O grande erro é crer que se pode domesticar as conversações, como o domador faz com seus tigres. Delas não há que esperar lealdade alguma, essa ingratidão felina que carregam torna inútil todo esforço, ainda que fossem cuidadas desde pequeninas como um gesto ou um breve silêncio de sessenta e dois centímetros que separa a duas pessoas sentadas à mesa. Não importa o quanto lhes atenda, ou com que rigor ou prudência trate de lhes encaminhar pelos terrenos da lealdade, as conversações costumam abandonar todo conselho, toda súplica; entram e saem por onde querem, quando querem. Com a cabeça nos bate à porta pedindo asilo, e entram com seus passos diminutos, dóceis, cristalinos até a burla; mas ao sentir o refúgio da casa, escurecem, e ondulam transvestidas em todas as fendas que encontrem pelo caminho, desde as gavetas do guarda-roupa, até as orelhas dos anfitriões que, confiados, enchem os vasos de vinho e assam o queijo como se nada estivesse acontecendo. As harpias vão e vêm desordenando tudo, manchando tudo com a rebarba de seus corpos. O pior é que na realidade não se sabe o que esperar ao final do dia. Nem sempre machucam, às vezes uma estranha compaixão lhes inunda a cara, e então são elas as que te esperam na porta de tua casa e te recebem com beijos na boca, te acariciam o rosto, e te levam até a sala para perguntar-te como está aquele assunto do escritório, se já está são o cachorro, ou como estão os jardins da avó. Quando ocorre isso, não resta mais que responder de boa vontade, sem melindre, mansamente. Isso lhes encanta. Pode-se convocar a uma concentração massiva de conversações apenas decidindo desfiar a língua em um só ato, palavra por palavra. O problema é que as vezes chega-se a acumular tal quantidade de conversações que é impossível mantê-las em casa, nem sequer cabem comodamente na cidade, ou em todas as cidades do pais. Há que ser precavido com isso; as conversações não têm memória para um lar ou têm uma bastante distorcida. Nômades bestiais, assumem que todo lugar pisado lhes pertence. É curioso, não sentem falta das terras que vão deixando, mas sentem saudades de seus anfitriões; quando uma conversação se afeiçoa contigo, te segue por toda parte, escondida em teu bolso, ou na pala da camisa. Se um dia uma força estranha te impede de sentar-se à mesa de algum bar, é porque seus seguidores chegaram a tal número que não cabem nem pendurados na janela. Te seguirão a qualquer lugar até que uma delas se canse de ti e se volte contra teu peito, e te morda com sua mandíbula microscópica, e te abra o canal (também microscópico), e faça sair de ti um fio de sangue que não poderás cheirar nem olhar, porém o sentirás imenso como uma dessas formidáveis feridas de guerra. Nesse momento, indignados pela violência, todas as conversações deixarão de ocupar tua casa ou teus bolsos e, sem saber, estarás completamente só, esperando que alguém bata do outro lado da porta.
Do autor mexicano: Diego salas
Tradução de: Giane oliveira
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