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O Canto do BEIJA-Flor
Marcelo Pereira da Silva Junior

Resumo:
Antigamente, numa grande fazenda com várias formações de montanhas e matas viçosas, por onde passava o rio Borborema com suas águas tranqüilas e escuras, era um lugar repleto, de mitos. Quando as tardes chegavam, sons e ares de mistério cobriam a paisagem que muitos diziam ser encantada. Em direção a uma estrada de tijolos de pedra, coberto por galhos secos e altas árvores que a acompanhavam, dava-se para uma casa rodeada de trepadeiras e ao seu lado um majestoso pé de jacarandá, onde moravam bondosos avós; Albina e Arlindo que cuidavam de três netos: Lúcia, uma menina morena de cabelos negros, olhos esverdeados, muito simpática que não separava de sua irmã Leninha, um pouco mais nova, mas pronta para ajudá-la. E, também Júlio, um menino esperto que gostava era mesmo de uma boa aventura e principalmente ouvir as histórias fantásticas do avô que guardava muito segredo. Na frente da casa, numa varanda bastante confortável, havia uma rede, alguns vasos de plantas e até uma cadeira de madeira, onde Albina passava horas fazendo crochê e olhando as flores de seu belo jardim que em algumas mudas de pinheiro havia orquídeas, que se enchiam de insetos na primavera e também bonitos pés de rosa e jasmim do cabo, fazendo-a sentir-se orgulhosa. No fundo do quintal, não podia deixar de ter árvores frutíferas como a laranjeira, o abacateiro, o limoeiro e principalmente, o pé de manga que era o mais velhos entre as árvores. A fazenda ficava mais gostosa nas noites de sexta-feira, com o clarão da lua, Arlindo, na varanda, com os vizinhos e empregados se reunia para tocarem modas de violas e contarem histórias folclóricas. A vida era assim por lá; em boa parte do tempo Arlindo e os empregados com seus cavalos levavam a boiada para uma boa pastagem.


O Canto do Beija-Flor

1° Capitulo


     Antigamente, numa grande fazenda com várias formações de montanhas e matas viçosas, por onde passava o rio Borborema com suas águas tranqüilas e escuras, era um lugar repleto, de mitos. Quando as tardes chegavam, sons e ares de mistério cobriam a paisagem que muitos diziam ser encantada.
     Em direção a uma estrada de tijolos de pedra, coberto por galhos secos e altas árvores que a acompanhavam, dava-se para uma casa rodeada de trepadeiras e ao seu lado um majestoso pé de jacarandá, onde moravam bondosos avós; Albina e Arlindo que cuidavam de três netos:
     Lúcia, uma menina morena de cabelos negros, olhos esverdeados, muito simpática que não separava de sua irmã Leninha, um pouco mais nova, mas pronta para ajudá-la. E, também Júlio, um menino esperto que gostava era mesmo de uma boa aventura e principalmente ouvir as histórias fantásticas do avô que guardava muito segredo.
     Na frente da casa, numa varanda bastante confortável, havia uma rede, alguns vasos de plantas e até uma cadeira de madeira, onde Albina passava horas fazendo crochê e olhando as flores de seu belo jardim que em algumas mudas de pinheiro havia orquídeas, que se enchiam de insetos na primavera e também bonitos pés de rosa e jasmim do cabo, fazendo-a sentir-se orgulhosa.
     No fundo do quintal, não podia deixar de ter árvores frutíferas como a laranjeira, o abacateiro, o limoeiro e principalmente, o pé de manga que era o mais velhos entre as árvores.
     A fazenda ficava mais gostosa nas noites de sexta-feira, com o clarão da lua, Arlindo, na varanda, com os vizinhos e empregados se reunia para tocarem modas de violas e contarem histórias folclóricas.
     A vida era assim por lá; em boa parte do tempo Arlindo e os empregados com seus cavalos levavam a boiada para uma boa pastagem.



2° capitulo

     Era manhã, o sol tocava trombeta anunciando um novo dia. As matas da redondeza estavam verdejantes e floridas pelos ipês que anunciavam a primavera.
     Lúcia, debruçada na varanda, de olhos bem atentos sobre as altas montanhas que se destacavam no horizonte, de repente foi interrompida por Leninha que, com seu vestido de cor azul celeste e uma fita dourada aparecia sorrindo e dizendo:
     _Lúcia, vamos dar uma volta pelo lago Pedrisco? Veja: o dia está maravilhoso, o que acha?
     Sem cerimônia, a menina disse, toda franzida:
     _Estava esperando você me convidar; vamos. Mas espere que vou pegar a minha cesta, pois vou aproveitar e colher flores e algumas frutas silvestres.
     _Pois, vá rápido, porque estou muito ansiosa.
     E, não demorou muito, apareceu Lúcia com um olhar alegre e a cesta na mão, pronta para o passeio.
     Pedrisco era um lago cristalino com uma variedade de peixes coloridos e pedras de quartzo que, quando a luz do sol refletia, um brilho intenso surgia de seu fundo.
     Numa estrada de altas árvores, com o chão feito em tapete de margaridas, as meninas caminhavam com passos largos, seguindo um ritmo tranqüilo e divertido. Infinitas borboletas as rodeavam, num tom suave feito mágica; até pareciam estar num lindo sonho. Foi quando finalmente chegaram. Correram próximo de sua margem e com as mãos feita caneca tomaram água.
     Começaram, então a observar as árvores aos seus redores. Cheio de fruto e beleza, um pé de peroba, que se encontrava velho e com algumas orelhas de pau, fez as meninas o admirarem.
     _Lúcia, veja como esta árvore é frondosa, deve haver vários ninhos em sua copa e, até ser abrigo de macaquinho, daqueles micos leão..., raríssimo.
_Disso não sei, mas de que esta árvore é bela, sim. Sabe, vovô disse que a madeira dela é muito valiosa e útil. No Canto do Beija-Flor há centenas delas, por isso que os lenhadores e madeireiros invadem nossa fazenda!
_Pelo que eu vejo esta árvore é preciosa mesmo, fico honrada em saber que temos uma por aqui... – disse Leninha batendo palmas.
O Canto do Beija-Flor era uma mata densa e fechada pela qual passava o rio Borborema. Lá havia onças pardas, pintadas, macacos, capivaras, enfim uma grande variedade de plantas e animais silvestres.
O vento cálido, céu azul com raios de sol tingindo de ouro o rosto das meninas que por sua vez deitaram-se naquela multidão de flores brancas, cheio de vida. E, quando se deram por conta estava acompanhando as nuvens que uma hora se transformavam em castelos, camelos...; de repente sem esperar uma voz rouca, no entanto parecida como de uma velha indagou:
_Meninas saiam do sol quente, pode fazer mal a vocês!
Neste momento, Lúcia levantou-se, assustada e, cochichou no ouvido da irmã:
_Quem será que nos aconselhou: Veio dali! Você ouviu Leninha?
Abraçadas, ficaram encantadas quando viram aquela árvore que admiravam horas atrás, sorrindo para elas.
_Muito obrigada, senhora árvore, já vamos sair, mas me diga qual o seu nome? _ perguntou Lúcia corajosamente.
_O meu nome é Flora, sou a guardiã deste lugar, agora me diga como as senhoritas se chamam.
Em cortesia, Lúcia foi dizendo:
_Olha, me chamo Lúcia, e esta aqui é minha irmã, o nome dela é Leninha.
Leninha, para não se demonstrar perdida ou medrosa, disse:
_Sabe, a senhora teve razão de nos mandar sairmos do sol, não só devido ao seu calor, mas também porque ele aumenta as minhas sardas-esclareceu, por fim a menina.
_Fico contente por ter ajudado, mas vejo que não se dá bem com sardas.
_Sabe, dona Flora, a minha irmã é exagerada, fala cada uma! Mas mudando de assunto, me diga como se sente vivendo por aqui – disse Lúcia.
_Sinto-me como qualquer outra árvore, velha e feliz, pois aqui meus amigos trazem a felicidade com seus cantos que ecoam diante desse magnífico lugar!
_Ora, vejo que a senhora se dá muito bem morando por aqui, por acaso mora outro ser encantado neste lugar? – Perguntou desta vez Leninha, franzindo a testa.
_Mas é claro que sim, dentre estas multidões de margaridas, existe um pé de dama da noite e nele mora a deusa das plantas, a melissa. Ela é do tamanho de um dedo seu.
_Verdade? Posso chamá-la, dona Flora?
_Bem, a dama da noite só se abre de noite, mas se vocês tentarem chamá-la, talvez poderão se conhecer.
Sem perder muito tempo, Lúcia e Leninha saíram a procura da flor e, não demorou muito encontraram-na e cutucaram-na vagarosamente com os dedos, até que, lentamente as pétalas começaram a se abrir e de dentro apareceu uma menina. Com seus cabelos verdes rodeados de folhas e uma rosa feita um broche e com seu pequenino corpo também coberto por uma camada de folhas, formando um vestido, surgiu diante das meninas. Em seu pequenino braço havia uma luva e a suas sobranceiras tinha uma camada de minúsculas folhas reluzentes.
Qual não foi a admiração que Lúcia e Leninha demonstraram, pareciam estar diante da magia dos contos de fadas, sem que ninguém as atrapalhasse.
Ficaram por vários momentos admirando a beleza da deusa; Lúcia, que adorava fazer amizade disse, depois de um sorriso:
_Olá Melissa, o que acha de ver um pouco o dia, olha como está bonito.
_Tem razão, pois faz anos que não o via. A última vez foi quando a borboleta Azul me derrubou na poça de água, quase morri – disse Melissa toda pensativa e espreguiçando-se.
Sem se dar conta, Leninha foi logo perguntando.
_Diga-me, é bom morar dentro dessa dama da noite, dona Melissa?
_Pare com essas perguntas não está vendo que ela é uma deusa... _ corrigiu Lúcia, olhando feio.
Mas isso não fez com que Leninha parasse, pois ela pediu a Melissa para que a deixasse pegá-la em suas mãos.
_Pode, mas veja se não me derruba – disse ela alisando seus, cabelos verdes.
_Leninha deu três pinotes e não resistiu à tentação, foi logo pegando-a, toda cheia de si.
_Não é uma gracinha, Lúcia, estou tão emocionada!
_É, sim. Mas Tome cuidado com ela, Leninha.
Melissa, depois de dar várias olhadas para as duas, disse:
_Onde vocês moram? Por acaso dentro do rio? São deusas também?
Foi uma risada geral, mas Leninha como gostava de aparecer foi logo dizendo:
_Claro que somos eu sou a deusa de tranças e ela é das cestas.
_Mentira, Melissa, não somos deusas patavina nenhuma, somos duas meninas que não têm nada para fazer _ disse Lúcia cutucando-a. Moramos naquela casa adiante e viemos passear por aqui...
_Sabe, esta dama da noite não é minha moradia, apenas é um recanto onde descanso, mas como sou uma deusinha, tenho um reino mágico, onde tudo é sagrado, principalmente as águas – disse Melissa com as mãos na cintura – Lá há flores de todas as espécies _ continuou.
_Estou maravilhada, Melissinha, mas afinal, onde fica esse reino sagrado? Perguntou Leninha.
_Bem, fica atrás da montanha nebulosa; lá ninfas de todas as cores protegem as flores e, outros seres mágicos guardam e protegem a árvore da vida...
_Seria fantástico conhecermos este lugar, o que acha de um dia desses nos levar até lá, Lissa? _ disse Lúcia.
_Mas, digam-me o que acham de conhecerem agora o mundo mágico de meu reino? Despedem-se de Flora e fechem os olhos.
Assim que as meninas se despediram da árvore, fecharam os olhos, acreditando acontecer algo inacreditável. E, aconteceu que de repente, um vento forte tomou conta do lugar e, uma fumaça colorida as levou para o infinito.

