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Esperando em Deus
Calvino

Por João Calvino

“Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR.” (Sl 40.1-3)

1. “Esperei, esperando”. O início deste Salmo constitui uma expressão de gratidão na qual Davi relata que fora libertado, não apenas do perigo, mas também da presença da morte. Há quem defenda a opinião, mas sem boas razões, de que esta oração deve ser entendida como resultado de uma enfermidade. Deve-se, sim, pressupor que Davi, nesta passagem, envolve uma infinidade de perigos dos quais ele escapara. Certamente estivera mais de uma vez exposto ao maior de todos os perigos, a morte; de sorte que, com boas razões, podia dizer que fora tragado pelo abismo da morte e atolado em lodo lamacento. Não obstante, o que transparece é que sua fé ainda continuava firme, porquanto não cessou de confiar em Deus, embora a longa permanência da calamidade deixara sua paciência à mercê da exaustão. Ele não nos diz simplesmente que havia esperado, mas pela repetição do mesmo verbo revela que fora deixado por longo tempo em angustiante expectativa.

À medida, pois, que sua provação se prolongava, a evidência e prova de sua fé em suportar a delonga com calma e equanimidade mentais se faziam ainda mais patentes. O significado em suma consiste em que, embora Deus delongasse seu socorro, não obstante o coração de Davi não desfaleceu, nem se cansou; antes, depois de dar, por assim dizer, suficiente demonstração de sua paciência, por fim foi ouvido. Em seu exemplo surge diante de nós uma doutrina muito proveitosa, a saber: embora Deus não se apresse em surgir em nosso socorro, no entanto propositadamente nos mantém em suspenso e perplexidade; entretanto, não devemos perder a coragem, já que a fé não é totalmente provada senão pela longa espera. O resultado também, do qual ele fala em termos de louvor, deve inspirar-nos com crescente constância. É possível que Deus nos socorra mais lentamente do que gostaríamos, mas quando parece não tomar ele conhecimento de nossa condição, ou, se é que podemos usar tal expressão, quando parece inativo e a dormitar, isso é totalmente diferente de enganar; pois se somos incapazes de suportar, mediante o vigor e o poder invencíveis da fé, o tempo oportuno de nosso livramento por fim se manifestará.

2. “E me tirou duma cova estrondosa”. Há quem traduza: do covil da desolação, visto que o verbo shadh, do qual o substantivo shaon, se deriva, significa destruir ou devastar, tanto quanto ressoar ou ecoar. Mas é mais apropriado considerar que há aqui uma alusão aos abismos profundos, donde as águas jorram com força violenta. Com esta similitude ele mostra que fora exposto a um iminente perigo de morte como se houvera sido precipitado num poço profundo, estrondoso pela impetuosa fúria das águas. Com o mesmo propósito é também a similitude de o lodo lamacento, pelo qual ele informa que estivera tão perto de ser submerso pelo volume de suas calamidades, que não lhe fora fácil desvencilhar-se delas. Em seguida surge súbita e incrível mudança, pela qual ele manifesta a todos a grandeza da graça que lhe fora concedida. Declara que seus pés foram postos sobre uma rocha, enquanto anteriormente se vira submerso em água; e que seus passos foram bem firmados, enquanto anteriormente não só eram vacilantes e escorregavam, mas também se viu atolado na lama.

3. “E pôs em minha boca um novo cântico”. Na primeira cláusula do versículo, ele conclui a descrição do que Deus lhe havia feito. Com a expressão, Deus pôs um novo cântico em minha boca, ele denota a consumação de seu livramento. Seja qual for a maneira em que Deus se agrada em socorrer-nos, ele não exige nada mais de nós senão que sejamos agradecidos pelo socorro e o guardemos na memória. Portanto, à medida em que ele nos concede seus benefícios, abramos imediatamente nossa boca e louvemos seu nome. Visto que Deus, ao agir liberalmente em nosso favor, nos encoraja a cantar seus louvores, Davi com razão reconhece que, havendo sido tão portentosamente liberto, o tema de um novo cântico lhe fora fornecido. Ele usa o termo novo no sentido de raro e não ordinário, uma vez que a forma de seu livramento foi singular e digna de eterna memória. É verdade que não há benefício divino tão minúsculo que dispense nossos mais elevados louvores; quanto mais ele estende sua mão, porém, visando a nos socorrer, mais devemos exercitar-nos a um fervoroso zelo neste santo exercício, de sorte que nossos cânticos correspondam à grandeza do favor que porventura nos tenha sido conferido.

“Muitos o verão”. Aqui o salmista estende ainda mais o fruto do auxílio [divino] que experimentara, dizendo-nos que o mesmo provera os meios de instrução comum a todos. Por certo que a vontade de Deus é que os benefícios que ele derrama sobre cada um dos fiéis sejam provas da benevolência que ele põe constantemente em ação em favor de todos eles, de modo que um, instruído pelo exemplo do outro, sem dúvida a mesma graça se manifestará beneficiando a cada um deles. Os termos temor e esperança, ou confiança, à primeira vista não parecem harmonizar-se. Davi, porém, não os juntou impensadamente; pois ninguém jamais nutrirá a esperança do favor divino senão aquele cuja mente é antes imbuída com o temor de Deus. Entendo temor em termo geral significando o sentimento de piedade que se produz em nós pelo conhecimento do poder, da equidade e da misericórdia de Deus. O juízo que Deus exerceu contra os inimigos de Davi serviu, é verdade, para inspirar em todos os homens o temor [divino]; em minha opinião, porém, Davi antes pretende dizer, pelo livramento que obtivera, que muitos seriam induzidos a consagrar-se ao serviço de Deus e a submeter-se, com toda reverência, à sua autoridade, porquanto o conheceriam como o Juiz do mundo. Ora, todo aquele que cordialmente se submete à vontade de Deus necessariamente associará a esperança com o temor; especialmente quando surge diante de seus olhos a evidência da graça pela qual Deus costuma atrair a si todos os homens. Pois eu já disse que Deus se manifesta ante nossos olhos como misericordioso e bondoso para com outros, a fim de que nos asseguremos de que ele será o mesmo em relação a nós. Quanto ao verbo, verão, do qual Davi faz uso, devemos entendê-lo como uma referência não só aos olhos, mas também e principalmente à percepção da mente. Todos, sem distinção, viram o que acontecera, a muitos deles, porém, nunca chegaram a reconhecer o livramento de Davi como sendo obra divina. Visto, porém, que tantos são cegos relativamente às obras de Deus, aprendamos que somente os que se consideram possuidores da faculdade perceptiva, a quem foi dado o Espírito de discernimento, os quais não ocupam sua mente em pousar sobre os meros eventos que sucedem, mas têm a capacidade de discernir em si, pela fé, a mão secreta de Deus.

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