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O grande caderno azul - LIV
R.N.Rodrigues

LIV

Ultimo dia de fevereiro, numa manhã de sexta-feira. Medo de um câncer bucal, a gengiva sangra quando escovo os dentes e fica dolorido.

Na oficina/ En la taller/ dans l'atelier/в мастерской
Confesso que a preguiça é maior e sem a mínima vontade de trabalhar. Programei-me para fazer umas soldas de sete chumbadores que um encabuloso da moto combinou comigo ontem a tarde de trazer agora de amanhã. Quando me lembro que vinha trabalhar aos domingos para mostrar que eu era muito trabalhador, oh! santa burrice, como eu era um idiota. E fora outras idiotices. Miller está sempre nos meus pensamento. O motoqueiro apareceu:
- Vim ver se já estava aberto - disse-me.
- Sim, senhor! - respondi alegremente.

Agora arranjar dinheiro para imprimir o romance,o que farei aos poucos. Depois encaderna-lo, reduzi-lo, xeroca-lo frente e costa - envia-los para as editoras para ser sistematicamente recusado. Vou adorar. Kerouac passou por essa angustia (mas quem sou eu para mim comparar com esse grande gênio literário) ao menos estarei fazendo a minha parte, espero que ao menos devolvam os originais. E ficarei sonhando, dar um alento a minha triste existência. Aleluia!Aleluia! -o dinheiro já esta no bolso.

Tempo nublado e ainda chuvisca.O asfalto molhado. Tonto, o pedreiro vem apanhar a trena para medir alguma coisa. A dona da grade passou e menti-lhe dizendo que o ferro ainda não foi entregue.Uma senhora da Rua 22 quer que eu vá tirar uma medida de um portão, não simpatizo muito com ela.Um motoqueiro que faz entrega estaciona a moto sobre a calçada de seu Cardoso,o merceeiro da esquina.
- Ei, meu filho é tu que tá mandando chover?
Os chuviscos retornam, me esforço para arrotar.pequenas pedras e cacos de tijolos espalhados sobre o asfalto trazidos pela enxurrada da ladeira. Não tenho duvida, vou digitar esse caderno.estava lendo-o de cabo a rabo e confesso que gostei - "O grande caderno azul" - é isso ai. Vamos trabalhar no nosso sonho. A barriga se contorce de fome.

Tarde
12:59 - O casalzinho chega. Acabei de banhar-me, dei dois reais para inteirar uma garrafa depinga, também comprei macarrão, ervilha e milho para fazre uma macarronada para o jantar.A linguiça comprei ontem.
- Já comeu?- perguntou-me minha cunhada meio sonolenta deitada no sofá.
- Larissa choveu para cá? - uma pergunta antoniana.
Um barulho peculiar vem da cozinha, sara colocando o almoço do esposo.
Na praça do Bacurizeiro estava apenas Piaba, Dirty Harry que o pai é coronel do exercito e a mãe é funcionaria da UFMa.Alan Puro ia saindo, dei-lhe os dois reais reias, duas moedas de um real,o resto inteirou. Minuto depois trouxe uma garrafa.Degustei até ainda pouco. Minha cunhada desperta, Mano Biné está confinado em Teresina, prestando serviço para o genro. O computador esta quebrado há duas semanas.Elvis Presley numa versão remasterizada. O melhor do melhor.
17:41 - Aleluia! Aleluia! A mãe de Dona da esquina da Praça do Bacurizeiro com a rua Bom Jesus esperava-me pacientemente, em pé, por trás da grade. Ficou feliz ao ver-me aproximando-se devagar.O céu nublado.Abriu o portão., a seguir para medir o basculante que estava encostado na parede da cozinha.
- O senhor veio buscar os quarenta reais? - perguntou-me pacientemente, respondi-lhe que sim - Então o senhor vem buscar amanhã, pois não tenho trocado.
Entristeci,pois me havia programado dar uma caminhada pela manhã até o bairro da Areinha no Deposito da Ferronorte para comprar os ferros.
- Há não ser que o senhor leve os cinquenta reais - disse-me calmante com o seu rosto maternal que toda vovó tem.
- Eu tenho troco. - E assim foi feito. Deu-me a cédula de cinquenta - Vou entrega-lhe no próximo sábado - falei-lhe entrando o troco - No outro sábado.
- Tudo bem! É carnaval. - e sorriu. Nos despedimos.
Mas antes de tudo isso quem salvou a pátria foi Seu Eriberto,vizinho que emprestou-me a trena. Agora estou aqui no sofá,dando um bom peido, fruto do mingau de milho de tia Lena que minha cunhada ajudou a preparar e trouxe um pouco para nós. Chove. Sarinha fez a macarronada. Larissa contente, o pai trouxe um notebook da escola. Vesti a minha camisa de dormir com seu cheirinho peculiar de suor, isso é sinal que não vou mais sair. Vou ler "50 Grandes Mestres da Psicologia" de Bowdon



Biografia:
Sou ludovicense, serralheiro e adoro escrever. ja publiquei dois livros de poesias e agora estou publicando os meus poemas no site francês.
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