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A Carta a Cerca da Tolerância de John Locke
Carta a cerca da tolerância
Garcia Neto

Resumo:
Nunca antes a Filosófia de Lock foi tão atual:

Esta análise tem como intuito abordar o problema das questões religiosas, trazidas pelo filósofo inglês John Locke, que de acordo com suas interpretações, estas questões provocaram os principais conflitos religiosos na Europa e no mundo, a partir do momento em que a religião passou a interferir nas decisões do Estado e da sociedade.
            Locke inicia dizendo que os homens que se dizem religiosos estão mais preocupados em galgar cargos eclesiásticos, dentro da organização religiosa, do que cumprir os verdadeiros dogmas da Igreja de Cristo, que consiste em praticar caridade, brandura e amor com os crentes e os não crentes; sem estas qualidades, um homem não pode ser chamado de cristão, mesmo que diga ser um fervoroso devoto.
            É interessante dizer, que as criticas levantadas por Locke se enquadram mais aos cristãos católicos, já que a Igreja Católica se tornou um Império, que dominou toda a Europa e expandiu seus domínios graças à força e apoios dos reis. Para Locke, uma religião não poderia ser imposta, nem por ameaças, perseguições, torturas, prisões, e nem por qualquer outro meio violento para converter os descrentes, mas sim deve se firmar pela brandura e persuasão, porque o objetivo das seitas é pregar o amor.
            Segundo as suas leituras e interpretações da Bíblia, Locke afirma, que a maioria dos homens religiosos não leram a bíblia com atenção, pois deixaram de perceber que o príncipe da paz (Jesus) havia organizado um exército completamente desarmado de espada, mas muito bem armado de persuasão, com o intuito de reunir todos os povos em uma única nação. Isto nada mais era do que um verdadeiro exemplo de tolerância para aqueles de opinião oposta, porque a conversão se daria pelas armas do intelecto e não por imposições físicas.
            De acordo ainda com Locke, Religião e Estado deveriam sempre estar separados, pois o primeiro traz adeptos para seu domínio pela persuasão, ao passo que o segundo elabora leis imparciais para punir aqueles que não as cumprem com privação da liberdade ou dos bens. Isto se dá, porque há uma diferença crucial entre ambos; o primeiro não pode ordenar, mas convence por argumentos, o outro ordena e obriga por decretos e se possível usa a espada[1]. Para Locke a persuasão é o caminho que leva ao esclarecimento, com o intuito de nos conduzir sabiamente neste mundo e nos guiar para o mundo espiritual, oposta às leis cíveis que tem apenas a obrigação de administrar os homens neste mundo terreno.
            Na visão de Locke, uma Igreja nada mais é do que uma organização composta de membros que acreditam nas mesmas idéias e princípios, uma associação voluntária, não sendo herdada, pois mesmo as coisas que são herdadas podem ser aceitas ou recusadas pelos herdeiros.
        Assim quando uma religião se forma pela união voluntária de pessoas é necessário que se elabore o estatuto de sua organização, pois do contrário poderia esta sociedade se dissolver. As leis que forem elaboradas pelos membros desta organização têm o intuito de regê-los; assim nenhum magistrado poderá proibi-las ou interferir nestas leis eclesiásticas. Isto se dá porque o magistrado deve se manter tolerante a todas as formas de religião, desde que elas não venham a causar prejuízos à sociedade, ou seja, tornando-se intolerantes umas contra as outras. De acordo com Locke, esta paz se daria pelo respeito mutuo entre todos, assim como Jesus havia ensinado a seus discípulos o respeito mutuo, baseado na tolerância, que consistia em sofrer perseguição, mas não perseguir.
            Assim, de acordo com a teoria de Locke, uma entidade religiosa ao se formar deveria elaborar seu estatuto interno, que é soberano dentro desta organização, com o poder de até punir os membros transgressores, e o magistrado deveria respeitá-las e não intervir nelas. Ora, mas e se este estatuto punir um dos membros com castigos físicos, será que mesmo assim o magistrado não deveria intervir? E se uma das seitas resolvesse sacrificar crianças ou animais?
            Locke responde a estas perguntas com o seguinte raciocínio: assim se um dos membros fosse punido com castigos corporais, o magistrado interviria com rigor, porque neste caso infringiu um direito civil do cidadão, mas se o membro fosse punido verbalmente, ou por uma multa que não lhe despojasse dos bens, ou a exclusão do grupo religioso, o magistrado não poderia intervir nesta decisão, porque estas punições não ferem os princípios que são defendidos pelo magistrado para qualquer cidadão. Da mesma forma se o sacrifício não é permitido no convívio em sociedade por ser nocivo, da mesma maneira não poderá ser permitido dentro da organização religiosa, mas se esta mesma organização desejasse sacrificar um bezerro ou qualquer outro animal o magistrado não poderia intervir, pois como já foi dito, as leis são elaboradas para proteger os súditos; mas suponha-se que os gados que abastecem a comunidade viessem a sofrer de algum mal e a grande maioria viesse a morrer, motivo o qual obrigaria os magistrados a proibir os cultos religiosos de os sacrificarem. Isto não poderia ser considerado uma decisão arbitraria, porque neste caso a lei não foi prescrita por questão religiosa, mas sim por questão política, não sendo o sacrifício no culto religioso errado, mas sim a matança desnecessária do bezerro, que poderia muito bem atender aos súditos para alimentação neste período de dificuldade.