Quando Lúcia e Leninha abriram os olhos, sem esperar, estavam em frente de uma grande cachoeira. Um som de uma música harmoniosa chegava aos seus ouvidos; só então viram milhares de ninfas multicoloridas, que dançavam de um lado para outro. Par quem não sabe, ninfa são deusas fabulosas dos rios, dos bosques...
Melissa debruçada na mão de Leninha sorria e logo disse:
_Estão agora em meu reino! Mostrarei outras maravilhas! _ e levantando-se pôs a gritar:
_Azul! Borboleta Azul! Venha me buscar!
Apareceu então uma bonita borboleta de asas grande e com coloração azul turquesa onde a deusinha pulou nela e saiu rodopiando pelos ares.
Em cima de uma imensa rocha se encontrava uma árvore diferente de todas outras, suas folhas eram de cristais verdes. Assim que as meninas viram-na, imaginaram ser a tal árvore da vida. Não se enganaram, pois logo Melissa apontou-a e esclareceu:
_Esta exuberante árvore possui o dom da vida e, é dela que vem minha fonte de poderes, sem ela eu não significo nada.
_Estou entusiasmada, Melissa! Esse é o lugar mais belo que já estive. Parece sonho! _ disse Lúcia, mas, de onde vem esta suave música?
_Ela vem do país das flores! É melhor leva-las para um outro lugar, ao contrário poderão cair em um longo sono..., Sigam-me! _ disse Melissa segurando nas antenas de Azul e dando sinal para a borboleta seguir o caminho.
Logo que deixaram a cachoeira, as meninas seguiram a deusinha das plantas, que as levou para um jardim, que deveria ter mesmo, todas espécies de flores do mundo. Rosas, violetas, petúnias, hortênsias, alhamandas e, uma grande variedade de plantas destacava-se por ali.
Leninha até pensou em levar algumas mudas daquelas flores para dona Albina. No jardim da avó possuía também muitas plantas, mas faltava aquela mais colorida isso no pensar da menina.
_Esta alhamandas catártica é originária do Brasil. Essa trepadeira chega atingir seis metros de altura e floresce abundantemente de dezembro a abril. Já esta azaléia tem como principal atrativo à característica de florir nos meses de inverno, época em fase de dormência explicou Melissa – aqui no meu jardim falta apenas à orquídea capanemia.
- Tenho certeza de que no jardim de vovó deve ter..., lá tem tantas flores-disse Lúcia.
_Que tal, Lissa, voltar conosco, hoje para nossa casa? No entanto você aproveitaria para dar uma olhada no jardim de vovó! _ disse desta vez Leninha.
_Bem, se por lá haver um laguinho, flores, árvores, ou seja, um ambiente agradável, aceito.
_Tenho certeza de que não vai se arrepender, Melissa... _ disse Lúcia pegando sua cesta.
Então, Melissa chamou uma das ninfas que estavam por ali; pôs a dizer:
_Trate de avisar todos os moradores do reino que, passarei alguns dias junto daquelas senhoritas.
_Sim, deusinha das plantas, seu pedido será cumprido _ disse a ninfa, que por sua cor, deveria ser uma alma das águas.
Alegres, Lúcia e Leninha bateram palmas.
_Fechem os olhos, meninas, porque daqui alguns instantes, estarão em seus lares-disse Melissa.
E, novamente um vento forte acompanhado por uma fumaça colorida, levou-nas de volta para casa.


3° Capitulo

     
Finalmente chegaram ao terreno, onde dava para ver o jardim de Albina e a varanda da casa.
_Este é o jardim, Melissa, espero que goste; seja bem-vinda! _ disse Lúcia correndo em direção dele. Veja esta casinha de madeira aqui, foi feita por vovô Arlindo. Ela serve para ninhos de pássaros, mas infelizmente não entrou nenhum.
Melissa deu um sinal para a borboleta parar e, rapidamente pulou em uma pétala de orquídea, que se encontrava perto da casinha de madeira.
_Achei interessante o jardim, embora não têm lago, mas gostei _ disse Melissa batendo palmas de contentamento. Posso entrar na casinha?
_Claro, fique à vontade _ disse Leninha.
Melissa entrou e, começou a observar tudo lá dentro, e se sentiu em casa, achou encantadora a caixinha, que tinha sido agora transforma em seu abrigo.
_Pelo que eu vejo Leninha, a Melissa gostou do jardim e, principalmente da caixa de madeira, que vovô fez _ disse Lúcia.
Logo escutaram Albina chamarem, para um café da tarde.
_Olhe, fique aí quietinha, pois vovô não pode desconfiar de nada. Sabe, ela não acredita em fantasias.
_Pode deixar, Lúcia, pois vou tirar uma sonequinha aqui no jardim, até mais, então _ disse Melissa.
Quando todos estavam na mesa, Albina desconfiou do olhar de Leninha, porque ela não sabia disfarçar, às vezes ultrapassava dos limites.
_O que estão me escondendo, hein, crianças? Pelo olhar de Leninha, estou começando a desconfiar de alguma coisa que andaram aprontando.
Como sabia dar uma boa resposta, Lúcia disse:
_Engano da senhora, vovó, estamos com esta cara, porque não vemos o momento em que vovô Arlindo chega para mostrar o tanto de peixe que pescou.
Neste momento, Júlio que, também se encontrava presente, cochichou algo no ouvido da menina.
_Tem razão, Júlio, mas vovó não iria acreditar. Este não é um momento adequado de eu e Leninha contarmos um segredo, quem sabe depois!- respondeu a menina no ouvido dele.
_Bem, se for isto mesmo eu me acalmo, mas o olhar de Leninha não me engana _ disse Albina com o olhar maneiro.
Arlindo, como de costume, partia para o rio com os amigos. Da última vez em que foi, trouxe um pequeno dourado. No rio Borborema, costumava dar muitos peixes grandes. Leninha sempre esperava que um dia, ao limpar um peixe, Albina encontrasse uma pedra preciosa como na história das mil e uma noites.
Assim que terminaram o café da tarde, Lúcia e Leninha levaram Júlio para o jardim.
_E, então, o que me escondem? Qual o segredo?
_Olha, conhecemos a Flora, uma árvore muito simpática e a Melissa, mas isso faz parte de nosso segredo... – disse Leninha.
_Tudo bem! Mas façam o favor de continuarem a contar seus segredos! _ disse o menino ansioso.
Lúcia, olhando para caixa de madeira, disse:
_Está bem, vou contar nosso segredo, mas vai ter que prometeu não dizer para ninguém. Nosso segredo é encantado, uma deusa das plantas, seu nome é Melissa. E ela está no jardim.
_Então, deixe me ver Lúcia, juro que não vou contar para ninguém, só vai ficar entre nós.
De repente, surge Melissa. O menino ficou admirado pela figura, mas achou até engraçado o jeitinho da deusinha que logo foi deitando de bruços entre as pétalas da orquídea e dizendo:
_Acho, que irei ficar por mais tempo, morando com as senhoritas.
As meninas pularam de contentamento, e apresentaram-na ao menino que observava encantado.
A noite chegou e Lúcia e Leninha sonharam bastante, entre os seus sonhos estava Melissa e a árvore Flora.
A mata do Canto do Beija-Flor se encontrava agitada. Som de inúmeras aves anunciava um novo dia. Até as feras bramavam e uivavam no coração da floresta.
Um puma, solitário preparava-se para a caça. O alvo era um veado-campeiro. Este não teve sorte, o felino o atacou.
Os pumas, também conhecidos como suçuarana, onça parda, são muito ágeis esses animais pode saltar do solo a um galho de até cinco metros de altura. É mais ativa a noite.
Arlindo proibia as crianças de entrarem na floresta, dizia ele de existir ali enormes feras e armadilhas perigosíssimas. Todos obedeciam mesmo curiosos, compreendiam o perigo.
Mas, aconteceu que num desses dias, Júlio decidiu se arriscar a entrar nela. Corajosamente trepou no cercado de arame e passou para o outro lado, pronto para desfrutar o ambiente da mata. Dirigiu o olhar de volta para onde vinha e, logo em seguida, entrou por uma estrada de araucárias, árvores das espécies dos pinheiros. Mas, também se destacavam a canela, o sobreiro e outras.
Com passos apressados, o menino entrou pelo trecho da mata atlântica, formada por riachos e córregos. Observando tudo ao seu redor, verificando sempre onde pisava. Foi quando começou a andar sobre as grandes pedras ao redor de uma cascata de águas límpidas, onde se viam peixes paraíso e outras espécies de peixes ornamentais. Em seu centro se encontrava uma árvore caída. Era um pé de jequitibá-rosa, devia ser obra de lenhadores, pensou Júlio intrigado.
Resolveu, então, mudar o percurso do passeio, entrou numa clareira com o chão coberto de folhas secas e algumas samambaias. Clareira são espaços abertos causado pelo desmatamento feito por desbravadores humanos.
Conforme o menino andava descobria a variedade de pássaros que se encontrava por ali. Destacava-se o canto do saíra-dourada, do teê-sangue, do uirapuru...
Ficou surpreso ao ver um saíra de sete cores, que julgava ser o pássaro mais colorido do Canto do Beija-Flor pousar numa folha larga de bromélia, que se encontrava presa no tronco de um pau-brasil; raríssimo nos dias de hoje.
De repente, sem esperar, viu um robusto jaguar trepado em cima de uma árvore. Um rosnado ameaçador fez Júlio se arrepender de ter desobedecido aos avós. Tentou correr, até mesmo gritar, mas ficou sem força permaneceu imóvel.
Como gato, pronto para atacar sua presa, desceu da árvore e, depois deu mais um rosnado, preparou-se para o inesperável bote. Enquanto o enorme gato fitava o olhar em Júlio, que se julgava perdido, surgiu à figura de um menino, quase nu, de aparência indígena. Em seu ombro trazia uma coloridíssima arara e, um formidável filhote de onça parda acompanhava-o.
_O que o senhor faz perdido por aqui, menino-branco? Não veja que quase foi atacado pelo jaguaretê!Não se preocupe, esta é Rajara a onça-pintada. Quando ela era filhote a salvei da morte.
_Está bem, mas faça o favor de acalmá-la! Diga-me, como se chama?
_Me chamo Kurumim, bem, é assim que os seres da mata-me chamam disse o pequeno índio.
_Eu me chamo Júlio, sou morador desta fazenda, sabe..., mas o que você faz vivendo sozinho por aqui?
_Não estou sozinho, não está vendo os animais. Esta, por exemplo, é Parda! _ disse o menino índio olhando em direção do filhote de onça, que se encontrava ao seu lado _ E este é Tom, a arara.
_Esplêndido! Não esperava que um dia conhecesse um habitante da floresta...
_Teve sorte de me encontrar; aqui na mata, existe a lei da sobrevivência, sabe, no entanto escapou por pouco. Embora Rajara é uma companheira fiel, não significa que deixaria de ser selvagem.
Sem esperar, apareceu diante dos meninos um ser diferente, um pouco assustador. Era o Curupira. Assim que chegou, foi logo dizendo ao menino-ìndio.
_Hoje terá reunião com todos os seres da mata, vim avisá-lo, por meio das ordens deus das montanhas. Mas, quem é este? _ indagou o Curupira olhando em direção de Júlio.
_Este é Júlio, morador desta fazenda; quase foi atacado por Rajara, teve sorte de eu aparecer antes.
O Curupira era um deus da mata, um defensor da natureza. Era um menino negro, de pés virados para trás, cabelos de folhas secas e de olhos vermelhos. Logo fez amizade com Júlio que meio intrigado ouvia a conversa dele com Kurumim.
_Hoje de manhã, lenhadores derrubaram uma quinzena de árvores, portanto hoje foi convocado nesta reunião. Precisamos resolver esse grave problema...
_Tem razão, Curupira, com as derrubadas, pode ser o começo de uma grande destruição - disse Kurumim.
Foi desse modo que Júlio conheceu o menino-índio e o Curupira. Guardava esse segredo consigo. Mas, quando Lúcia e Leninha contaram, sobre a deusinha Melissa e a árvore Flora acabou contando.
_Que magnífico Júlio! Diga-me quando ele vem nos visitar? Seria interessante conhecermos um menino-índio disse Lúcia ao ouvir a estória.
_ Já eu, queria conhecer a Rajara. Nunca vi um jaguar de perto, só pelas histórias de vovô Arlindo... -disse Leninha que também estava presente.
Melissa ouvia pensativa. Sentada em cima de uma pétala de jasmim, disse depois de um sorriso:
_Qualquer dia preciso visitar kurumim nós nos conhecemos à anos..., já o curupira está bravo comigo, foi um dia desses que eu resolvi pegar sua flauta emprestada, mas isso fica para outra ocasião.
Todos ficaram surpresos quando a deusinha disse conhecer os seres da mata, como dizia Júlio.


