DUAS PALAVRAS SEM RIMAS
Claro que já pode ter acontecido com muitos. O fato de terminadas palavras nos perseguir por um bom tempo ou até para sempre. Ou para todo o sempre. Mesmo que não rimem diretamente entre si.
Comigo aconteceu com amava e com a saudade.
Uniram-se as duas para me perseguirem. Para serem como carrapatos.
Quanto mais amava mais a saudade em mim grudava. Dilacerava-me com a sua força intempestiva.
Até que um dia, um basta eu dei. Afinal, sou um homem ou um saco de batatas?
“Um sacado de batatas se for diante do amor.” Mas não conto pra ninguém.
Mas assumi. Amores novos eu encontrei, e como faz parte da minha natureza, não os decepcionei e nem com eles brinquei.
Entreguei-me intensamente.
E amava deixou-me aos poucos. Vai se distanciando como aquela nuvem que se perde na imensidão do céu em segundos dos nossos olhos, levadas pelas correntes de ar.
Mas a saudades, danada, grudada, sugava-me a tranquilidade, quando, eu longe dos amores me encontrava.
Não é justo assim proceder. E como vinha da Alma esse sentimento, só me restava rezar para uma saída encontrar.
E certo dia, num conjunto de vitrines o motivo apareceu. Pelo reflexo do vidro a vi claramente. Estava mais feliz e mais tranquila, com aquele sorriso que eu pensava ser-me exclusivo. Percebi que ela realmente amava e estava bem. Afinal, pensei eu, amava encontrou o seu refugio novamente.
Finalmente eu poderia gritar que também amaria novamente sem culpas e remorsos de ter sido o único culpado pela despedida.
E a partir desse dia...
A partir que a vi com alguém, estando tão bem...
A saudade tomou o seu caminho.
E deixou-me também livre.
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