Por João Calvino
“Quem nos separará do amor de Cristo?” Ele agora dá mais amplitude a esta segurança, levando-a para a esfera dos seres inferiores. Aqueles que se deixam persuadir pela divina benevolência em seu favor são capazes de manter-se firmes nas mais variadas e prementes aflições. Estas atormentam o ser humano numa extensão muito ampla, seja porque não consideram que estas coisas procedem da providência divina, ou porque interpretam-nas como sinais da ira divina, ou porque acreditam que Deus esqueceu-se deles, ou porque não conseguem divisar o propósito delas, ou porque não conseguem meditar sobre uma vida melhor, ou por outras razões similares. Mas quando a mente se vê purgada de erros dessa espécie, então facilmente mergulhará em perene placidez.
O sentido das palavras consiste em que, seja o que for que nos aconteça, devemos permanecer firmes na confiança de que Deus, que uma vez por todas um dia nos envolveu em seu amor, jamais deixará de cuidar de nós. Paulo não diz simplesmente que não existe nada que dissuada Deus de seu amor por nós, e, sim, que deseja que o conhecimento e o vivido senso do amor sejam tão fortes em nós que o mesmo venha a vicejar em nossos corações, de uma maneira tal, que sempre triunfe em meio às trevas de nossas aflições.
Tal como as nuvens, embora escureçam passageiramente a clara visão do sol, não nos privam totalmente de sua luz, também a nós, em nossas adversidades, Deus nos envia os raios de sua graça através de nossas trevas, a fim de que a tentação não nos vença e nos faça mergulhar em desespero. Deveras, nossa fé deve ascender com asas, movidas pelas promessas divinas, e penetrar o próprio céu, vencendo todos os obstáculos que tentam obstruir nossa jornada.
A adversidade, é verdade, considerada em sua própria natureza, é um sinal da ira divina; mas quando o perdão e a reconciliação a tenham precedido, então passamos a compreender que, embora Deus nos puna, todavia jamais se esquecerá de exercer sua mercê em nosso favor. Paulo nos lembra o que realmente merecemos, mas enquanto insiste em nossa necessidade de exercer arrependimento, também testifica não menos que a nossa salvação é especial objeto do cuidado divino.
Ele fala de o amor de Cristo, porque o Pai, em Cristo, revelou sua compaixão para conosco. Portanto, visto que o amor de Deus não deve ser visto fora de Cristo, então Paulo corretamente nos lembra esta verdade, para que a nossa fé possa contemplar o sereno semblante do Pai através dos fulgurantes raios da graça de Cristo.
Sumariando, nenhuma adversidade deve minar nossa confiança de que, quando Deus nos é propício, nada poderá ser contra nós. Há quem tome o amor de Cristo em sentido passivo, pelo amor por meio do qual o amamos, como se Paulo quisesse munir-nos de uma coragem invencível. Mas este equívoco é facilmente desfeito pelo contexto todo, e o apóstolo, aqui, também remove toda possível dúvida mediante uma definição mais clara desse amor.
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