Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
As Crônicas do Artista
O Despertar da Criação
Guilherme Henrique Lourenço

A muito que se ouve dizer sobre outros mundos, mundos esses que só se vê na ficção, coisas impossíveis, estranhas e improváveis que hoje sei que existem.
Alguns de vocês que lerão esses relatos que contarei e podem não acreditar, mas, não ligo, pois aos meus setenta e poucos anos também já acreditei que tudo era só mais um dos meus delírios. Não sou louco, nem tampouco muito são, para dizer o que é loucura e o que é a chamada realidade.
Começarei a escrever sobre a minha vida, digo pois que nunca fui um escritor, nem sequer escrevi uma só carta. Escrevo esse livro para meus netos que nesse tempo já não podem contar com a inocência que antes havia.
Por não conhecer muito bem as regras da minha língua esta pode não ser a melhor leitura da sua vida, mas com certeza foi a melhor aventura que já vivi.
Capítulo 1 – A mudança repentina
Estávamos no ano de 1889, muitas mudanças estavam acontecendo naquele período e na minha vida não era diferente. Naquele dia acordei muito cedo, diferentemente dos outros dias em que acordava quase no meio da tarde pois não tinha condições de frequentar a escola normal, tive que aprender tudo sozinho e a vida ensinou-me muito do que sei hoje.
Bom, tinha mais ou menos uns dez anos de idade e morava com minha mãe e minha vó que trabalhavam dia e noite para sustentar a mim e a meu irmão que era dois anos mais novo. Minha mãe estava na casa dos trinta e poucos anos mas por seu trabalho exaustivo aparentava ter uns quinze anos a mais. Ela trabalhava em uma fábrica de sapatos, acordava ás quatro da madrugada e só voltava para casa onze horas da noite. Minha vó mesmo com quase oitenta anos trabalhava fazendo roupas para as pessoas da vizinhança e era desse serviço que vinha boa parte do dinheiro que nos sustentava.
Você pode imaginar que nossa casa era a mais humilde possível mas essa não era realidade pois era uma casa de tamanho médio e consideravelmente confortável para os padrões da época já que era o único bem que meu avô paterno nos deixou de herança. Meu avô era um homem importante na sociedade, não sei exatamente o que ele fazia e também como ele morreu, minha mãe não falava muito sobre ele e eu também não a importunava perguntando. Sei que era um homem rico que não tinha uma boa relação com o filho pois como minha vó contava nas histórias sobre meu pai, ele ignorou a existência do filho após o mesmo decidir se aventurar pelo mundo afora.
Falando em meu pai, a única coisa que sei sobre ele é que gostava de aventuras e que em uma dessas aventuras acabou sofrendo um acidente que lhe custou a vida.
Agora continuarei a falar sobre aquele estranho dia em que acordei tão cedo. Era tão cedo que o sol ainda não iluminava as janelas e o barulho dos ventos reinava sobre as ruas desertas. Logo após levantar da minha cama olhei para meu irmão que dormia um sono profundo na cama do lado e provavelmente não poderia ter ideia do que estaria prestes a ocorrer nas próximas horas.
Ainda não sei por que acordei tão cedo mas provavelmente tive algum pesadelo durante a madrugada porque era muito comum a mim ter sonhos ruins. Fui até a cozinha para beber um copo de água já que naquela hora a sede era mais forte que o sono.
Quando estava terminando de beber a água escutei um barulho que vinha da rua e logo fui olhar pela pequena janela circular que estava logo acima da pia. Ao debruçar sobre a pia para olhar o que estava acontecendo lá fora minha mão escorregou e quase bato meu rosto no vidro da janela que estava todo embaçado. Esfreguei a mão na janela e dei uma espiada para saber de onde viera aquele barulho que havia escutado. Nada vi na primeira olhada, mas dois segundos depois um pequeno caminhão estava estacionado no fim da rua e duas pessoas estavam descarregando algumas coisas desse veículo.
Logo pensei que provavelmente alguém estava de mudança para o bairro mas essa era uma ideia muito estranha, pois quem faria uma mudança ás três da madrugada em um dia tão frio como aquele. Além disso, aquela casa há muito tempo já estava abandonada e seus últimos proprietários há anos não apareciam por aqui. Antigamente nesta casa morava um casal de idosos que quase não saiam de casa, saiam somente de manhã para comprar pão na padaria do Seu Vicente e uma vêz por mês para comprar alimentos. Eles também não eram muitos sociáveis com os vizinhos e o pouco que se sabia sobre aqueles dois era que não tinham filhos e que já moravam no bairro a mais de cinquenta anos. Três anos atrás eles mudaram-se e ninguém mais ocupou aquela casa, pelo menos até aquele momento.