4° Capítulo


No dia seguinte, Leninha levantou da cama e foi para o tanque, lavou o rosto e começou a procurar por Melissa. Não demorou muito a encontrou.
_Como passou a noite Melissinha, dormiu bem?
_Dormi sim, essa caixinha é muito confortável – disse ela.
_ Fico feliz, por saber disso, e então está preparada para um novo dia.
_Estou, sabe, fiquei a noite inteira pensando naquela espécie de orquídea que vocês disseram ter por aqui.
_Então, encontrou a orquídea capanemia no jardim de vovó? Perguntou Leninha
_Mas, claro que sim, justamente é esta na qual estou em cima, não é bela?
_É sim, Lissa nunca tinha reparado nessa flor antes.
De repente, um latido de dor chega aos ouvidos da menina. Era Dobi, um cãozinho branco e preto que acabava de ferir as narinas ao encostar-se na roseira.
_Dobi, não sabe que a roseira tem espinhos que machucam! _ exclamou a menina indo à direção do animalzinho.
_Bem feito! Ninguém mandou cheirar tudo o que vê pela frente – disse Melissa.
Ao ouvir Leninha não gostou e pôs a língua pra fora.
_Ele é um cãozinho, e animal não pensa, entendeu! Portanto ele machucou as narinas.
Com curtos passos, Lúcia vinha vindo em direção da irmã.
_Acordou cedo, hein? Não vai tomar café da manhã? Vovó preparou bolinhos de chuva daqueles que você gosta – disse a menina – E o que, aconteceu com Dobi.
_O coitado espetou o nariz na roseira, também não sei o que ele estava procurando.
_Pobrezinho, mas tenho certeza, de que ele não volta fazer o mesmo.
Enquanto isso, Júlio e vovô Arlindo construíam um espantalho para espantar a passarinhada que estava estragando a plantação. Colocando um chapéu pontiagudo com uma pena de cor azul na cabeça do espantalho, Júlio dizia:
_Este espantalho esta com a cara de um sábio qualquer e com esse chapéu está parecendo um Munckins, isto vai demonstrar sabedoria e respeito por todos os que verem.
_Você tem uma grande imaginação, agora vamos ver se ele vai ser útil para espantar os pardais, corruíras... _ disse Arlindo ajeitando seu chapéu na cabeça.
_Com isso o senhor não precisa se preocupar, vai ver só, ele vai ser um grande companheiro.
Logo que terminaram, colocaram em uma estaca e puseram no meio do milharal. E foi de dar surpresa, pois nem sequer ficou algum pássaro, quando viam aquele sujeito estranho.
_Você teve razão, Julio, ele espantou mesmo, não ficou nenhum pássaro, nem mesmo aquele casal de tico-tico – disse Arlindo – vamos pra dentro, Júlio, descansar um pouco – continuou ele.
Assim, os dois se retiraram e, lá ficou o espantalho numa grande solidão; com a cara tristonha olhava para os pássaros que de medo ficavam olhando, sempre de longe.
Um pintassilgo, intrometidíssimo, disse ao parceiro, fazendo com que a passarada toda escutasse:
_Veja só o estado dele, nem nasceu direito e está morrendo de preguiça de trabalhar – disse ele, referindo ao espantalho. Foi uma risada geral.
Mas logo, um corvo ainda mais intrometido disse:
_Calem a boca, seus panacas, vocês não estão vendo que ele não está interessado em cuidar da plantação e ele nem, chega a me assustar. Sabe o que acho? Vamos lá, pois estou morrendo de vontade de atacar alguns grãos de milho, o que acham?
Todos concordaram e disparadamente foram todos diante da plantação.
_Olha a cara dele, está parecendo de fome – e riam diante do pobre espantalho.
Não demorou muito, o céu escureceu e uma nuvem negra anunciou chuva, e das fortes. Albina da janela gritava.
_Lúcia, Leninha, entrem, pois o dia está prometendo chuva!
As meninas não se esqueceram de levar Melissa para dentro da casa, colocaram-na em uma outra caixinha de madeira com algumas graminhas secas e deixaram em um canto da sala.
Assim que a chuva passou, com a terra úmida, Júlio foi ver o espantalho. O que será que aconteceu com o coitado, pensava o menino.
Quando foi se aproximando da plantação viu que ele estava todo encharcado e havia caído no chão. Júlio correu em sua direção, mas como estava pesado não pôde levantá-lo.
Que pena, estava parecendo tão útil, agora todo aí caído sem esperança nenhuma.
Sem esperar, depois de uma pirradinha, o espantalho indagou tristemente:
_Não foi minha culpa, a chuva tem hora que é rude, veja o que ela me fez, se pudesse andar procuraria um lugar para me abrigar.
Júlio, sem se assustar, mas meio confuso, disse com a cabeça curvada:
_Sinto muito, espantalho...
Logo, uma voz o chama, era Lúcia. Vendo o irmão agachado diante da plantação, foi se aproximando e dizendo:
_O que faz por aí, entre a plantação de vovô Arlindo? – Lúcia, percebendo o boneco de palha continuou:
_O que faz esse espantalho caído no chão, hein, Júlio?
_Foi a chuva, coitado..., imagina Lúcia que ele falou comigo; se não acredita diga algo para ele.
Lúcia ficou alguns instantes olhando para o espantalho até que ele se moveu e disse:
_Falo sim, menina, só não ando porque estou preso nestas estacas, ao contrário, estaria no fim do mundo.
_Quer dizer que o senhor fala? Olha fico contente de saber, mas sobre não conseguir andar, não se preocupe, pois eu e Júlio vamos tentar tira-lo daí.
Foi um trabalhão para conseguir arranca-lo das estacas, mas depois de muito sacrifício, o espantalho se sentiu livre e deu seu primeiro passo.
_Muito obrigado – disse ele sendo levantado pelas crianças.
_Qual o seu nome, espantalho? – Perguntou Lúcia.
_Meu nome, bem, eu não tenho nome, nasci ontem quando seu avô e Júlio estavam me fazendo e também não entendo muito dessas coisas.
_Ah, se for só por isso, não é muito, acho que vou chamá-lo de Garibaldo, pois me lembro de um conde da história de vovó Albina.
_Acho que ficou um bom nome para mim, aliás, eu não me importo por isso... – disse ele.
De repente um latido ecoou no fundo do quintal, era Dobi que, ao ver o Garibaldo havia estranhado e não demorou muito, começou a andar vagarosamente sentindo-se ameaçado. Leninha apareceu, pegou-o no colo e admirada, começou a olhar aquele sujeito estranho que andava com seus irmãos.
_Quem é ele, Lúcia? – perguntou ela, aproximando-se.
Lúcia, com um sorriso no rosto, disse:
_Ele é Garibaldo, um espantalho feito pelas mãos de vovô e Júlio, hoje, antes da chuva. Descobrimos que ele fala, tiramos das estacas e agora está aí andando feito gente.
Ao se aproximar, Leninha examinou o espantalho e com uma voz educada disse:
_Olá, Garibaldo, assustou-se com o latido de Dobi? Olha, não precisa se preocupar, porque ele não vai te atacar...
_Sei sim, não estou com medo, pois sou de palha e não sinto dor... – disse ele.
Como estava ficando tarde, os meninos resolveram achar um abrigo para Garibaldo, quando Leninha, com brilho no olhar exclamou:
_Tenho uma idéia! Porque não o colocamos dentro da casinha de madeira que vovô construiu? Assim não precisamos nos preocupar, o que acham?
Todos acharam uma boa idéia e resolveram leva-lo para dentro da tal casinha onde Arlindo costumava guardar as ferramentas de trabalho.


