarrão?
—Não seja idiota. – respondeu a arvore – Esse é o meu destino e eu gosto de ser arvore. Não quero voar.
O passarinho abriu as duas asas e se abanou.
—E eu sou pássaro, nasci pássaro, mas se eu fosse árvore ainda assim faria de tudo para ser pássaro.
—Por quê?
—Por que o meu destino sou eu que crio e não importaria se eu tivesse nascido peixe ou elefante. De qualquer forma, não importa se eu nasci pássaro, a questão é: nasci para ser pássaro.
—Mas se você tivesse nascido elefante, nunca voaria. – zombou a árvore deixando cair um galho.
—Então eu seria um pássaro no corpo de um elefante. Daria um jeito de voar assim mesmo.
—Ah…é? – a árvore riu – Como?
—Não sei. Inventaria alguma coisa. Não é preciso saber como realizaremos os nossos sonhos, basta saber que ele se realizará se nos empenharmos. A distância entre o sonho e a realidade somos nós que decidimos.
—Você é um pássaro inteligente. – disse a árvore – Eu posso te contar um segredo?
—Claro, diga.
—Eu era uma árvore cheia de folhas e animais, mas a grande seca me deixou assim. Eu queria tanto voltar a ser como eu era…esse sempre foi o meu sonho.
—Então volte. – aconselhou o pássaro – Não perca o resto dos seus dias por causa de um problema.
—Mas o que então eu devo fazer se nem consigo sair do lugar?
—Isso você terá que descobrir sozinha. – disse o pássaro batendo as asas e partindo.
A árvore ficou sozinha novamente por quase um mês e, antes que a esperança a abandonasse, o céu escureceu.
—Eu não acredito! – murmurou a árvore emocionada – Chuva!
Trovejou mas não choveu. A árvore ficou triste, contudo, se lembrou das palavras daquele passarinho azul. Não podia desistir novamente de seu sonho, tinha que dar um jeito.
Então, um belo dia a árvore se lembrou que , há muito tempo, tinha chovido bastante naquela área e que, talvez, abaixo dela houvesse água.
Passaram-se dois anos e ela continuava tentando esticar suas raízes mais profundamente, a esperança era o único alimento que a nutria.
Quando o pássaro retornou, viu a árvore esverdeada, cheia de animais pequenos e folhas pomposas.
—Como você fez isso? – perguntou o pássaro azul.
—Nasci para ser árvore e não tronco velho. Dei o meu jeito.
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