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HOSPITAIS X VAIDADES
Arnaldo Agria Huss

Resumo:
Quando tudo corre bem, muitos se acham superiores a outros muitos. Dentro de um hospital, porém, as coisas são bem diferentes. Lá cessam todas as vaidades dos primeiros.

Trabalho como voluntário em um hospital da minha cidade. Em média, três vezes por semana, exerço minhas atividades na área de Controle da Qualidade desse hospital.
E, atuando nessa área, tenho por obrigação circular pelas várias alas existentes, bem como por outros locais que também nos dizem respeito.

Nessas andanças semanais vejo de tudo, em particular o sofrimento de quem está enfermo e também de familiares e acompanhantes. Fé e esperança são as palavras e os sentimentos mais lembrados e ouvidos em ocasiões assim.

A maioria das pessoas com quem cruzo nos corredores, nas alas e nas enfermarias – e também nos quartos – eu não conheço, mas suas fisionomias são muito semelhantes, pois estampam a ansiedade, o medo e a angústia pelo que possa estar por vir. Em alguns momentos alguém sorri, demonstrando alívio por situações bem resolvidas, e em outros, alguém chora copiosamente pela perda de algum ente muito amado.

Das fisionomias e atitudes demonstradas, algo que jamais presenciei até agora dentro de um hospital foi o exercício de vaidades - comum de se ver no dia-a-dia de muita gente que ainda goza de boa saúde (muitas vezes nem tanto assim) e que acredita ser invencível, eterna, imortal.

Em um hospital os imponentes, prepotentes e vaidosos do lado de fora se transformam tanto, que fica até difícil acreditar tratar-se da mesma pessoa quando lá dentro. Geralmente ficam humildes, com alma bondosa; não dão quase nenhum valor a seus bens materiais; pouco se importam com grifes famosas e tratam a todos com respeito e dignidade (existem exceções, como em tudo na vida, mas são pouquíssimas).
     
Sabem, com toda a certeza, que lá dentro estão totalmente dependentes dos profissionais da saúde, que sempre irão procurar atendê-los da melhor maneira possível e com todos os recursos dos quais o hospital dispõe. E, nesse momento, todas as diferenças são esquecidas e evocam a presença e a ajuda de Deus para que não lhes aconteça o pior. Muitas vezes nem sabem rezar, nunca fizeram uma oração na vida, mas, mesmo assim, Deus é sempre lembrado e solicitado. Já vi e ouvi até quem se diz ateu clamar por Deus e Nossa Senhora naqueles momentos críticos, onde a esperança já está dando lugar para a desesperança.
     
Costumo dizer que as pessoas assim têm muito mais a perder do que aquelas que seguem uma vida simples e humilde, não em relação a bens materiais, dinheiro e coisas assim, mas em relação à forma de encarar a passagem que estamos tendo por aqui. Tudo é momentâneo, tudo é passageiro, tudo acaba um dia. Não somos donos perpétuos de nada e nem de ninguém. Somos donos temporários de alguma coisa apenas enquanto estamos vivos. Depois, sabe-se lá o que acontece.
Temos de compreender que ninguém é o dono absoluto da verdade, mas apenas simples palpiteiros, e quando os indivíduos entenderem assim, certamente serão mais tolerantes, mais compreensivos e menos vaidosos.

O que levamos daqui é simplesmente aquilo de bom que tivemos a chance de realizar, a certeza de chegar ao fim e saber que fomos úteis, que temos a felicidade de poder deixar algo de bom para quem está chegando, e que a nossa vida, felizmente, não passou em branco.

Os hospitais, apesar de serem locais em que ninguém gosta de estar, têm muito a ensinar, principalmente no que diz respeito ao comportamento das pessoas que andam zanzando por aí com o nariz empinado e olhando de cima para baixo.

Hospital é um lugar onde as pessoas esquecem todas as suas vaidades.

Nem que seja temporariamente.

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Biografia:
Se as pessoas conhecem os meus textos, isso é o suficiente. Eles dizem tudo o que eu tenho a dizer, mesmo que as situações descritas não tenham acontecido diretamente comigo.
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Publicações de número 51 até 52 de um total de 52.


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