    Para entender melhor o raciocínio, Locke parte para uma explicação mais detalhada. Segundo suas considerações, uma comunidade religiosa não pode atacar outra por se considerar ortodoxa e a outra herege, porque o magistrado irá interferir, porque a lei Civil interpreta que cada religioso se considera ortodoxo consigo mesmo e os demais hereges, logo se todos se atacassem levaria a ruína da sociedade, coisa que seria absurdo. Assim se um bispo, padre, presbítero, que se considera autoridade dentro de suas denominações religiosas, não pode querer ser autoridade em outra organização não afim. Da mesma maneira isto se dá na sociedade, um magistrado enquanto tal é uma autoridade na sociedade, mas se resolver integrar uma denominação religiosa não poderá ser uma autoridade nesta organização só porque possui o titulo de magistrado; para isto precisará passar por todos os ritos e aceitar o credo e cumprir com o regimento interno desta Organização.
            Para reforçar ainda mais suas colocações, Locke considera que o cuidado de salvar a própria alma é pessoal, assim como é pessoal que um homem administre seus proventos da melhor maneira que lhe aprouver, ou seja, nenhum magistrado pode obrigar um homem a ser rico, porque esta é uma decisão pessoal, pois cabe a cada um administrar seus bens e tomar as suas decisões da maneira que desejar. Assim desta forma se um homem não se esforçar em querer salvar sua alma e após a morte esta for condenada, ou se na vida terrena um homem não economizar e vir a se tornar um miserável, o azar será exclusivamente dele e nenhuma lei poderá forçá-lo a tomar uma ou outra decisão, pois as leis protegem os súditos contra a violência e fraude de terceiros, mas não os protegem contra negligencias cometidas pelos próprios súditos. Assim sendo, Locke acredita que os homens podem enriquecer exercendo um oficio que não gostam, bem como podem se curar de uma patologia ao ingerirem um remédio que também não lhes agradam, mas não podem ser salvos mediante religião na qual não confiam, ou por um culto que não lhes agradam; logo impor uma religião a outrem é cometer um grave erro, porque agradar a Deus é necessário fé e não força. Da mesma maneira se dá na administração de um remédio a um determinado paciente; se o estomago rejeitá-lo é melhor mudar de fórmula, porque do contrario se tornará nocivo e venenoso ao organismo.
            Como já foi dito, Locke acreditava que Igreja e Estado sempre deveriam estar separados, sendo o ultimo soberano, mas respeitando todas as formas de religião e proporcionando que todas as religiões se respeitassem mutuamente. Para isto, elabora uma história fictícia para servir de exemplo, que relatava o seguinte fato: um grupo de cristãos passou a ser perseguido por questões religiosas e buscou abrigo em terra estranha. Ali foram acolhidos e puderam trabalhar prosperar e constituir família. Em pouco tempo se integraram a nova nação e puderam exercer seu culto religioso, mas com o passar dos anos, os cristãos foram crescendo e ganhando mais adeptos, até que os próprios magistrados também se tornaram cristãos. Então, estes cristãos saíram do campo da persuasão e passaram a usar a força para obrigar aqueles que não queriam se tornar um membro, e para isto usaram de torturas, prisões, privações dos bens e exílio. Logo, os cristãos que outrora foram perseguidos e exilados, agora se tornaram perseguidores contra aqueles que no passado os haviam acolhido e protegido.
            Este exemplo apresentado por Locke, nada mais foi do que querer explicar ao leitor de sua época, que Estado e Religião não podem ser únicos. Para o filosofo inglês, um avarento, ou um invejoso ou aqueles que amam a luxuria, são condenados pelas Leis da Igreja como sendo um pecado grave, mas na sociedade (embora todos concordem que quem os tem são pessoas viciosas), estes vícios não são motivos para condena-los a crime algum, porque não causam danos à paz pública.
            Locke para abordar ainda mais a questão da tolerância entre as religiões ira buscar argumentos nas Escrituras Sagradas, utilizando de argumentos retirados tanto do Velho Testamento como do Novo Testamento. Ao examinar os textos Bíblicos diz que Jesus, jamais impôs uma religião, ou disse que alguma deveria se sustentar por meio da espada para obrigar os súditos de freqüentá-la. Mas neste caso, como será que ficaria então a posição da Nação de Israel que fora considerada tão intolerante as demais religiões, cujos relatos de massacre estão bem detalhados no Pentateuco[2]?
