Fabiana Pinto manda ver muito bem nas narrativas infantis, mas ela já sabe disso.
Neste “Pérola se aventura em Cumuruxatiba” – em que dá continuidade à saga da pequena que, não por ocaso, é sua filha –, a narrativa de Fabiana flui e quem ganha com isso são os leitores.
Sincero, quase inconveniente, cheguei a sugerir à autora que renunciasse de vez aos versos em proveito da prosa. A leitura da mais nova aventura de Pérola, felizmente, fortaleceu ainda mais a minha convicção inicial. Ponto para a autora.
Assim, quem tiver a oportunidade de acompanhar as aventuras de Pérola em Cumuruxatiba – balneário localizado no município de Prado, no extremo sul da Bahia – vai adorar as peripécias da menina e da amiguinha pataxó que, também, se chama Pérola. Sem contar, as intervenções muito bem-vindas de dona Miúda, índia pataxó a quem cabe a missão de esclarecer alguns mitos desse povo que tem papel fundamental na mitologia e cultura locais. “Cumuruxatiba”, em pataxó, por exemplo, significa “a diferença entre maré alta e baixa”.
Fato é que, ao deixar Teixeira de Freitas rumo à praia, a pequena Pérola nem imaginava que teria um final de semana animado, instrutivo e mágico em “Cumuru”, mantendo contato direto com a natureza exuberante e compartilhando umas boas revelações sobre os pataxós.
Mais um ponto para Fabiana Pinto, que, sabiamente, segurou a atenção dos leitores mirins (adultos também) do início ao fim da história.
Em primeiro lugar – repito –, a narrativa flui que é uma beleza, com Pérola filha e Pérola índia protagonizando uma história ágil e contagiante, à maneira dos contos de aventuras que, uma vez lidos, ficam gravados na memória da gente.
Se não bastasse a curiosidade e disposição da protagonista para as aventuras, ela encontra na indiazinha Pérola (quanta coincidência!) uma parceira à altura. Auxiliadas por dona Miúda (espécie de memória viva pataxó), as duas meninas conquistam não só a atenção, mas também o carinho e a cumplicidade dos leitores.
Em segundo lugar – numa narrativa que, à primeira vista, não se presta a segundas intenções, mas tão somente a contar uma história –, a autora conseguiu mostrar as belezas paradisíacas da região, discutir a riqueza cultural dos pataxós, ainda por cima tendo como pano de fundo a biodiversidade da Mata Atlântica.
Com certeza, outro ponto para Fabiana Pinto.
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