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Histórias Inacabadas
Eu e você
Márjore Lacerda

Acordar ao seu lado sempre fora a alegria das minhas manhãs. O jeito como seus cabelos cacheados emolduravam seu rosto era uma dádiva do universo. Apesar da sua implicância para com os mesmos eu adorava enrola-los entre meus dedos. Às vezes, puxava-os só para aborrecê-la.
Sorriu silenciosamente para não a acordar.

Mas mesmo me esforçando para não atrapalhar a leveza de seus sonhos, do lado esquerdo da cama observei-a se mexer bruscamente. Será que eu ocupava seus melhores sonhos? Penso distraído. Notei que uma mecha de seus cachos caíra sob seus olhos como se rebelasse e não quisesse estar ali.

Então, como que por impulso, coloco-o delicadamente de encontro com os outros atrás da orelha. Linda, eu observo mentalmente.
Ela realmente não entendia o efeito que tinha sobre mim. Adorava seu jeito doce, meigo e encantador.

Quando seus olhos pousavam de encontro aos meus irradiavam calmaria. No entanto, quando não conseguia decifrá-los a agonia me preenchia de súbito, pois sentia uma necessidade inexplicável de entender seus pensamentos. Queria saber de seus piores medos e aflições. Dos seus sonhos, das suas malicias, da sua felicidade. Será que ela compreendia essa necessidade?

- Amor? – Ela me chama calmamente com a voz meio embargada, despertando-me de meu torpor. Ah aquela voz! Por ela eu daria tudo. Aliás, não imagino um mundo sem esse som acolhedor. – Amor, você tá bem? – ela continua. Em um gesto totalmente descompromissado ela toca em algo abaixo de meus olhos.

Não.

Não havia percebido que me emocionara a tal ponto. Mas naquele momento não senti vergonha, pois percebi que chorar foi o modo que meus olhos encontraram de expressar tamanha explosão dentro de mim. Como percebi a agonia em seus olhos, resolvi proferir as seguintes palavras:

- É que, quando se trata de você, eu fico assim, sem saber com reagir. Você me deixa sem ar, mas de um jeito bom. Eu a amo, agora eu sei disso. Às vezes tenho tanto a dizer, só que por medo de assustá-la prefiro o silêncio...

-Shhhhhi, ela me interrompe e inclina-se para me beijar. Naquele momento não me importei mais com nada, só na sensação de tê-la em meus braços e na felicidade que inundava todo meu ser.   


Este texto é administrado por: marjore mariana lima lacerda
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