5° Capítulo

Finalmente a noite chegou. Quando todos dormiam, em cima de um pinheiro do jardim de Albina, com clarão da lua, um pássaro da espécie dos juruva fazia um grande escarcéu, pois havia entrado um intruso em seu ninho.
Era a Melissa que resolveu dormir no ninho do pássaro e foi acordada pelos seus gritos estridentes.
_Pare com isso, não está vendo que acabei de acordar, seu sem educação – gritava a deusinha, mas logo vendo que o pássaro não estava para brincadeira tratou de dizer:
_Já vou sair! Espere o senhor não quer que eu pule daqui de cima, acalme-se, pois vou chamar minha amiga Azul! – e de lá de cima gritou ela:
_Azul! Borboleta Azul! Venha me buscar!
Logo apareceu Azul, toda apressada foi se aproximando do ninho e tratando de pegar Melissa que discutia com o colorido juruva.
Garibaldo, ao escutar a algazarra, foi ver do que se tratava. Ao ver aquela coisinha em cima da borboleta, ficou por alguns instantes, confuso e deusinha pensou que ele estivesse caçoando dela.
_Porque está me olhando desse jeito, hein, palhudo, não gosto que ninguém fique tirando sarro de mim, ouviu? – gritava ela.
Garibaldo, sem dar à mínima, foi logo dizendo:
_Aquele pássaro ali foi o único que não caçoou de mim ontem quando estava preso nas estacas.
_Não me interessa, agora vai proteger aquele sem educação! – gritou melissa, pronta para a briga – Fique sabendo que ele me acordou, estava eu sonhando com um lindo sonho quando aquele pateta me interrompeu – continuou ela.
_Escuta, por o caso a senhorita viu se dentro do ninho tinha alguns ovos? – perguntou o espantalho.
Depois de pensar por alguns instantes, melissa respondeu:
_Bem... _ depois de coçar a cabeça, continuou – tinha sim..., então por isso que o jurava estava nervosíssimo!
_Então a senhora já sabe por que foi acordada com estupidez, não é? Agora me diga como se chama?
_Ah, meu nome é Melissa, sou a deusa das plantas e estou vivendo por alguns dias aqui, junto de Lúcia e Leninha. E o seu nome, qual é?
_Me chamo Garibaldo, fui batizado assim por Júlio e tenho apenas dois dias de vida.
_Então quer dizer que o senhor já conhecia aquele pássaro lá de cima?
_Conheço sim, ele foi o único a não zombar de mim, quando eu estava preso no meio da plantação. Ficamos por longos momentos conversando depois da chuva...
E logo, então, o juruva pousou em um tronco próximo do espantalho e da deusinha e depois de encará-los, disse para Garibaldo.
_O senhor é amiga desta intrusa e também gatuna?
Melissa, que não admitia que a chamassem de ladra, com cólera ralhou:
_Como pode, seu juruva, o senhor me chamar de gatuna? Fique sabendo que eu não sou, viu? Apenas entrei como intrusa sem saber que o seu ninho era habitado.
_Me desculpa senhorita, acontece que ando preocupado com meus filhotes que irão nascer. Minha esposa e eu já tocamos vários sujeitos intrusos, sabe...
Garibaldo ficava prestando atenção em tudo, só que não abria a boca para nada, foi quando o pássaro disse a ele:
_E, então foi liberto, senhor espantalho, fico feliz por isso!
_Eu também estou muito feliz, fui liberto ontem pelos moradores dessa casa – disse Garibaldo, apontando o dedo para a moradia dos meninos.
_Bem, vou ter que voltar para o ninho pessoal. Até a próxima – despediu-se o juruva que depois de um assobio, sobrevoou e partiu para o alto do pinheiro.
_Até que ele não era ruim, não é Garibaldo? – comentou a deusinha, com as pernas cruzadas, ainda se encontrando em cima da borboleta Azul. – Também vai ter que ir embora, Garibaldo, mas amanhã nos vemos de novo, até! – gritou ela e logo partiu em direção do fundo do quintal.
Passaram-se dias e, por fim, chegou o grande dia em que todos ficaram sabendo da história da Melissa; quando realmente a viram, não conseguiram acreditar. Albina exclamava:
_Acho que estou ficando caduca, veja só esta coisinha; parece do coisa-ruim.
_Não fale uma coisa dessas, vovó, fique sabendo que ela é uma deusa e muito educada – corrigiu Leninha.
Por fim, foram se acostumando, pois ela havia resolvido morar por lá, Albina morria de rir com as coisas que ela falava; só Arlindo envergonhado ignorava.
Foi num dia desses que Melissa resolveu ensinar uma receita para Dona Albina que ouvia desacreditando.
_Olha Albina, a senhora mistura um pouco de pó de areia com pétalas de margaridas e rosas, depois joga uma cobertura de néctar de qualquer flor.
_Credo, cada coisa que está acontecendo ultimamente; o mundo está perdido, não? – indagou à senhora, arrumando os óculos.
_Acalma-se vovó, não precisa dizer tanta asneira, apenas tente entender que o mundo da fantasia é mais interessante do que o real – disse Leninha uma vez.
Debruçada na varanda, Lúcia conversava com a Melissa.
_Lissa, o que aprontava, antes de vir morar conosco?
_Bem, gostava de navegar em cima das velhas folhas que caiam sobre as águas calmas de pedrisco. Mas isso, antes que a Azul me derrubou, como aquele dia eu falei. Era tão emocionante...
_Então, quer dizer que a senhorita se aventurava, nas águas de Pedrisco? E o que fazia a árvore Flora?
_Ela passava o dia inteiro dormindo, era uma dorminhoca, pior que eu, sei. Esta lembrada quando, lá no lago, eu disse que fazia muitos dias que, não via a luz do sol? Era pura lorota..., acontece que alguma mentirinha escapa.
_Não precisa ficar envergonhada, conheço bem a carinha de danada sua...
Melissa, sentada nas mãos de Lúcia, olhando para o jardim, depois de um suspiro disse:
_Já ouviu, falar do Curupira? Sabe, eu um dia furtei a flauta do deus da mata, mas não por malvadeza, só por curiosidade.
_Quer dizer, então, que a senhora conhece o tal personagem folclórico? Mas Melissa eu não sabia que o Curupira tem uma flauta.
_Tem sim, é que ele nunca mostra, e, fui eu que descobri. Ela é mágica, sabe...
_A deusinha, por acaso entrava na mata do Canto?
_Às vezes, mas era o danado, que vinha me atentar e, foi assim que acabei roubando-a – disse Melissa. – Então quer ouvir como foi que furtei a flauta do Curupira?
_Quero sim, mas vê se não conta lorota.
Depois de um pigarrinho a deusinha começou a contar sua história. Então disse ela:
_Um dia desses, estava eu, sentada em frente de Pedrisco observando as pedras que havia no fundo do lago, quando escutei um maravilhoso som vindo na minha direção. Era uma música como a do sono esta lembrada, Lúcia?
_Estou sim, Melissa, continue! _ exclamou a menina.
_Aconteceu que resolvi seguir o som que o vento trazia. Flora naquele momento estava dormindo, como sempre, e nem percebeu que entrei no Canto do Beija-Flor. Pela primeira vez, eu entrava naquela mata, que parecia assombrada. Foi então, que logo descobri quem era que tocava aquele som, aliás, música. Era um moleque negro de pés virado para trás como disse Júlio! Trazia em suas mãos uma flauta de madeira, com o qual tocava cheio de alegria. Estava alegre, antes de encontrá-lo, pois a me ver imediatamente parou de tocar a flauta e, com a cara de bravo, exclamou:
_Ninguém da floresta deve me atrapalhar a tocar esta música, ela espanta lenhadores, caçadores, entendeu?
Então, eu disse a ele que havia gostado muito da canção e, que não resisti à tentação de segui-lo: Adiantou alguma coisa. Que nada, o bicho é chato e malcriado.
Lúcia neste momento disse:
_Conte mais rápido, Lissa! E, então, o que aconteceu?
Melissa nem fez modo e continuou do seu jeito.
_Aconteceu que falei umas boas para o danado, que ficou sem jeito. A partir desse dia ele começou a me visitar; ele até fez amizade com Flora. Foi daí, que resolvi pegar emprestada a flauta, sem que o visse. Deu certo. Uma vez, enquanto ele dormia, fui até sua casa, lá no Canto e, roubei o instrumento.
_Mas, você devolveu, Melissa? – interrompeu Lúcia.
_Claro né, não sou nenhuma gatuna! E foi por isso que o Curupira não conversa mais comigo.
_Achei interessante o que me contou agora se é verdade, não sei.
_ Tudo bem, se não quiser acreditar, não acredita, mas, que isso aconteceu, eu juro.
_Melissa, e o tal Curumim que também, uma vez disse de o conhece-lo?
_Bem, isso fica uma outra vez, mas, fique a deusinha das plantas.
_Não conheceu, o Caipora, a Mula Sem-Cabeça e o Lobisomem, também? – caçoou Lúcia.
_Eu os conheço! E, hoje pelos meus cálculos será noite de lua cheia e, se começar a me azucrinar, mando o Lobisomem te pegar – disse Melissa.


6° Capitulo

No dia seguinte, com os primeiros raios de sol, Melissa acordou, lavou o rosto nas gotas de orvalho das pétalas de uma rosa e, logo foi interrompida por Azul que foi entregando um bilhete...
A deusinha sentou-se e começou a ler.
_Cara Melissa, a mata do Canto do Beija-Flor precisa de sua presença. Haverá uma nova reunião por aqui e, todos os seres da mata estarão presentes. Para deusa das plantas é uma obrigação de comparecê-la.
Quando terminou a leitura, Melissa pulou nas asas de Azul e, tratou de encontrar as meninas. Assim que encontrou Leninha, foi logo dizendo:
_Preciso ir até a mata do Canto; hoje haverá uma reunião por lá.
_Mas diga-me, Lissa, você vai voltar?
_Acho que sim, agora tenho de avisar Lúcia e Júlio, você me compreende?
_Ah, sim. Bem, Lúcia deve estar na varanda, já Júlio deve estar construindo uma arapuca. E, não viu se despedir de Garibaldo?
_Vou sim, já estava me esquecendo, Leninha.

