Não pratiques a auto-devoção. |
Júlia Angardi |
Cortar os pulsos. Ou dá um tiro na boca. Só causaria mais drama. E seria absurdamente clichê. Sim. Eu queria uma arma. Para dar um fim a essa bosta toda. Mas eu sou covarde. Não sei o que vem depois do fim. Para todo fim há um recomeço. E nisso não deve ser muito diferente. Baseando se na minha fé. É perigoso. E mais covarde ainda. Imagina passar por essa dor dilacerante novamente? Nem fodendo. Nem trepei nessa vida. Só cheguei perto de alguma coisinha aqui e ali. Daria meus bons e velhos livros em troca de tudo mais uma vez. Ou a minha alma. Meu perispírito. Se é que isso existe. Para conseguir dormir com calma. Tá. Minha cabeça tá limpa. Mas sei lá. Sou extremamente dependente. De tudo. De você. De medicamentos. De olhares sinceros. E beijos doces. De um cineminha à tarde. De uma ligação inesperada em um sábado. Daqueles em que tudo que queremos é bater com nossa cabeça na parede. Até rachar ambas. Daquele cigarro guardado há noites. E daquele caderno cheio de anotações borradas. Com algum licor comprado naquele mercado que eu cruzada toda semana. No ano passado. Para Bukowski é auto-devoção. Para mim não passa de dias longos.
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Biografia: Aqui tem muito de mim e um pouco de você. |
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