Logo depois de ver aquela cena do caminhão fiquei curioso para saber quem eram aquelas pessoas e o que estavam fazendo na casa mais estranha que eu já havia visto na minha vida. Aliás, falarei um pouco mais sobre esta casa começando pelo muro que era muito alto e cercado de plantas espinhosas e quase secas, o antigo jardim antes verde, depois de muitos anos sem o cuidado de seus antigos donos estava mais parecendo uma pequena floresta com suas plantas sombrias e de aparência horrorizante. O portão também era alto e por ele podíamos ver a fachada da casa e boa parte de seu jardim além de uma pequena parte dos fundos em que só se via uma carroça que pela sua aparência não estava ativa a um par de anos.
Não era uma casa muito grande devia ter uns cinco cômodos mais ou menos e dois andares, além de um sótão que se podia imaginar já que havia uma pequena janela arredondada no centro superior de sua fachada.
Mesmo com tanta curiosidade para saber o que estava acontecendo lá fora não podia sair de casa àquela hora pois além de poder ficar de castigo por mais de um mês poderia pegar um resfriado porque estava frio e já começava a chover.
Voltei para o meu quarto e tentei dormir novamente mais aquela ideia não saia da minha cabeça. Logo minha mãe se levantaria para ir trabalhar e se visse que não estava dormindo poderia dar-me uma bronca. Enfim dormi mas aquela curiosidade voltaria logo pela manhã.
Capítulo 2 – Curiosidade Matinal
Logo acordei pela segunda vez no mesmo dia, não tão tarde como de costume, mas bem no meio da manhã. Como sempre acordava quase a tarde não estava acostumado a tomar o café da manhã e mesmo se quisesse não tomaria porque há muito tempo que o dinheiro só era suficiente para o almoço e o jantar de minha família. Nunca senti falta do café da manhã, acho que o motivo era a falta de fome quando dormimos porém naquela manhã a fome logo resolveu aparecer e a única coisa que podia fazer era esperar o almoço. Nem meu irmão, nem minha vó aviam acordado até aquele momento.
Esqueci a fome quando me lembrei do que havia visto durante a madrugada e então logo fui ver o que acontecerá naquela casa. Fui até a rua que de manhã ainda estava tão deserta quanto da última vez a vi. Segui andando pela calçada que estava molhada por causa da chuva que caíra durante a noite. Depois de percorrer todo o quarteirão cheguei em frente à famosa casa abandonada e percebi uma diferença considerável em sua estranha aparência, o jardim que antes era o mais horrível que se podia imaginar, agora estava todo verde e exalando vida como se tivesse acabado de ser concebido magicamente. Não conseguia acreditar no que estava vendo, havia um pequeno homem no jardim que conversava com as plantas como se elas pudessem entender o que ele dizia. Ele era meio careca, digo meio careca pois tinha cabelo somente dos lados logo acima das orelhas que eram pequenas e quase redondas. Vestia um macacão típico de jardineiros e uma bota laranja, o que o deixava com uma aparência ainda mais estranha.
Logo ele olhou para minha direção e ficou olhando por mais de dois minutos até que caminhou até o portão e perguntou-me:
—Quer conhecer o meu jardim?
Estava com medo mas mesmo assim a curiosidade foi mais forte e respondi:
—Claro!
Nesse momento ele abriu o portão que não parecia mais ser tão velho quanto era no dia anterior, nem mesmo fazia aquele barulho de portão enferrujado que escutamos nos portões que há muito tempo estiveram fechados.
Entrei no jardim e logo senti o perfume das rosas vermelhas que ocupavam grande parte daquela bela paisagem. Perguntei ao pequeno homem qual era o seu nome e ele disse:
—Não tenho nome pois há muito tempo não me chamam.
Achei estranha aquela situação, como pode alguém não ter um nome? Será que ele é tão velho que esqueceu o próprio nome? Não perguntei isso a ele só disse:
—Eu me chamo Pedro.
Quando ele ouviu meu nome fez uma cara estranha por uns dois segundos mais logo voltou a ter a mesma expressão tranquila de antes. Ele disse:
—Então, o que você faz andando na rua a essa hora da manhã? ——Então respondi:
—Só estava curioso e queria saber quem moraria aqui.
Continua...


Biografia:
Número de vezes que este texto foi lido: 52821


Outros títulos do mesmo autor

Romance As Crônicas do Artista Guilherme Henrique Lourenço


Publicações de número 1 até 1 de um total de 1.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68980 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57901 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56729 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55804 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55057 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54980 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54858 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54850 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54755 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54720 Visitas

Páginas: Próxima Última