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Garoa diária
João Carini

Acordar era difícil. Acordar atrasado já nem o preocupava mais, perder seu ônibus era rotina e sua rotina já era de perder o ônibus, acordar atrasado e saber que tudo ia se repetir no dia seguinte. Já dentro, uma cena mais rotineira que sua própria rotina, entre caras emburradas, fones no volume máximo e joguinhos de celular, mais um ponto. Ponto do jogo ou ponto de ônibus, passa a roleta, novo recorde, parabéns, você ganhou. Lá fora o cinza reinava absoluto, uma gota caia devagar, todo mundo olhava ele entrando no ônibus, ninguém sabia se o rosto molhado era pela gota tímida que o olho esquerdo derramava ou pela obra homônima da terra da garoa. Ponto desce, olha o lugar vazio, esquece do jogo, perde os dois. Ônibus para, segundo round, sem gotas no semblante ou no firmamento, mais fila, muita coisa para pensar, muita catraca para rolar. Ponto final.
Chegou em cima da hora, meio molhado, meio pensativo, agora o dia começava mas todos ali já imploravam pelo fim, pensava no futuro mas abandonara o passado e já nem ligava para presente. Tic-tac, queria desesperadamente o final do ano, tic-tac, implorava o final de expediente, tic-tac, percebeu que o relógio tinha parado, tic-tac, perdeu o almoço. Respostas, as queria acima de tudo, exame final próximo, pressão, muita pressão, pensava no chefe, esqueceu das artérias. Corre para o hospital, mais fila, tempo perdido, plano de saúde não cobre, não sabia o que pensar muito menos o que fazer, suspirou, nada grave. Volta para o trabalho e com ele volta a chuva, tudo igual, e porque seria diferente? Senta na cadeira, toca o telefone, responde por osmose e por osmose se levanta, bate o sino e com o sino o cartão, na hora de ir embora, a pressa se confunde com felicidade e tudo isso se mistura em um lotado vagão de metrô.
Na estação percebe que sua velha companheira molha agora toda a cidade e dá um olhar melancólico aquela estação pichada com uma mistura de pessoas e pombas. Mais chuva, mais pessoas e mais fila, a cabeça doía, seu relógio tinha parado, inscrições abertas, com as inscrições veio em seu pensamento o pesado martelo caindo em todas as direções, já tratou de limpar a cabeça, abre seu portão, e deita na cama já preocupado com o dia de amanhã, afinal, acordar era difícil.

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