“21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?
22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
24 O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar.
25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.
26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.
28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.
29 Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora.
30 Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre.
31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.” (Gál 4.21-31).
Paulo demonstra nesta seção da epístola que o que estava ocorrendo com os gálatas era o mesmo que havia ocorrido entre Ismael e Isaque, porque Ismael zombava de Isaque porque era filho da mulher livre (Sara), e ele, filho de uma escrava (Agar).
De igual modo, os dois povos que haviam se formado como descendência de Abraão, o terreno (Israel na Palestina) e o celestial (os cristãos) estariam na mesma condição relativa a Isaque e Ismael, pois os que nasceram como povo no Sinai, onde a Lei foi promulgada e Deus fez aliança com este Israel terreno através de Moisés, viria a perseguir o povo nascido pela aliança firmada no sangue de Jesus derramado no monte Sião, e cuja pátria não é a Jerusalém terrena, mas a Jerusalém celestial.
Então não era nada surpreendente que aqueles judeus estivessem perseguindo a Igreja de Cristo para sujeitá-la à escravidão da Lei. E os gálatas deviam estar bem inteirados disto de modo que entendessem qual era a verdadeira natureza do assédio que estavam sofrendo da parte dos judeus.
Deus havia profetizado que colocaria Israel em ciúmes com os gentios, porque em face do endurecimento deles ele estenderia a salvação aos gentios, e eles não concordariam, do ponto de vista religioso deles, que pagãos pudessem ser aceitos por Deus, ainda que se convertendo a Ele, fora dos termos da Aliança que havia sido feita no monte Sinai.
Assim, como no dizer de Paulo, Agar e Sara representam alegoricamente duas alianças, duas dispensações diferentes. Uma que gera filhos para servidão (Agar) porque não são nascidos segundo a promessa de Deus, tal como fora Isaque.
E a Jerusalém terrena gerou filhos para servidão na Antiga Aliança, isto é, debaixo da Lei, porque não havia naquela aliança nenhuma promessa de Deus relativa à vida eterna, tal como há na Nova.
Deus salvou naquela dispensação também pela graça, mediante a fé, mas não por alguma promessa inerente àquela dispensação para os que faziam parte da Antiga Aliança.
As promessas que encontramos nos profetas do Velho Testamento neste sentido se referem à Nova Aliança que ainda seria inaugurada com a morte de Jesus.
A igreja é a noiva de Cristo, e é nEle que se cumprem as promessas de Deus relativas à vida eterna celestial.
A Jerusalém celestial ainda não foi manifestada, e pode-se dizer dela que é uma mulher estéril, por ora, tal como Sara, mas no momento aprazado pelo Senhor ela estará cheia de filhos, filhos que viverão eternamente, porque o que Deus tem prometido, cumprir-se-á a seu tempo.
Os judeus, que ainda hoje permanecem com seus filhos, resistindo à Aliança da Graça, por estarem apegados à justiça da Lei, permanecem em estado de escravidão e não conhecerão a liberdade dos filhos de Deus, caso não se convertam, voltando-se para Cristo.
Enquanto isto, os gentios que não conheciam a revelação de Deus estão se convertendo pelo mundo afora porque estes que se convertem são filhos da promessa, e vivem na liberdade do Evangelho, e não sob o jugo da Antiga Aliança.
E devemos considerar que aqueles que são das obras da Lei, ainda em nossos dias, perseguem aqueles que vivem na graça de Cristo.
Os próprios cristãos legalistas são assassinos da graça, e apesar de livres, agem como se fossem escravos porque querem viver debaixo da Lei, não sabendo que em Cristo não estão mais debaixo da Lei e por isso não devem viver debaixo dela, colocando-se debaixo de um jugo do qual foram livrados pela promessa que Deus fez acerca dos seus filhos gerados na Nova Aliança.
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