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O amor mora numa caixa
do lado esquerdo do peito,
sem cadeado ou fechadura ou trinco ou taramela;
vem quando quer, vai quando menos se espera,
sem deixar recado, viajar é de seu direito...
Sabe-se que anda pelo mundo como andarilho
a procurar sabe-se lá o quê,
sem a ninguém dizer nada;
já o viram a dormir numa árvore com esquilos,
outros o viram rondando um casal
em alta madrugada...
Quando quer mostrar
que é diferentemente diferente
pousa, delicado, no peito de um curioso ancião,
que sai à rua à procura da amada
de um jeito tão quente
que quando a encontra, de tanto calor,
quase incendeia o coração...
Desconhece o valor do lugar
onde procura a pessoa,
pode ser num presídio, hospital,
beco, viela, casamento,
anda com um sino na mão esquerda
e quando ele toa
mexe como fosse um ciclone
o procurado, por dentro...
Aqui, por enquanto, não passou,
nem mandou bilhete,
respiro saudoso da vez
que modificou minha estrutura;
foi como se, num grande calor,
encontrasse um pote de sorvete,
o abismo se abrisse sob meus pés
e eu voasse até as alturas...
Olhe, pode estar chegando para você,
de repentemente agora,
furtivo como cabe a todo sentimento
que a alguém traz rubor;
desperta os pássaros que dormem,
silentes, na gaiola que se abre
e faz voar o rouxinol mais lindo
chamado amor...
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