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O Grande Caderno Azul - XV
R.N.Rodrigues

XV

Manhã um pouquinho fria, mas com sol generoso - Sonhos, sonhos - Cada um mais esquisito que outro - como numa sessão de cinema. Dona Van,a grade musa como sempre foi a estrela principal, depois outro com se fosse um depoimento de Dostoiévski falando sobre o personagem Raskolnikov. E o ultimo bem interessante - Eu e Karl com duas crianças passeando por ruas esquisitas.
07:20 - Pronto para encara a realidade. Um café preto com duas bolachas agua sal morfentas e quebradiças. É o nosso inferno. Vou para oficina. Que Deus me proteja e me dê um bom dia de trabalho, não só para mim, mas para todos.

Mais tarde na mesma manhã entre dez a onze horas - A grade de bojo pronta para a solda que será efetuada amanhã com a graça de Deus. Uma promessa de um serviço que sempre o dono fica de trazer o dinheiro e nunca traz. Vamos a Paris com meu grande mestre Balzac e suas tramas perfeitas.
Aleluia!Aleluia! - Seu José de Ribamar da Rua 25 trouxe os cem reais prometidos para a compra dos ferros.

Meio-dia e quinze minutos - Paguei o jovem Bruno, comprei uma garrafa de cachaça fiado no sábado passado. Ganhei de Dona Zimeire, uma lata de manteiga Real que comprou no Supermercado Mateus do bairro do Renascença. Dei vinte reais para minha cunhada ajudar nas despesas. Comprei dois empanados de frangos e um frasquinho de perfume. Nha Pú deu-me dez reais. estou no meu esfarrapado sofá bem coberto com uma bela capa vermelha.
l6:30 - Ventos anunciam chuvas.O tempo esfria. Antenor no banheiro. Seu Raposo fica de mau-humor quando se fala em comprar fiado. Raios e trovões explodem no horizonte. Minha cunhada irritada com tudo - é com a cachorra que cava um buraco no quarto dela, com a tramela do trinco da fechadura da porta, com Larissa, com a chuva.Os pingos grossos estatelam-se nas telhas.O vento forte e trovões. As preocupações aumentam com os perigos que a chuva representa.O cheiro de terra molhada
- Não vai chover muito - diz Antenor para a azafamada e agoniada sogra.

Noite - O mesmo abuso de todas as noites com minha cunhada resmungando com seus cães que não querem serem catados. O bom jantara - arroz e peixe serra escabechado com feijão.Passei a tarde com Balzac. Mas agora mudarei para alguma cidadezinha da Inglaterra como o meu amigo e mestre Dickens.
21:50 - da Inglaterra para a distante Petersburgo nas penas de Dostoiévski.
23:00 - Minha vida é uma grande caca.estou naquela fase depreciativa, onde nada me alegra, somente pensamentos negativos. O mundo externo me pressiona, a tristeza de ver que as coisas não acontecem como queríamos - Penso em até abdicar de escrever, quem vai ler um livro de um serralheiro idiota que se acha entendido em literatura, quando na realidade ele mesmo se engana. Cria ilhas de ilusões para se refugiara - um eremita urbano que vai levando a vida aos trancos e barrancos, pois conhece a realidade, mas com Dom Quixote prefere ver o que quer - sonha e sabe que nada vai modificar o seu mundinho. Quimeras - Vivo a minha existência medíocre como ela é, não me iludo. Gostaria de ser um qualquer, uma pessoa normal, mas não sou e é isso que dói. Mesmo assim, mechas gracias Señor Dios - большое спасибо


Biografia:
Sou ludovicense, serralheiro e adoro escrever. ja publiquei dois livros de poesias e agora estou publicando os meus poemas no site francês.
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