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Coração presente
Rodrigo Pereira dos Santos

Tênues ou gigantescas linhas parecem não interferirem na localização do nosso coração. Onde está o nosso coração? Está agarrado a nós, inseparável, passemos por onde e pelo que for. Posso estar numa maravilha do mundo e aí estará meu coração. Talvez num vilarejo colorido ou cinza. Nas nuvens de um avião. No turbilhão metropolitano. No silêncio ocidental. Nas rochas, nas cavernas exploradas. Num café, museus, teatros, cinemas, praças e jardins. No ouvir da chuva, no derreter do sol, na suave brisa... Para onde eu for, ali estará meu fiel escudeiro-companheiro, coração inegável e presente.
     Não há como deixar nosso coração, nossa consistência, nosso eu, quer em passagens breves ou quer longas. Ficam lembranças, histórias, tesouros guardados pela eternidade. Mas é preciso entender que preciso do meu coração aqui e agora. Onde estou. O passado válido estará sempre comigo. Os sorrisos, as flores mais bonitas, as árvores mais majestosas, o vento nos meus cabelos... quantidade o coração desconhece. Cabe o que quisermos. Cabe o mundo. Cabem todas as histórias. Toda uma vida.
     O coração precisa do instante. O jardim. O outro lado da rua. A árdua missão de viver. Como é triste um coração sem abrigo, em que seu próprio dono, mesmo na impossibilidade, o deixa flutuando de lugar em lugar, de esquecimento em esquecimento. Não basta conhecer o mundo, as filosofias, os tratados, os costumes, os livros, as imagens, os sons. É muito pouco para um coração que pede humanidade e invisibilidades. O coração pede cuidados que são nutridos na simplicidade. Ele queria tanto parar naquela rua e admirar um jardim. Quisera sentir um pouco do vento. Tanto quis um sorriso, uma lágrima, uma mão, um olhar. A mídia é insuficiente para o coração. E até onde a ciência pode alcançar?
     Não se descarta um coração com a ilusão das vitrines e da virtuosidade brilhante e chamativa da cultura, da sociedade consumista. Há a necessidade de se ter um coração humano, de ser um homem humano. Corações plásticos fatalmente derretem. Os de papel se vão... Mas os de carne, estes sim sentem o pulsar da vida e o valor verdadeiro dela. O coração de carne sabe perdoar, amar, enfrentar limites, encarar as supostas impossibilidades. Este sabe perder, recuar, partir, guardar e derramar.
     Olhando para a pressa do mundo, para o pensamento acelerado, para o jogo interesseiro da compra e da venda, da troca de favores, do prazer a todo custo, do abandono, me faz querer muito que meu coração não se apedreje, não se transforme no aço dos prédios, no vidro inquebrável das vitrines, no ferro das prisões... Quero um coração tão humano que saiba dar bom dia, que saiba amar sem limites, que saiba não temer a simplicidade, que saiba partilhar.
     Quero meu coração aqui no meu peito, bem forte, atento ao que realmente é a vida e ao seu sentido. Pronto a saber escolher entre o essencial e o que posso viver sem. Quero um coração, apenas um coração.
     


Biografia:
Rodrigo Pereira dos Santos, professor de Língua Portuguesa, psicanalista, com poesias e crônicas publicadas
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Outros títulos do mesmo autor

Crônicas Coração presente Rodrigo Pereira dos Santos
Poesias Desencontros Rodrigo Pereira dos Santos


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