Os ratos já estavam incomodados com o ronco do gato. O felino não sabia fazer outra coisa, a não ser comer os restos dos pratos de seus patrões alcoólatras, apáticos, indiferentes, inativos.
Os ratos preocupavam-se, pois, seu número aumentava a cada dia. Os alimentos diminuíram, os suprimentos escassos.
Então, reuniram em uma assembleia para moção que pautava a prole fértil a escassa provisão alimentícia.
_ Não pode mais continuar assim! Viver de maneira miserável? Nós ratos que sempre temos levado uma vida em gozo e agora somos a nossa própria lástima. Daqui a alguns meses estaremos nos matando.
No fundo gritaram: _ Métodos contraceptivos! Abaixo à alta taxa de natalidade.
Gargalharam os ratos. Porém, o assunto era sério. Ali em pouco instante já ouviram a noticia que havia nascido mais cem ratinhos e ainda havia cem gestantes aguardo atendimento.
Na reunião não poderia sair sem solução. Então, um destemido rato, Brutus, se não o líder que encabeçou à assembleia. Subiu no púlpito, levantou suas mãos, sobre a cabeça, unida uma na outra e aparentava ter a proposta que viria a solucionar os males que atormentava a sociedade dos ratos.
_ Calmem colegas ratos! Estou há dias sofrendo pensando como vai ser o nosso amanhã. Triste sina terão nossos filhos, netos, bisnetos que vão lastimar fome e viver em uma multidão de outros ratos famintos e sequiosos. Serão tempos difíceis, pois, serão ratos lobos de outros ratos. Pensem o quanto será dificultoso.
O alarido nem era toante dava para escutar em todos os cômodos da casa. Os donos estavam pouco se importando com os ratos e nem sequer como seu gato guloso e redondo e, principalmente, o responsável para manter a justiça da casa está lá inquieto ronronando, feito geladeira velha.
A acalorada reunião não caminhava para um ponto comum, para a sonhada solução. Contudo, veio a se pronunciar o Dente de Sabre, o mais velho de todos os ratos, o sábio ancião. Dizem que foi ele quem iniciou o povoamento colonizando vários lugares, mas, ali resolver sentar e construir a grande ninhada. Apenas, chiou baixo, pois, sua voz arrastada e cansada não lhe dava condições de falar mais alto. Disse que a condução do bem comum de todos tem por obrigação que desviar-se dos interesses individuais.
Brutus toma novamente a cena.
_ Para que tanta discussão e, sei que em muitas palavras nada se aproveita e, também, tanto falatório para lugar nenhum chegarmos. Aí, fora há um preguiço gato que é nosso predador natural, mas, como ele não nos caça juntemos e cacemos para ele. Essa é a solução.
A decisão de Brutus foi aclamada, entre os que usufruíam do mesmo patamar social e no meio da multidão ratos que se alcoolizavam e fumavam chiavam alegremente. Interessante que esses alegres e bêbados ratos de nada sabiam e eram eles que tinham as famílias maiores e mais famintas.
Criou-se o Estatuto dos Ratos:
1. Brutus tem a verdade e, a sua palavra é a verdade;
2. Quem não obedece não come;
3. Aquele que mentir vai ser morto e entregue ao gato;
4. Quem desafiar a ordem da hierarquia instaurada por Brutus morrerá;
5. Família com mais de 10 filhos dos tais cinco devem ser sacrificados;
6. Esqueça-se do que vocês, ratos, sabem e consultem a inteligência soberana de Brutus;
7. Os ratos devem ter cuidado com a natalidade;
8. Recapitulando: Brutus tem a verdade e, a sua palavra é a verdade;
9. E que tudo que Dente de Sabre disse seja, apenas, blefe de jogador;
10. Está é a lei.
Após, a constituinte os ratos bêbados e felizes foram pegos e amarrados e entregues ao gato que deitado sobre o sofá os recebeu solenemente.
_ Aqui trazemos comida fresca para ti.
Olhou-os soberbamente e observou, as pobres criaturas, de mesmas espécimes que estavam procurando o próprio fim.
_ Poupem-me de seus juízos sujos e traiçoeiros, poupem minha boca de provar das suas injustiças e comungar com as suas mentiras e engano. Vocês conspiram contras vocês.
Após, o gato voltou a dormir e desdenhou-os. E ali aos seus pés morreram ratos asfixiados , mas como o gato não compartilhava de suas decisões os ratos eram quem estavam matando uns aos outros.
E o gato comia, ronronava e dormia. Seus donos lá. E os ratos se matando.
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