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Espírito de Moderação
Calvino

Por João Calvino

“Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor.” (Filipenses 4.5)

“Sua moderação”. Isto pode ser explicado de duas maneiras. Podemos entender como se Paulo lhes estivesse propondo que seria melhor renunciarem a seus direitos, do que reclamá-los com aspereza e severidade. "Deixe que todos os que têm que lidar com você tenham a experiência de sua equidade e humanidade." Desta forma, “ser conhecida” significa “experimentar”. Ou podemos entendê-lo como lhes exortando a perseverarem em todas as coisas com equanimidade. Eu prefiro este último significado; porque é um termo que é usado pelos próprios gregos para denotar moderação de espírito - quando não somos facilmente movidos por injúrias que recebemos, quando não ficamos facilmente irritados com a adversidade, mas mantemos a equanimidade de temperamento. De acordo com isto, Cícero faz uso da seguinte expressão: "Minha mente está tranquila, que toma tudo pela parte boa." Tal equanimidade - que é como se fosse a mãe da paciência - ele requer aqui da parte dos Filipenses, e, de fato, como se manifesta a todos, segundo a ocasião exige, por produzir seus efeitos apropriados. O termo modéstia não parece apropriado aqui, porque Paulo não está nesta passagem lhes advertindo contra a insolência arrogante, mas os direciona a se conduzirem pacificamente em tudo, e a exercerem controle sobre si, mesmo na resistência a injúrias ou inconvenientes.
“O Senhor está perto”. Aqui temos uma antecipação, pela qual ele elimina uma objeção que poderia ser apresentada. Porque o senso carnal se levanta em oposição à afirmação anterior. Porque, como a ira dos ímpios é mais inflamada em proporção à nossa brandura, e quanto mais eles nos veem preparados para perseverar, são mais encorajados a infligir injúrias, somos em meio às dificuldades induzidos a possuir as nossas almas com paciência (Lucas 21.19). Daí esses provérbios: "Devemos uivar quando entre lobos". "Aqueles que agem como ovelhas serão rapidamente devorados por lobos". Daí se pode concluir erroneamente, que a ira dos ímpios deve ser reprimida pela violência correspondente, para que eles não possam nos insultar impunemente. A tais considerações Paulo aqui opõe a confiança na Divina Providência. Ele replica, eu digo, que o Senhor está perto, cujo poder pode superar a sua audácia, e cuja bondade pode conquistar sua malícia. Ele promete que ele vai nos ajudar, desde que obedeçamos o seu mandamento. Agora, quem não preferiria ser protegido somente pela mão de Deus, que tem todos os recursos do mundo sob seu comando?
Aqui temos um sentimento mais belo, a partir do qual podemos aprender, em primeiro lugar, que a ignorância da providência de Deus é a causa de toda impaciência, e que esta é a razão pela qual somos tão rapidamente, e em assuntos triviais, lançados na confusão, e, muitas vezes, também, nos tornamos desanimado porque nós não reconhecemos o fato de que o Senhor cuida de nós. Por outro lado, aprendemos que este é o único remédio para tranquilizar nossas mentes - quando repousam sem reservas em seu cuidado providencial, como sabendo que não estamos expostos ou à imprudência de fortuna, ou ao capricho dos ímpios, senão que estamos sob a regulação do cuidado paternal de Deus. Em suma, o homem que está na posse desta verdade, que Deus está presente com ele, tem o que pode lhe dar descanso com segurança.
Há, porém, duas maneiras pelas quais é dito que o Senhor está perto - seja porque seu julgamento está próximo, ou porque ele está preparado para dar uma ajuda para o seu povo, sentido este que é usado aqui; e também no Salmo 145.18: “O Senhor está perto de todos os que o invocam.” Assim, o significado é - "Miserável seria a condição do piedoso, se o Senhor estivesse longe dele". Mas, como ele os recebeu sob sua proteção e tutela, e os defende por sua mão, que está presente em toda parte, deixe-os descansar sobre esta consideração, que não podem ser intimidados pela ira dos ímpios. Isto é bem conhecido, e questão de ocorrência comum, que o termo solicitude (cuidado) é empregado para indicar a ansiedade que procede da desconfiança do poder ou ajuda divinos.

Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

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