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A Decisão
Larissa do Livramento

Com uma das mãos ele segurava a xícara de café, ah, o doce aroma do café... Aquela era sua bebida favorita, uma espécie de artifício para acalmar os pensamentos. Mas dessa vez, sua estratégia habitual não parecia estar dando certo. A cada gole de café, o nervosismo aumentava, a dúvida invadia sua mente. Aquele era o desconforto de quem toma uma séria decisão. Sim, aquela era uma séria decisão, a final de contas, desapegar-se assim de algo que esteve em sua vida por tanto tempo não era fácil.
            Seus olhos vagavam observando a rua através da vitrine da lanchonete. Talvez aquela fosse a decisão mais importante de sua vida. Mais importante do que quando ele finalmente escolheu a sua profissão (e não foi nada fácil), mais até do que escolher com quem se casaria (foi mais difícil ainda). Havia um temor dentro dele, uma sensação estranha que ele jamais sentira em sua vida.
            O último gole de café foi como um aviso de que não havia mais tempo para pensar. E como ele gostaria que aquele momento fosse eterno, como desejava que aquela xícara de café nunca terminasse, como ansiava por nunca ter que tomar aquela decisão. Seu maior inimigo naquele momento era o tempo. E quanto mais o tempo passava, maior era sua angústia. Mas aquele homem sabia que por quanto mais tempo adiasse o inevitável, maior seria seu sofrimento.
            Ao sair da lanchonete, não havia outro lugar para ir se não a sua casa, o lugar no qual ele finalmente iria fazer o que precisava. E ao chegar lá, seus passos rumo à sua decisão pareciam pesados, lentos. O homem passou por alguns cômodos da casa vazia, até chegar ao seu quarto. Ele abaixou-se em frente à cama, e com o coração acelerado, retirou do escuro espaço, um pequeno baú. Foi aí que suas mãos gelaram, e ele sentou-se na beira da cama, na tentativa de encontrar um breve alívio.
            Suas mãos percorreram a tampa do baú até o encaixe feito para abrir a pequena peça de madeira. Com o baú aberto, seus olhos fitaram todo o conteúdo em sua frente. Como quem está hipnotizado, ele ficou por alguns minutos apenas olhando para o baú, tentando uma última fuga, uma última tentativa de voltar atrás. Mas já não havia jeito, aquela decisão fora adiada por tempo demais, e finalmente, ele levantou-se da cama, pegou o baú e seguiu para o seu carro.
            Não muito longe dali, lá estava ele, com o carro estacionado e o baú em mãos na beira da ponte. Ele já não aguentava esperar, a tortura por livrar-se daquilo se tornou em ansiedade por finalmente fazê-lo. E sem nenhuma cerimônia, ele soltou o baú, que abriu-se ao ler lançado ponte abaixo. Cada objeto, uma parte de sua vida. Cada foto, cada lembrança se perdeu em meio as águas escuras do rio. - Finalmente acabou! – Ele sussurrou consigo mesmo. O alívio foi imediato, como se um peso tivesse sido retirado de suas costas. E quem diria que seria tão difícil e ao mesmo tempo tão bom, se livrar do seu passado e poder olhar apenas para frente.


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Contos A Decisão Larissa do Livramento


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