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Texto selecionado
PSICOPUTA - porque tem coisas que não aprendemos na escola |
Pablo Treuffar |
Desde novinha só pensava em pica
Sempre fui bonita e gostosa
Nunca faltou nada
Meus pais são ricos
Fiz todas as viagens
Todos os cursos
Falo inglês, francês, alemão.
Autodidata em espanhol e italiano
Melhor aluna do balé
Toco piano e harpa
Campeã de esgrima na modalidade sabre
Aptidão nata pra aprender
Nunca fiz esforço
Formei-me pela UFRJ frequentando lavatórios
Mestrado e Doutorado
Sou engenheira química
Antes estudei no Santo Inácio
Foi lá que tudo começou
Com dezesseis anos já tinha chupado quase todos
Era eu a verdadeira putinha de banheiro
Nunca fui pega em flagrante
Não pelas candinhas religiosas
Boatos são só fofocas
Negávamos tudo
As freiras nunca tiveram certeza
Qualquer rumor era sem procedência
Os meninos eram cúmplices
Não se importavam com suspensões
Eles tinham muito a perder
Minha fama era o discurso abstrato da balela
Meus pais eram chamados pra conversar
As pedagogas com nada conseguiam corroborar
Para meus progenitores era cômodo não acreditar
Não tive problemas por conta do improvável
Minhas amigas, as idiotas da repetição de conceitos estabelecidos, diziam eu ser virgem.
Aquele papo de hímen sem pé nem cabeça
Não dar a buceta era minha perversão
Pra pessoas inteligentes eu posso dizer
Perdi a virgindade chupando dois alunos no banheiro
Aos quatorze
Nascia uma lenda
Adorava isso
Pau na buceta só aos dezessete
Hoje tenho trinta
Sustento meu vício
Meu teste vocacional deu pessoa amoral
Sou puta
Não sou garota de programa
Não sou acompanhante
Sou puta
A puta
Lembro de uma amiga falando da superclasse:
“Prostituição é profissão
Putaria é diversão
Puta é uma coisa
Prostituta é outra
Tudo é uma questão de atitude
A puta brinca
A prostituta não
A puta goza
A prostituta cobra
Mas existe a superclasse da fusão dos gêneros
As prostiputas
Essas trabalham por vocação”
Nunca esqueci tais palavras
Sou extraclasse
A prostiputa
Perpetro por gosto
Faço de tudo
Beijo na boca
Dou o cu
Bebo porra
Apanho
Sou submissa
Mulheres seguras são submissas
Só as inseguras são feministas
Sou uma devassa
Ironias da vida
Tenho hímen complacente
Eternamente “virgem”
Com vinte e quatro anos comecei a cobrar
Antes tinha uma profissão normal
Concursada da Petrobrás
Mauricinhos me comiam pouco
Prefiro desconhecidos
Um dia, num banheiro sujo de beira de estrada, um homem falou:
- Você gosta muito! Poucas pessoas ganham por prazer! Você merece receber!
Ele me deu uma nota de cem
Não foi o valor do dinheiro que me convenceu
Foi o símbolo
Cem Reais era muito dinheiro pra ele
Hoje cobro dois mil por três horas
Mas ainda dou de graça nos banheiros imundos dos homens fétidos
Gosto de esculacho
Nascida para fuder
Nem um homem pode resistir
Dias vãos
Noites vêm
Atualmente fetiches sussurram no meu ouvido
Fetiches macabros gritando todas as noites
Acordo assustada ouvindo:
- Broxar é inaceitável!
Coisas mudam quando demônios gritam
Contrariando os requisitos de segurança, recebo clientes na minha residência.
Existe um motivo
As vozes nos meus pesadelos
Tenho nojo de homem frouxo
Homem que não dá no couro é rato
E ratos têm de ser exterminados
Outro dia vi um cara comprando uma pá num sobradinho de Copacabronx
Podia pensar nele cuidando do jardim
Não
Pensei nele enterrando corpos
O sujeito olhou-me os olhos e saiu da loja
Tive certeza
Ele ia enterrar um corpo
Que mal há nisso
Existem muitos corpos que merecem ser enterrados
Cerrados e encerrados
Os errados excitam
O homem da pá
Tive um estalo
O insight da minha vida
A partir daí matei todos os broxas que não cruzaram os meus caminhos
E não é que tem broxa a rodo não fazendo o serviço!
Pior pra eles
Prefiro ser enterrada de piroca a ter de enterrar meninos flores
Pois é
Enterro mais meninos flores do que cuido do jardim
Moro numa casa imensa na Estrada do Joá
Terreno amplo
Muitas terras
Também comprei a pá
Eu não gosto de estatísticas negativas
Aí é sacanagem
Comigo é assim
Escreveu não leu, pau não comeu, morreu.
Vai pro buraco
Esse é o meu slogan
Pague para trepar e reze pra não broxar
Broxou é vala
Não sinto culpa
Meu analista já me diagnosticou
Dr. Gustini Victor Strasser
Ele sempre diz gozando em minha boca:
- Você não é puta. Você não é psicopata. Você é psicoputa.
E eu respondo de boca cheia:
- Porque tem coisas que não aprendemos na escola.
Dá mole pra mim
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Biografia: PABLO TREUFFAR é carioca, nasceu numa manhã de domingo, no outono de 74. Estudou jornalismo, está Servidor Público, Mas é vagabundo. PUBLICAÇÕES IMPRESSAS: - 1 - (adoençaéadesculpadocaráter - Pablo Treuffar - Eitora Multifoco "2011") - 2 - (Bar do Escritor – antologia - Anarquia Brasileira de Letras - Editora: LGE “2009”) - 3 - (Bar do Escritor – antologia - Edição No 2 Brand - Editora: Kelps “2010”) - 4 - (Bar do Escritor - antologia - Terceira Dose - Editora: Netebooks “2011”) - 5 - Pablo Treuffar pode ser lido em http://www.pablotreuffar.com/ |
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Publicações de número 11 até 16 de um total de 16.
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