_Mas, é perigoso, Melissa! Pequenina do jeito que você é capaz de virar almoço de pássaros! – disse Lúcia ao saber da partida de Melissa.
Não se preocupem, sou uma deusa! E, vocês sabem que deusas, também possuem poderes mágicos. Já entrei várias vezes no Canto e, nenhum passarinho me atacou...
_Mande abraços para o Kurumim, Melissa, não esquece de convidá-lo para qualquer dia desses aparecer – disse Júlio que também estava por ali.
_Não esquecerei do seu pedido, Júlio, pode ficar despreocupado. Enquanto você Garibaldo, trata-se de vir comigo, pois precisarei do senhor em meu passeio.
O espantalho não fez modo, depois de uma pigarrinha, indagou:
_Seria gratificante em acompanhá-la, deusinha e para mim, conhecer a mata do Canto é uma maravilha...
E, aconteceu que, os dois aventureiros partiram para a floresta. Melissa e a borboleta Azul sobrevoavam e conduziam Garibaldo.
_Depressa! Rápido Garibaldo, não veja que o tempo não espera! Pretendo voltar logo... – gritava a deusinha. Conforme eles entravam na mata, dava para se escutar os cantos das aves, os cricrilares dos grilos e o barulho intenso das cachoeiras.
Foi então, que Melissa usou um dos seus poderes, com um gesto nas mãos, fez um movimento que, através de um pó colorido, ficou do tamanho de uma menina.
_Pode ir embora, Azul, agora não vou precisar mais da senhora, ouviu...
A borboleta fez birra, Melissa vendo sua tristeza, em seguida disse:
_Está bem, pode vir conosco, Azul...
De repente, Melissa descobriu uma formidável árvore. Esta tinha aparência de ser abrigo de alguém. Em seu centro havia uma porta de madeira. Resolveu bater nela.
_Quem está aí? Não esta vendo que hoje é dia de descanso!
Melissa bateu mais uma vez, pois adorava irritar os outros.
Então apareceu um menino; este era Kurumim, que logo viu Melissa, e ao reconhecê-la pôs a se desculpar:
_Desculpe-me, deusa das plantas, é que eu estava descansando, sabe...
_Que coisa! Dormindo em dia de reunião, Kurumim? – perguntou ela.
_Bom, havia me esquecido. Pensava eu que a senhorita não viria.
_Diga-me Kurumim, quem foi o autor da carta que recebi?
_Ora, Melissa, foi o Caipora; afinal o Curupira não se opôs em escrevê-la!
_Engraçado! Mas, quem é o Caipora de escrever que era minha obrigação de vir na reunião? Não admito que um ser que possui a mesma função, diga uma coisa dessas!
_Quem é esse que está ao seu lado, melissa? – perguntou o menino-índio, referindo-se ao espantalho.
_Este é Garibaldo, um celebre espantalho, eu esqueci de apresentá-lo. Um grande companheiro...
Surgiu por trás de uma árvore, Rajara a famosa onça pintada.
_Que prazer de vê-la mais uma vez, Rajara! Leninha iria ficar contente se a visse...
_Quem é essa, Melissa? – perguntou Kurumim.
_Bem, eu já ia me esquecendo. Sabe menino, Júlio pediu que eu a convidasse para qualquer dia desses aparecer na fazenda.
_Eu havia prometido que iria..., mas as coisas que andam acontecendo por aqui, não dão tempo.
Garibaldo que ouvia atentamente a conversa dos dois, de repente indagou intrigado:
_Estão, ouvindo?! Barulhos de árvores caindo e tratores ferocíssimos estão rondando a mata.
Neste momento todos param para ouvir; de fato eram homens devastadores que, com suas máquinas derrubavam árvores.
_O ser humano não pensa no que pode causar com a destruição da natureza. Ela pode se revoltar, e isso não é nada bom! – disse Melissa.
_No caminho eu vi rastros de homens que por certo eram caçadores ou derrubadores de árvores... – desta vez indagou Garibaldo.
_Eles merecem ser castigados pelo Caipora! – disse Kurumim – vai mandar Tom os seguir e nos mostrar onde eles estão – continuou e, pôs a gritar:
_Tom, vá depressa atrás desses cortadores de árvores e volte para nos dizer onde eles se encontraram.
A arara obedeceu e voou em direção onde estavam os madeireiros.
De repente apareceu a Ninfa das Bromélias. Era uma deusa de cabelos vermelhos, protetora destas plantas. Foi logo dizendo:
_A reunião está para começar; todos os seres estão esperando, ouviram?- respondeu a ninfa.
_Já estamos indo! Mas, onde vai ser realizada? – perguntou Melissa.
_O Kurumim não disse? Olha, vai ser atrás da figueira seca.
_Venha, Garibaldo! Vamos até a figueira seca, para uma reunião... – disse a deusa das plantas.
Kurumim trepou em Rajara e conduziu a Melissa e Garibaldo para o local. Logo que chegaram, viram outros seres da mata. Entre eles se estavam o Anhangá, o Caipora, o Curupira, a Mula-Sem-Cabeça e até a Iara que se encontrava sentada em uma pedra perto de uma lagoa.
_Os rios estão sendo poluídos também ontem encontrei alguns peixes mortos! Precisamos combater esse crime – indagou Iara.
Os personagens folclóricos, logo perceberam a presença da deusinha e do menino-índio e Garibaldo. O Caipora tratou de dizer:
_Então resolveu vir, Melissa? Que novidade! Mandei a Ninfa das Bromélias te procurar; por meio das dúvidas...
Melissa até pensou em discutir com ele, mas como era uma reunião séria, deixou pra lá, sentou-se em cima de uma árvore e disse:
_Sei que está acontecendo sério problema por aqui, o que devemos fazer é escutar cada opinião que vocês têm consigo..., ouviu a Sereia dizendo os problemas dos rios, bem; começam a partir de agora a soltar idéias, meus amigos.
_Temos que assustar os humanos; vou ter de castigá-los! – disse Curupira.
_É o que está acontecendo! Os humanos estão esquecendo dos seres folclóricos, temos que voltar aparecer para eles... – disse a Ninfa das Bromélias.
_Ela disse a verdade! Eles estão esquecendo de nós. Pensam agora apenas em lucro, são ambiciosos!... – esclareceu a deusa das plantas – vão acabar destruindo nossa flora e fauna – continuou.
_Flora e o conjunto das espécies vegetais duma região e fauna são o conjunto dos animais duma região – explicou Kurumim.
_Muito bem, menino-índio! Digo que aprendeu bastante sobre a ecologia aqui na floresta! – indagou Melissa.
Foi quando o Anhangá pensativo disse:
_Tive analisando uma idéia..., o que acham de assustar aqueles malvados destruidores por meio deste espantalho aí; já vira um andar e falar?
Todos compreenderam e depois dirigiram olhares para Garibaldo que depois de refletir, disse:
_Esta bem, eu aprovo a idéia deste cavalo branco, estou pronto para defender a natureza!
Todos o aplaudiram. De repente pousou no ombro de Kurumim a avara que, depois de gralhar para ele, ficou quieta, pronta para escutar o que o menino iria dizer depois de tê-la ouvido.
_Tom me disse que os madeireiros estão depois da mata várzea.
Várzea é um terreno baixo, plano e fértil, nas margens de um curso de água que se derrubarem as árvores aos seus redores ele seca.
E, foi assim que Garibaldo ficou conhecido entre os seres da mata. Esperou os lenhadores descansarem e correu para assustá-los. Os homens ao verem aquela estranha figura, largaram os tratores e sumiram aos gritos.
_Agradecemos, então este grande amigo Garibaldo e, que a partir de hoje vamos todos defender a natureza com garras – indagou o Curupira.
Melissa que não conversava com ele depois de ter emprestado sua flauta escondida, sem se dar conta deu um abraço no deus da mata que sorriu envergonhado.
_Adeus companheiros! Eu e Garibaldo temos que ir agora até o lago Pedrisco. Estou com saudades da Flora – disse a deusinha.

   Assim que Melissa e garibaldo chegaram ao Lago Pedrisco encontraram a majestosa árvore que quando viu a deusinha sorrindo, disse:
_Fico feliz por vê-la novamente, minha querida amiga. Espero que nunca esqueça dessa velha e bondosa árvore...
_Eu nunca deixarei você, Flora. Quero que compreenda que uma deusa como eu ,tem que andar pelo mundo a fora a procura de descobertas e aventuras...
Flora olhou na direção do espantalho que apenas a observava e indagou:
_E, quem é esse fidalgo que te acompanha Melissa.
_Este é Garibaldo! Um grande companheiro - disse a deusinha.
_Ele, parece mudo..., coitado!-exclamou Flora
Garibaldo deu um pigarrinho, mexeu em seu chapéu ponte-agudo e disse:
           _Eu não sou mudo, senhora árvore. Falo sim e hei de falar sempre. Abro a minha boca quando tenho certeza do que vou dizer...
              A deusinha olhou para o espantalho com cara de esnobe. Mas a árvore admirou a resposta do boneco de palha.
            _ E, me diga senhor Garibaldo o que achou desse lugar, onde eu moro há anos.
            _Maravilhoso! Um lugar agradável, onde se ouve o canto das aves, que felizes procuram fazer ninho em sua copa..., tem borboletas de todas as cores, um belo lago de águas cristalinas e um jardim de margaridas bem cuidado! Você é uma árvore privilegiada.
            _ Sou sim, e fico muito feliz por isso, sou uma árvore útil... Ofereço minha copa para dar sombra, dou fruto, flores... Ao contrario de muitas... E minha madeira é muito valiosa. E vivo aqui, perto deste lago onde minhas raízes podem sugar a água dele e sempre me deixar bonita e vistosa.
            _O Garibaldo é muito gentil, Flora. Mas, pena que dificilmente tem idéias e palavras sábias... - disse Melissa.
            _Mas eu não falo palavras sábias para quem as ignora!-defendeu-se o boneco.
               Flora sorriu e indagou:
            _Não se preocupe com a antipatia da Melissa, Garibaldo, sempre foi assim..., mas tem um coração bom e generoso.
.           _Ah, palhudo, sem ignorância..., já agradeci pelo o que fez pela natureza. Quem é amigo da mãe natureza se torna meu amigo.
             _Sempre que eu puder defender a natureza serei grato. Eu que sou de palha e amo a natureza e procuro protege-la! Mas fico triste pelo homem que com tanta inteligência a ignora e acaba com tudo!
            _É verdade meu amigo Garibaldo! O homem é um ser muito mesquinho e ignorante. Você já viu algum abraçar aluma árvore 1Nem se preocupa com elas – disse Flora.
            _ Só sabem usufruir, da natureza, mas sem contribuir com nada..., claro que tem exceções - disse a deusinha.
            _Espero que eles um dia possam compreender que estão errados!- exclamou o espantalho.
              Sem esperar surgiu a figura de um cavalo branco com asas que pareciam de algodão.
            _Meu querido Céfalo, que bom te ver! – disse Melissa – O que faz por aqui!
            _Vim atrás da senhorita!Assim que deixou o reino das flores nunca mais se ouviu falar de vossa majestade. Todos ficaram preocupados. Eles acham que você dormiu os anos primaveris, onde é bem capaz de ficar dormindo anos e anos!
             _Pode voltar para o meu reino e dizer que estou bem..., apenas me mudei de casa!E digam para as minhas ninfas que assim que eu voltar quero ver todas as flores belas como sempre, as borboletas coloridas...
            _Espero que volte logo, Melissa- disse o cavalo branco – estamos todos com saudade de você - e Céfalo aproximou - se da deusa das plantas.
            _ Ah meu querido, eu também estava com muita saudade de você... - disse melissa o abraçando – mas eu tenho que voltar para a fazenda do Canto. Lucia e Leninha estão me esperando.
             Melissa apresentou Garibaldo para Céfalo. E se preparou para se despedir. Ficou surpresa quando Flora mandou um cardeal entregar um presente para ela. Melissa adorava presentes. Era uma coroa de pétalas de flores de violetas... Todas roxas.    
            _Eu agradeço pelo presente, Flora! Vou usá-lo em ocasiões especiais - disse Melissa o colocando.
_Todos estão morrendo de saudade de você, deusa das plantas, vê se voltas, mesmo. Como vai voltar para a fazenda, manda um abraço pra Lúcia e Leninha – disse Flora sorridente.
_Mando sim, Flora, e me aguarde; qualquer dia eu apareço novamente! – disse a deusa-e enquanto você Céfalo, espere-me, pois logo voltarei ao meu reino!
Finalmente Melissa e Garibaldo chegaram de volta ao terreiro da casa. Foram recebidos por Lúcia que os abraçou e até derramou lágrimas de felicidade.
_Melissa, o que aconteceu com a senhorita? – perguntou a menina.
_Só usei meu poder de aumentar de tamanho!
_Pois trate de voltar a Melissinha de antes, ao contrário vovó pode ter um ataque do coração.
Imediatamente a deusinha voltou do tamanho normal, pulou em cima da esquecida Azul e voou em direção do jardim.
Garibaldo também recebeu os abraços da menina que disse:
_Estávamos todos com saudades do senhor, Júlio vai ficar feliz em vê-lo novamente.
_Obrigado Lúcia! Estava eu, também com saudade do ambiente da fazenda...


