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Em busca do tempo escrito - Vivendo & Escrevendo - II
R.N.Rodrigues

DIA DA FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO LUIS - O computador começa a dar problema eu arquivo esta quase no final, a minha pressa as vezes me leva a fazer loucuras que depois me arrependo, mas agora não tem volta, comecei tenho que terminar. Quando cheguei a Praça do Bacurizeiro encontrei apenas Matraquinha e Seu Valdir Pintor ambos tristes sentados cada um num banco, a espera de outros membros que pouco a pouco foram chegando.

Começo da tarde - minha cunhada prepara-se para sua viagem a sua cidade natal Pedreira para tratar de um assunto referente a sua sonhada aposentadoria. Tia Ângela faz as unhas. Digitei mais umas folhas, ouvi as canções bregas com Jackson do Pandeiro e outros. Para levantar um pouco a minha decaída moral, enquanto assistia a um filme insosso na sessão da tarde, apanhei o antológico "Pé na estrada" do louco Kerouac, que sempre admirei antes mesmo de Lê-lo nos anos 80 - conheci-o através das reportagens e criticas que lia avidamente no sótão da Casa grande dos Bambas, sentado numa poltrona caindo aos pedaços cor jerimum, debaixo de um fortíssima lâmpada de filamento de 100 velas, até que num começo de noite na banca do Irmão, na Avenida Magalhães de Almeida na calçada do prédio do Ferro de Engomar, onde encostava todas as tardes quando vinha de comprar as bisnagas de pão na padaria do Supermercado Lusitana na Rua de Santana encontrei-o nos meios de outros livros usados, o exemplar de "Os Subterrâneos" com a apresentação do velho e bom Henri Miller elogiando a sua prosa. A historia de amor entre ele e a negra Maddox Fox foi apenas um aperitivo. Passaram-se quase trinta anos até reencontra-lo numa gôndola circulatória num box de uma editora na Feira do Livro, o que sempre procurei. E agora releio para aumentar a minha autoestima - as vezes duvido da minha capacidade de escritor, sou ou não sou? Então sou o quê um farsante? Que engana a si próprio. A minha personalidade instável, as vezes muda o meu conturbado pensamento. Ora me aceito, ora me odeio e caio em depressão e nada tem sentido. As imagens distorcidas do meu ser questionam-me incansavelmente buscando respostas que nunca encontrarei. Para fugir dessa celeuma psicológica leio e releio Miller, Dostoievski, Balzac, Kerouac e outros - santos evangelhos da sagrada literatura que iluminam a minha escura situação. Não é fácil viver essa dualidade permanente "De ser ou não ser" - ouvindo na SKY os sucessos dos anos 70, que me faz suspirar de saudade da minha vidinha familiar na Casa Grande - de Pai Bamba, de Nhá Gaça, de Mãe bibi, todos. mas sou assim mesmo encabuloso, taciturno, sem firmeza - resumindo sem medo; uma vacilão.
Contos os dias para entregar os livros e apanhar outros na biblioteca itinerante do SESC, a minha única diversão. Aos poucos o céu vai escurecendo, as lâmpadas dos postes acendendo. Um boliviano torcedor do Sampaio Correia chato e abusado de carro com o som alto de uma versão funkeira do hino do seu clube O negão forte barbeiro esposo da irmã de uma ex-amiga Tati que foi companheira do ator Auro Juricié vai para o trabalho de guarda de segurança. Kerouac animou-me a escrever como sei. A confissão de Raskolnikov para a frágil Soniae o safado do Svidrigailov ouvindo atrás da porta no outro quarto. A sofrida Catierina e seus filhinhos amedrontados, abraçados dentro do baú chorando, a malvada da senhoria a alemã Amália quebrando as poucas coisas e expulsando-os do quero. A realidade dura da miserabilidade de uma cidade portentosa com Petersburgo no século XIX. Uma linda lua brilhante surge por trás das casas na direção do Piancó. O vento refresca os sentimentos.



Biografia:
Sou ludovicense, serralheiro e adoro escrever. ja publiquei dois livros de poesias e agora estou publicando os meus poemas no site francês.
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