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SER AMIGO
FRANCISCO MEDEIROS QUARTA

SER AMIGO

       Ser amigo é lutar sempre, enquanto nos reste um sopro de vida, mesmo por quimeras insolúveis, desde que tal utopia traga um pouco de felicidade a quem o nosso coração fez reinar. Para ele não há razões, etiquetas ou quaisquer outros impedimentos! É dar tudo, sem ter nada, sem pensar em contrapartidas, não distinguindo sexo, idade ou condição social. É buscar, ao longo das insónias, tudo o que possa fazer sorrir quem, quiçá, involuntariamente, assentou arraiais para todo o sempre no nosso imo, porque lho franqueámos, em êxtase! Beijar e abraçar, quantas vezes sem lábios nem mãos, na tentativa de enxugar lágrimas, partilhar sorrisos.
       Desde o primeiro instante da nossa eleição, simplesmente espontânea, abolimos o “não” do nosso dicionário!
       Amizade jamais pode confundir-se com escravidão ou altivez: não sabendo fingir, o amigo transforma defeitos em virtudes; esclarece o obscuro, aos olhos da razão. A sua mais cruel tortura é causar desagrado ou decepção! Transbordando de felicidade, junto do ser que o enleva, quantas vezes se martiriza, julgando-se estorvo! Amálgama de ternura, dedicação e receio de importunar! Se os sentimentos ou atitudes do ser querido forem levemente beliscados, pior ainda, na sua ausência, transformamo-nos em feras, dispostos à defesa, não só com unhas e dentes, mas, se necessário, com o sacrifício da própria vida, cuja imolação será o cumprimento do dever!...
       Que inebriante felicidade nos bafeja, quando o alvo das nossas atenções nos dispensa o mais simples dos sorrisos, proporcionando-nos a oportunidade de lhe sermos útil: teremos alcançado o Céu, na terra! Dilaceramo-nos a cada momento, quando buscamos inutilmente a solução para os seus problemas; impotentes, choramos as suas derrotas, sem abandonar o barco, no naufrágio!
        A filosofia do amigo é a simplicidade, a tentativa de que o compreendam, de que se julguem seguros na sua companhia, na certeza de que, em caso de perigo, só sucumbirão após ele!
        A alma do amigo pode comparar-se, salvaguardando distâncias, à dedicação materna, que jamais evitará ser martirizada, para que os filhos não se magoem, mesmo levemente!
        E quando, sem reservas, nos sentimos repelidos?! É o fim! Quais manequins sonâmbulos, desistimos de lutar: para quê rastejar de alma morta?! Os vivos que nos rodeiam nem se apercebem, tal a indiferença quotidiana!
       Mas para quê manchar com o labéu do pessimismo um sentimento tão belo, ainda por cima na quadra natalícia, que deveria durar o ano inteiro?!...
        Ser amigo é acreditar sempre. Não duvidarei! Para ti estarei incondicionalmente ao dispor, na expectativa de que seja milionária a minha pobreza! Quero emoldurar do mais feliz sorriso esse doce rosto, quantas vezes dilacerado pela incompreensão do dia a dia!
        Se te decepcionar, perdoa! Não foi por mal! Era impossível!...

     


Este texto é administrado por: ANTÓNIO MANUEL FONTES CAMBETA
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