7° Capitulo

No fundo do quintal, de baixo do grande pé de manga, estavam todos reunidos. Júlio ficou indignado ao ouvir Melissa dizer sobre os intrusos madeireiros.
_Preciso contar para vovô Arlindo! Imagina-se aquele bando de homens, resolverem acabar com a mata do Canto!
_Fique sabendo, Júlio, que a maioria deles não voltará mais, Garibaldo pôs aqueles cretinos para correrem... – disse a deusinha sentada nas mãos de Leninha.
_Eu não esperava, esta do Garibaldo. Em todo caso temos que agradece-lo – disse Leninha.
_Ouvi seu avô dizer que, quando se fazem grandes derrubadas, devem se fazer o reflorestamento e, o plantio de novas árvores! – concluiu o espantalho.
_Isso mesmo, Garibaldo! Se todos pensassem assim, nosso mundo seria muito mais agradável – disse Lúcia.
_Mas, também não para por aí - interferiu Melissa – fique sabendo que a caça sem controle leva várias espécies de plantas correm estes riscos! – continuou ela.
_Gostaria muito de conhecer a mata do Canto, estar em contato com a natureza, respirar o ar da floresta... – disse Leninha, depois de um suspiro.
Foi quando, Melissa indagou com ar de mistério:
_O que acham de amanhã antes que o galo cante irmos até O Canto do Beija Flor? Para as suas seguranças mando o Kurumim nos acompanhar!
_Ótima idéia, Melissa. Assim Lúcia e Leninha conhecerão Rajara e o menino-índio! E, desfrutaremos o ambiente da mata... – disse Júlio.
_Aprovado! Mas, para isso, precisaremos dormir mais cedo, pois ao contrário não levantaremos amanhã! – disse Lúcia levantando-se.
_Acalmam-se, pois ainda é cedo para se pensar nisso. Preciso mandar um bilhete para o Kurumim, avisando sobre nosso passeio! – indagou a deusinha das plantas.
_Mas, e se o Kurumim não puder nos acompanhar em nosso percurso?
_Bem, então, chamamos o Curupira! Mas, acontece que tenho certeza que o menino-índio vai aceitar nosso pedido – disse Melissa – Tenho que pedir ajuda ao pássaro juruva para levar o bilhete, a Azul esta ultimamente lerda continuou ela.
_É só a senhorita não disfarçar demais; como sempre é você que acaba estragando tudo – disse desta vez Lúcia franzindo a testa.
_Bem, chega por hoje, amanhã nós pensaremos nisso... – disse Júlio também se levantando e partindo para a varanda.

Naquele dia, portanto, Melissa escreveu uma carta, subiu em Azul e voou até o ninho do juruva. Assim que chegou, pediu para o pássaro leva-la para o Kurumim.
_Levo sim, deusinha! – disse ele pegando a carta com o bico.
_Não sei como agradecer, mas quando precisar de mim é só me procurar... – disse Melissa satisfeita.
Logo depois a deusa das plantas voou até o jardim, onde ficou até o sol se por. E, quando a noite chegou, Melissa trepou em uma flor de copo de leite e resolveu tirar uma soneca. Então, começou a sonhar. Sonhava que estava flutuando no imenso céu, cheio de nuvens brancas, com inúmeras borboletas coloridas e estrelas de cristais, fazendo um rostinho angelical de deusa.
Foi quando, sem esperar, com o sopro do vento, ela acabou caindo na grama verde do jardim e acordando.
_Ai que susto! Porque não me segurou, sua planta malcriada! Não veja que quase me quebrei! – gritou Melissa.
_Desculpe-me, dona deusa das plantas, acontece que eu estava dormindo, também! – indagou a flor copo-de-leite.
_Está bem! – Mas, da próxima vez, não perdôo, ouviu?
A rosa muito intrometida, que observava tudo, foi logo dizendo:
_Bem feito, Melissa, vê se não dorme mais nas folhas de qualquer flor, pois elas fazem isso por maldade.
_Não pedi opinião para nenhuma flor metida, senhora rosa. Ah, mas foi muito bom de eu ter acordado, pois tenho que começar a preparar meu plano.
_Mas, uma coisinha deste tamanho tem planos? Diga-me: do que se trata? – disse a flor-de-maio.
_Vejo que as maiorias das flores são intrometidas. Bem, isso não é da sua conta, mas por meio das dúvidas, vou até a Mata do Canto do Beija-Flor! – disse a deusinha com as mãos na cintura.
_Mas, que deusa antipática, devia ter mais respeito com nós; afinal a grande maioria da noite você dorme conosco! – indagou jasmim que também ouvia a conversa.
_Mas digo: haverei de ficar por aqui, por pouco tempo, resta poucos dias... - disse Melissa pensativa.
_Vamos expulsa-la do jardim, flores! Essa deusa não merece ficar aqui. A vida por aqui era mais sossegada sem a presença dela! – gritou o cravo.
Melissa, então, foi empurrada pelas plantas para fora do jardim.
-As senhoritas são umas Maria-vai-com-as-outras! Isso para mim não é um ato de união! – gritou a deusinha.
_Não se sinta ofendida, Melissa, estas flores são umas bobonas, que com a chegada da primavera elas pensam que são as rainhas do jardim. E, assim que chega o verão, elas ficam mudas! – disse de repente o juruva que observava tudo do alto do pinheiro.
_Não se preocupe! É só eu ignora-las. Ah, mas você levou a carta pra mim – interrogou Melissa, mudando de assunto.
_Levei sim e, o menino-índio disse que a qualquer momento da madrugada aparece por aqui.
_Que ótimo! Pelo menos tenho a certeza de que poderei levar Lúcia e Leninha até a floresta. A partir de agora vou encontrar Garibaldo. Até mais, pássaro juruva!
Então, Melissa usou mais uma vez seu poder de aumentar de tamanho e, correu encontrar o espantalho, esquecendo do que havia acontecido anteriormente.

Quando a deusa das plantas encontrou Garibaldo quase dormindo de baixo do bonito pé de jacarandá, tratou de dizer:
_Vamos, Garibaldo! Levanta-se e mãos à obra. Esqueceu por acaso de nosso plano?
_Oh, não, cara Melissa, estava esperando a senhorita me chamar.
_Mas que personalidade é essa? Que preguiça! Espantalhos servem para espantar, cuidar da plantação, jamais dormir. O senhor teve sorte de viver andando e falando por aí...
_Sei sim, mas apartir de agora a senhorita não fala com um espantalho preguiçoso, mas sim, com grande companheiro de sempre...
_Acho bom! Teremos, então, de comparecer até aquela pedreira, logo ali, para esperar pelo Kurumim...
O vento batia lentamente no rosto de Melissa, deixando seus compridos cabelos verdes flutuar na escuridão da noite. Em cima das grandes pedras da pedreira ela esperava algum sinal do menino índio. Foi quando Garibaldo anunciou de repente a chegada de Kurumim:
_Veja Melissa: o menino vem vindo por aquele lado ali! Junto dele vem também Rajara e Tom!
De fato, era verdade. Kurumim junto dos animais vinha se aproximando da pedreira. Assim que chegou foi abraçado por Melissa e Garibaldo.
_Onde estão os moradores da fazenda, não vão conhecer conosco a floresta do Canto? – perguntou o menino.
_Vão sim, temos que espera-los... – disse a deusinha
E, assim o relógio da sala bateu cinco horas da manhã. Lúcia foi a primeira a acordar, em seguida Leninha, que foi dizendo:
_Fico ainda querendo chamar vovó e explicar tudo..., estou com medo de se arrepender.
_Pois, se for para pensar assim, é melhor que fique, porque não quero ver ninguém chorando de arrependimento, ouviu! – falou Lúcia, tratando de se vestir.
Júlio esperava pelas meninas na sala. Quando todos ficaram prontos, em fila indiana começaram abrir a porta para irem ao terreiro. Logo que pisaram na varanda, viram Melissa, Garibaldo e o celebre Kurumim.
_Venham rápido, pois não temos muito tempo! – gritou Melissa.
As meninas então, foram apresentadas para o Kurumim. Leninha se encantou ao ver o forte felino e a coloridíssima arara.
_Como conseguiu domesticar estes animais, caro Kurumim? – perguntou Lúcia.
_Ora, para quem nasceu e, está crescendo na floresta, digo que eles fazem parte de minha vida. Eu os criei! – respondeu o menino.
_Para mim, foi um grande prazer conhece-lo, Kurumim. Sempre imaginei que a floresta do Canto poderia abrigar personagens misteriosos e principalmente um amigo dos animais - comentou Leninha.
_Bem que vovô Arlindo nos dizia que as florestas têm seres defensores da natureza. Embora ele não acredite em fantasias e, em seres misteriosos, como você, Kurumim... - continuou Lúcia.
_Também estou muito contente em conhecer pessoas como vocês. Nunca pensei que poderia ter contato com a minha espécie...; pensava que os brancos eram todos ambiciosos, antes de eu conhecer Júlio. Isso por causa daqueles que maltratam a natureza – indagou o menino-índio.
Lúcia estava com um vestido de cor verde-água, acompanhado de uma fita branca. Com o olhar alegre, demonstrava-se ansiosa, não via o momento de entra na mata.
_Estão todos preparados para entrarem no Canto? Vamos iniciar o passeio! Disse Melissa percebendo o olhar ansioso de Lúcia.
_Hoje o dia promete muita aventura, espero que não me engane! – comentou Júlio.


8° Capitulo

Um vento gélido tocava os rostos dos aventureiros que, com passos apressados entravam no Canto. Conforme andavam escutavam os barulhos da escuridão da mata. Foi quando Kurumim indagou:
_Aqui na Floresta vive grande quantidade de seres autótrofos e heterótrofos..., cada um em seu habitat.
_Mas, o que significa autótrofo e a outra palavra esquisita que você disse Kurumim? A linguagem da selva eu não entendo – disse Júlio intrigado.
_Esta, não é a linguagem da Selva, mas sim, da biologia. Autótrofos significa seres que produzem seu próprio alimento, através da fotossíntese, Exemplo: os vegetais! – explicou o menino-índio.
_Então, seres heterótrofos são aqueles que não produzem seus próprios alimentos. Como nós!... – disse Lúcia.
_Muito bem! Os seres heterótrofos são todos os animais. Eles precisam alimentar dos autótrofos para obterem energia – falou Kurumim.
_Ultimamente a biologia dá cada nome estranho..., mas tudo tem sua lógica – disse desta vez Leninha.
_O que acham de conhecerem a gruta do Lago Azul? Nela vivem Parda e sua mãe, duas onças das espécies das suçuaranas! - indagou Kurumim.
Todos concordaram e começaram a seguir os pequenos índios, que devia ter a mesma idade de Júlio. Logo avistaram uma grande montanha pedregosa com vários ipês rodeando-a. Em seu centro dava-se pra ver uma entrada de caverna. Quando entraram na gruta, de fato um lago magnífico de águas de coloração azul turquesa havia por ali.
Garibaldo, sempre atrás, observava com cautela cada lado da caverna, sem dizer nenhuma palavra, admirava o lago. Melissa, percebendo que ele estava ficando para trás correu em sua direção dizendo:
_Vamos Garibaldo! Vai acabar se perdendo, isso não é bom. E, não foi para ver o lago que viemos para cá, mas sim, para ver Parda, o filhote de onça.
_Acontece, que já descobri o porquê da coloração do lago. Esta vendo aquele buraco lá em cima – disse o espantalho apontando com o dedo – ele faz com que a luz da noite e, também do dia, refletem na gruta. Isso explica o tom azulado do lago – continuou.
_Esta bem! Mas a mudança da cor da água eu não sei, isso deve ser um segredo da mãe natureza.
Resolveram então seguir Kurumim que estava lá adiante.
_Quando Parda ficar um pouco maior será sua, Júlio – dizia o menino-índio.
_Fico feliz por isso, em saber que um dia desses vou ter um animal da mata que, também será um companheiro! – exclamou Júlio.
Deitada em uma enorme pedra, uma suçuarana fixava o olhar nas crianças. Com sua pelagem amarelo-avermelhado o felino anunciava com o olhar para o filhote, que também estava presente, a chegada de visitas.
Rajara a onça-pintada, não tinha entrado na gruta, assim que acompanhou o menino-índio até a caverna, o deixou. Com certeza estava caçando ou andando pela floresta.
_Como Júlio já sabe, está aqui é Parda, talvez futuramente seja uma companheira de vocês, também! - disse Kurumim para as meninas.
_Este é um ótimo abrigo para onças. Nas cavernas, geralmente podem encontrar felinos como este! – disse Garibaldo observando a onça.
_Tem razão, e, elas só saem daqui para procurarem alimentos e outras necessidades – indagou Kurumim ao ouvir a explicação do espantalho.

Assim que deixaram à caverna, seguiram uma estrada de araucárias a mesma que Júlio havia passado dias atrás.
Ainda era madrugada, por certo o sol estava para surgir. Ao passarem em frente duma cachoeira, Leninha disse ao Kurumim:
_Gostaria de conhecer a Iara, só a conheço por livros, jamais eu vi uma. Será que você não poderia chamá-la?
Neste momento, Lúcia cutucou a irmã, mas como também queria conhecer a rainha das águas, calou-se.
_É uma pena! Pois Sarita, a Sereia, viajou ontem para o oceano. Foi visitar uma prima – disse o menino-índio.
_Me diga, Kurumim: por falar de Sarita, os rios diminuíram suas poluições? – indagou Melissa.
_Ah, sim, depois daquela nossa reunião, muitas coisas mudaram, inclusive o desmatamento.
_Que ótimo! Estava preocupada com as derrubadas. Pensei até em falar com vovô Arlindo! – disse Lúcia.
De repente do alto de uma árvore, surgiu à figura de um menino de uma perna só. E, mesmo com só uma perna desceu de lá de cima. Era o Saci.
O que faz com esse bando de gralhas, Kurumim. – disse ele ao se aproximar.
_Eles não são gralhas, são três seres humanos! Aquela logo ali é Lúcia, a outra é Leninha e este é Júlio.
_Mas o senhor não sabe que é proibido trazer filhote de homens para cá?
_Fiquei sabendo, Saci, que eles são nossos amigos. E, são livres para andar conosco na floresta – disse Melissa.
_Até a senhorita! Não acredito que seres defensores da natureza são capazes duma coisa dessas! Não acham que estão arriscando a vida da mata trazendo essas espécies?
_Olha, Saci, como sabe que eu sou a deusa das plantas, eu não gostei desta sua desconfiança de mim. Fui eu quem os trouxe até o Canto. E, eles não teriam coragem de fazer mal contra a natureza – protestou a deusinha.
_A senhorita tem provas? – disse o Saci.
Melissa que não gostava de conversa jogada fora, foi logo dizendo:
_Senhor Saci, não sei por que está atrapalhando nosso passeio. Todos nós sabemos que o senhor apronta várias maluquices. Além de atentar as pessoas, maltratar os animais!
_Não acredite nela, Kurumim. Ela é uma falsa, devia ser castigada.
Lúcia tratou de defender a deusinha.
_Como pode dizer uma coisa dessas? Quantas vezes apareceram na fazenda, trançou as crinas dos animais e azedou o leite de vovó Albina.
_Você por acaso já me viu? – desafiou o Saci.
_Nunca! Mas tenho certeza que foi você, porque não conheço outro que apronta tanta confusão! – indagou a menina.
_Não vou dizer mais nada, mas se você quiser acreditar neles, que acredita Kurumim!
Depois de pensar um pouco, o menino-índio disse:
_Saci, não precisava fazer toda essa algazarra, porque conheço Melissa, e sei bem quem são os amigos dela.
O Saci ficou envergonhado, nem teve coragem de pedir desculpas... Foi correndo aos pulos, não sei para onde...
Depois daquela confusão, os aventureiros começaram outra vez seguir estrada. Foi quando Júlio indagou, espantado:
_Onde está Garibaldo, pessoal?
_Mas, eu disse para ele parar de observar tudo o que vê e, também andar mais rápido! Eu tinha certeza de que isso iria acontecer – disse Melissa.
_Onde será que ele se encontra? Que pena! Era um bom sujeito... – disse Leninha tristonha.
_O culpado é ele! Não mandei admirar tudo, andar lentamente! – indagou Melissa.
_Vou mandar Tom procura-lo! Quem sabe recebemos alguma resposta – disse Kurumim. Tirando, então a ave do ombro e ordenado que enviasse resposta de Garibaldo, se o encontrasse.
_Foi o azar que o Saci Deixou! – murmurou Leninha para a irmã.
_Por enquanto vamos ter que prosseguir o passeio sem Garibaldo. Está quase chegando à hora de voltarmos para casa – disse Júlio.
Não muito longe, avistaram uma fumaça que parecia ser de alguma queimada feita pelos homens.
_O que deve ser? Será que os lenhadores voltaram? – interrompeu Kurumim curioso.
_Vai ver é mesmo!- brincou Melissa – talvez botaram fogo no Garibaldo... – caçoou ela.
Então, resolveram descobrir o que fazia aquela fumaça no centro da floresta. Logo viram uma gruta. A fumaça saía duma, chaminé de pedra, em dela. Kurumim apavorado, indagou:
_Vamos sair logo daqui! Esta é a moradia do Bicho-Folhagem, um feiticeiro!
Mas foi em vão. Apareceu diante das crianças o tal Bicho-Folhagem. Seu corpo de fato era coberto de folhas; ao ver os meninos ele disse com a voz de rude.
_O que fazem por aqui? Não vêem que eu estava dormindo! Vão ser castigados.
Quando o Bicho-Folhagem viu o Kurumim e a Melissa, ficou mais nervoso.
_O senhor não vai nos castigar de jeito nenhum! Seu ignorante! – Gritou o Kurumim.
_Então deixe os meninos passarem – disse Melissa.
_Não vou deixar que essas crianças vão embora sem ser castigadas , porque me acordaram! Eu não gosto de filhote de homens...
O Bicho-Folhagem, irritado, transformou as duas meninas e Júlio, do tamanho de um dedo polegar.
_Estes aqui serão meus prisioneiros! E agora tratem de saírem daqui, ou acabo com vocês! – indagou o feiticeiro.
O Kurumim teve de deixar as crianças e voltar para seu lar. Enquanto Melissa foi jogada pela imensidão da floresta para que se perdesse.


9° Capitulo

De volta a gruta, o Bicho-Folhagem havia colocado as crianças dentro de um vaso e as fez prisioneiras. O vaso era de cristal, portanto lá dentro, Lúcia e Leninha apavoradas, podiam observar o feiticeiro.
_O que será agora de nós? Porque não nos veio em mente que mesmo com Melissa e Kurumim, é perigoso andar na mata! – choramingou Leninha.
_Acalmam-se, tenho certeza que Melissa vai nos libertar! – indagou Júlio.
_Como? Ela não tem poderes suficientes para combater sozinha, o Bicho-Folhagem! – disse Lúcia aflita.
_Ela sozinha, mas, e se por acaso ajuntar o Curupira, o Caipora... – disse o menino escondendo certa desconfiança da deusinha.
_Não devíamos desobedecer à vovó Albina. Afinal de contas eu esperava que pudesse acontecer uma coisa desta...! – disse Leninha.
Neste momento, puderam ver o malvado Bicho-Folhagem mexendo num grande caldeirão, de onde saía a tal fumaça que, instantes atrás imaginaram ser uma queimada.
_Será que o feiticeiro vai nos colocar nesse caldeirão? Será que é alguma sopa de bruxo? – cochichou Leninha.
_Imagino que não, deve ser alguma celebração, pois não estou vendo nenhum outro prisioneiro, e, nós tínhamos visto a fumaça antes de estarmos presos aqui – disse Júlio.
_Estou começando a temer esse ser malvado, vai saber o que ele quer com nós! – indagou Lúcia.
Enquanto as crianças pensavam em um meio de se livrarem das garras do Bicho-Folhagem, perdida na floresta, Melissa tentava encontrar algum ser folclórico para que o mostrasse o caminho da gruta do feiticeiro para libertá-las.
Andava com passos apressados, observando tudo ao seu redor. Melissa estava apavorada e com um grande peso na consciência, Até que cansou de andar e, por fim sentou-se num tronco caído de jaracatiá e pôs a pensar.
O vento lentamente batia no rosto da deusinha, fazendo com que a folha presa em seus cabelos, tampasse uma parte dele. Foi quando passou em sua frente um cachorro-do-mato-vinagre que fixou o olhar nela, mas logo tratou de continuar a andar pela mata. De cima de uma árvore um pica-pau-da-cara-amarela batia contra o tronco a procura de formigas e um ouriço andava pelos longos galhos da árvore. Era a natureza viva, como Melissa sempre desejava ver.
_Como é esplendida a natureza! O homem bem que poderia amá-la mais... – disse consigo a deusinha.

Após um longo descanso, Melissa resolveu andar pela mata. Já estava desesperada, quando de repente, apareceu voando em sua frente uma coloridíssima arara, onde logo descobriu que esta não passava de Tom. A ave de estimação de kurumim.
A ave parecia dizer algo, voava para cá e pra lá, Melissa percebeu, então, que ela queria levá-la para algum lugar, mostrar alguma coisa.
Enquanto isso, na gruta do Bicho-Folhagem, o feiticeiro depois de invocar suas magias, resolveu dormir. Deitou-se numa grande pedra e preparou-se para seu sono de primavera.
_O que será de nós? Quem vai nos libertar dessa prisão? Estou querendo voltar em casa – indagou Leninha derrubando uma lágrima.
_Tenha paciência Leninha, tenho certeza de que ainda vamos nos sair livres daqui – disse Lúcia escondendo certo arrependimento.
Júlio começou a escalar as pedras de cristal do vaso, para se sentir livre e talvez procurar ajuda. Mas como estava de um tamanho muito pequeno resolveu desistir.
_É melhor parar de escalar o vaso, pode se machucar... – disse Lúcia ao irmão, que logo desceu ao chão.
_Tem razão! Mas, por enquanto estamos sem saída - respondeu o menino.
Na floresta, Melissa seguia a arara, que sem esperar a levou numa clareira, onde desacreditando pode ver Garibaldo preso em um galho de uma pequena árvore.
_O que houve com o senhor, Garibaldo?
_Olha Melissa, nada a mais do que ser preso nesses galhos afiados dessa árvore.
_Eu o avisei para não observar tudo com tanta cautela. Se fosse mais esperto, seguia o grupo como um ser sábio!
_Ora, Melissa, sem brigas, estou preso aqui há horas. E, afinal de contas, onde está o pessoal?
Neste ponto a deusinha estremeceu ao lembrar das crianças
_Bem, elas foram pegas pelo Bicho-Folhagem!
_Não consigo acreditar, deusinha! Foi este aí que jogou em mim uma magia para que eu ficasse preso aqui. E, agora o que vamos fazer?
_Não faço a mínima! Quem sabe, se eu encontrar o Curupira... – indagou Melissa pensativa – onde será que foi parar a arara que me trouxe até você?
_Voou naquela direção, deusinha - disse o espantalho apontando com o dedo na direção onde seus olhos a via.
_Ela foi embora..., que pena. Mas temos que achar algum jeito de te tirar você daí; depois temos que encontrar o caminho da gruta do bruxo.

Ouve uma surpresa, de repente, apareceu o deus da mata, o Curupira. Que, logo ao chegar disse:
_Estão precisando de ajuda? O que aconteceu com o espantalho?
_Ele foi preso nesses afiados galhos, pelo Bicho-Folhagem, que também aprisionou as crianças! – disse Melissa.
Depois de ouvir todo o acontecimento, o Curupira libertou o espantalho e, logo começou a sugerir idéias de salvamento.
_O que acham de construirmos algo, ou seja, inventarmos alguma idéia para combatermos o feiticeiro? – perguntou ele.
_Aprovado! Mas, digam-me, o que me sugerem de construirmos uma flauta mágica falsa para enganarmos o Bicho-Folhagem para que ele pense que... – disse Garibaldo sem continuar a falar, pois logo foi interrompido pelo Curupira.
_Já sei aonde o senhor quer chegar, Garibaldo, pensando bem, é uma ótima idéia.
_Também achei, Curupira, tenho até uma outra idéia que vai fazer o malvado feiticeiro sentir o sabor da dor... – disse a deusinha.
_Mas, o que esconde por trás dessa idéia misteriosa, Melissa – interrogou o Curupira.
_Bem, primeiro tratem de construírem uma flauta mágica falsa que depois eu digo o que faremos.



10° Capitulo

Dentro do vaso de cristal, presos, as crianças desanimadas, acabaram dormindo, sem ao menos acreditarem, pela última vez, de que poderiam ser libertas.
Mas, aconteceu que feita e aprovada a idéia de Garibaldo, Melissa e o deus da mata partiram em busca dos meninos.
Revoltado com a vida, o Bicho-Folhagem havia acordado, pronto para descontar sua raiva a quem tivesse em sua frente. No caso seus prisioneiros.
_Acordem seus carrascos! Preparem para virarem ingredientes de minha sopa.
Imediatamente, ao ouvir aquela voz estridente, Júlio acabou acordando e, ao ver o feiticeiro irritado, tratou de acordar as irmãs.
_Acordem! Lúcia! Leninha! acordem...
_Se preparam para serem jogados no caldeirão! – exclamou o Bicho-Folhagem como uma fera.
De repente, apareceu de fora, a majestosa Melissa. Corajosamente a deusinha foi entrando e, logo indagou:
_Sentiu saudades de mim? Vim visitá-lo senhor Bicho-Folhagem!
_Ótimo, pois também será ingrediente da minha sopa...
_Vim aqui para uma conversa amiga, quero que saiba que poderemos ser grandes companheiros...
_Onde a senhorita pretende chegar? Diga-me?
_Vejam: olha como a Melissa é corajosa, nunca esperava por esta... – disse Leninha aos irmãos.
_Sabe, Bicho-Folhagem, trouxe uma surpresa para você. Um presente que sempre desejou. É a flauta mágica do Curupira, eu a roubei e vim fazer uma troca.
_E, afinal, o que quer em troca? – perguntou o feiticeiro.
_Bem, que liberte seus prisioneiros...
Com o olhar fixo na deusinha o feiticeiro indagou:
_O que está querendo aprontar, hein? Sua cara é de que existe algo por trás disso...
_Isso no seu pensar – e tirando as mãos de trás das costa mostrou a flauta.
_Então me entregue-a! Só assim libertarei seus amigos.
_Primeiro solte-os! Ao contrário vou-me embora...
O feiticeiro pegou as crianças na mão e os devolveu seu tamanho normal.
_Gostei de sua confiança por mim, feiticeiro! – e entregando a flauta, abraçou as meninas – Vamos embora pessoal, vocês já estão libertos!
_Onde está o Garibaldo, o Kurumim?... – perguntou Júlio.
_Venham comigo e, rápido! – exclamou Melissa.
Para a qual o julgavam perdidos...
_Que bom vê-lo novamente, senhor espantalho! Fico feliz por isso – disse Leninha correndo em sua direção.
_Por onde andava Garibaldo? – perguntou Júlio ao aproximar dele.
_Fui preso nos galhos de certa árvore! E, sabe quem me prendeu? Foi também o Bicho-Folhagem.
_É melhor levarem as crianças para a fazenda, pois logo o feiticeiro cairá em nossas armadilhas, Melissa – disse o Curupira.
_Tem razão! Afinal eles já aproveitaram bastante o passeio. E foi até de mais... – disse a deusinha.

Albina na varanda, ao ver as crianças foi logo dizendo:
_O que significa isso? Onde estavam Seu avô foi com Bento procurar vocês! Vão ter de explicar.
_Acalma vovó, vamos todos explicar o motivo de nosso desaparecimento. Tenho certeza de que a senhora vai nos entender – disse Leninha.
Quando a boa senhora viu Garibaldo quase teve um ataque no coração.
_E, quem é esse sujeito aí? Por acaso não ensinei que não devem andar com estranhos?
_Esse vovó, é um espantalho muito camarada, seu nome é Garibaldo – esclareceu Júlio.
Albina não sabia o que fazer, mas quando viu Garibaldo andando e falando começou a gritar.
_Socorro! Acudam-me! Crianças mandem esta coisa ir embora! Se não vão ver!- e com o coração aos pulos entrou e trancou a porta.
_E agora, o que vamos fazer? De uma coisa eu sei; vamos ser castigados... – disse Júlio.
_Nós devíamos ter escondido Garibaldo, logo que chegamos e assim... – e Leninha não concluiu, pois Lúcia a interrompeu, dizendo:
_E, assim uma hora e outra ela descobriria...
_Vejam! Vovô e Bento vêm vindo lá adiante – gritou Leninha.
_E agora? ! Acho que este será meu fim... – disse o espantalho.
_Cale-se, não vê que todos nós estamos preocupados? Acho que quando ele chegar vai fazer queimada de palhas! – indagou Melissa, fazendo careta.
Arlindo e Bento vinham montados a cavalo, indo à direção das crianças. Assim que chegaram, o avô indagou com a cara brava:
_Onde estavam, hein? Nós estávamos procurando por vocês!
Garibaldo mesmo com medo disse olhando firme para Arlindo.
_Olhe senhor, não nos castiga, pois vamos prometer que nunca mais faremos isso.
Arlindo ao contrário de Albina, embora não acreditando que, aquele simples espantalho que havia construído, estava falando com ele, ficou muito admirado e, até esqueceu de castigar as crianças.
_Cadê vovó Albina, meninos? – perguntou o avô.
_Se trancou na casa está morrendo de medo do espantalho – disse Júlio.
Depois de uma risadinha, o bom avô desceu do cavalo e correu chamar Albina.
_Arlindo é melhor que entre rápido pelas portas do fundo! Tem um sujeito muito esquisito aí... – disse a velha desesperada.
Foi assim que os dois avós conheceram Garibaldo. Com o tempo Albina foi se acostumando com a presença dele e, Arlindo não perdia um bom papo com o espantalho.
Mas naquele dia alguém quase morreu de raiva e dor. Este era o Bicho-Folhagem que foi enganado por Melissa. Pensando que a flauta que recebera era verdadeira, mas teve má sorte, além de ser falsa, a deusinha tinha colocado inúmeras formigas das espécies das quenquéns dentro dela. E, assim que resolveu tocá-la teve a surpresa.

11° Capitulo

Um dia sentado de baixo do pé de manga, Júlio foi surpreendido por Tom, que trazia um bilhete na perna esquerda. Assim que o menino percebeu, tirou e, pôs a ler. Dizia assim:
“Caro amigo Júlio, escrevo este pequeno bilhete para te dizer que algum dia eu apareço por aí. Quero que também saiba que vou trazer Parda. Está lembrando de quando prometi te dar o filhote de onça?!”

                    Assinado. Kurumim
Após ler, Júlio agradeceu Tom por ter trazido a correspondência e correu chamar pelas meninas.
_E, quando será que ele vem? – perguntou Lúcia interessadíssima.
_Não sei, ele não colocou no bilhete! – disse Júlio.
_Talvez ele venha hoje! Quem sabe – disse Leninha.
Melissa se encontrava do tamanho de um dedo polegar, sentada em uma vistosa folha de violeta, a deusinha preparava-se para cumprir o que havia prometido para a árvore Flora. Era voltar para seu reino. Mas, para isso teria de se despedir das crianças. Trepou em Azul e voou em procura dos amigos.
_Tchauzinho pessoa, prometo voltar um dia; em breve nos veremos novamente – disse Melissa.
Todos ficaram tristes, mas não tinha outra escolha. Lúcia, então, tirou uma muda de orquídea Capanemia, onde Melissa pediu para que o pássaro juruva a levasse para ela, até em seu reino.
_Até algum dia, Garibaldo, foi muito bom te conhecer... – disse a deusinha.
-Até, Melissa! – respondeu o espantalho tristonho.
E..., Melissa voou para seu lar, um lugar encantado, onde os deuses e seres magníficos o protegiam. Um misterioso lugar, que fica além de nossa imaginação...


                                                * * *
                                                                  Continua...


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