    Para Locke esta não é uma questão difícil de se responder. Numa primeira abordagem a Nação de Israel parecia ser bem intolerante as demais Seitas, mas uma leitura mais apurada e detalhada mostra um outro lado completamente oposto e generoso. Segundo Locke a comunidade arcaica dos judeus consideravam idolatras aqueles que iniciados pelas leis de Moises se rebelavam e decidiam não segui-las ou aqueles que não pertenciam à comunidade de Israel. Assim um membro da Nação de Israel poderia ser punido com a morte por ser idolatra, pois esta sociedade era organizada sob o regime de uma teocracia; já os outros povos, embora fossem considerados idolatras, não poderiam nem ser condenados ou punidos, já que não pertenciam a este modo de governo teocrático de Israel.
            Jesus Cristo na interpretação de Locke deu origem ao cristianismo, que foi uma religião que surgiu dentro do judaísmo, mas que se fragmentou dando origem a um novo rito. Jesus - foi o primeiro líder, que nasceu em uma sociedade não teocrática, politeísta e regida por leis civis - ensinou para seus fieis que a fé é que os levariam à vida Eterna, independente se conviviam em uma sociedade teocrática, cética, monoteísta, politeísta, ou outras quaisquer.
            Voltando à Nação de Israel, Locke nos informa que a sede do governo era Canaã, cujo único culto permitido era o de adoração ao Deus Jeová; qualquer outra forma de culto era punido com a morte. Quando a nação de Israel se expandiu nos governos dos reis Davi e de seu filho Salomão, Canaã continuou sendo a sede do reino e a idolatria continuou ainda sendo proibida dentro deste território de Canaã. Os cativos eram considerados idólatras, mas não eram punidos com a morte, porque não haviam sido iniciados na lei de Moises. Mas se um destes cativos desejasse a qualquer momento se tornar um cidadão Israelita e possuir todos os direitos, então deveria aceitar a religião Israelita e cumprir com todos os ritos de adoração ao Deus Jeová. Assim a conversão não se dava por coação, mas sim por vontade própria dando ciência ao interessado dos benefícios e conseqüências que este poderia obter se desejasse se tornar um cidadão da Nação de Israel.
            Assim antes de finalizar sua carta recorre a teoria de seu conterrâneo Thomas Hobbes, ao dizer que a vida em sociedade precisa ser regida por boas leis para proteger os súditos, ou para prevenir que um ataque ao outro, por medo da punição e que por isto possam combinar suas forças para garantir as coisas que são úteis à vida, como riquezas, alimentos e para os desordeiros o peso da lei, que só cabe aos magistrados qualificados o poder de aplicá-las.
            O ateísmo para Locke era perigoso, porque os homens ao se tornarem descrentes também não respeitariam os juramentos e pactos que se vinculam à sociedade como um todo. Da mesma forma um ateu que perseguisse ou tentasse destruir as religiões, não poderia reivindicar para si qualquer espécie de tolerância. Para Locke a tolerância é o principio fundamental para a estabilização da sociedade; assim seria infindável e irracional perseguir ou não tolerar os homens que tivessem cabelos pretos ou os de cabelos loiros. Da mesma forma é irracional não tolerar qualquer espécie de culto religioso, desde que não venham prejudicar a sociedade. Torna-se um culto prejudicial à sociedade aquele que não é estabelecido sob bases sólidas da tolerância, o que obriga o magistrado em interferir. Assim eliminemos a discriminação e modifiquemos as leis que oprimem que tudo se tornará tranqüilo e seguro, tendo apenas os criminosos e ofensores da paz civil reais motivos paras temer a severidade das leis.
            Assim Locke cai direto ao assunto, ao dizer que a tolerância é benéfica, porque evita confrontos e o regresso da Nação. Desta forma somente os infratores da lei é que devem ser punidos independentemente da religião que exercem ou da raça que pertencem. O mesmo raciocínio se dá quando uma nação nação permite que estrangeiros nela adentrem para trabalhar, ou seja, se vão ajudar no progresso da atual nação, porque não permitir que possam erigir seus templos e exercer seus cultos? Para Locke as perseguições e guerras se deram porque os homens não respeitaram este raciocínio apresentado, ou seja, não conseguiram separar aquilo que pertencia a Igreja daquilo que pertencia ao estado.


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Quasares, quase testemunhas do Big Bang
Eles foram descobertos há apenas 25 anos, mas é certo que brilham no espaço intensamente há 15 bilhões de anos desde a origem do Universo. Aos poucos os cientistas vão descobrindo coisas sobre eles — e todas são realmente extraordinárias.
Trata-se de um pequeno, quase insignificante ponto de luz azulada no céu escuro, que pode ser visto na constelação de Sagitário. Foi descoberto na noite de 15 de Setembro de 1983 e recebeu a burocrática denominação de PKS 2000-330. mas que ninguém se iluda com a modéstia dessa apresentação.
O PKS 2000-330 é um dos 684 quasares descobertos pelos astrofísicos em 25 anos de pesquisa — faz parte, portanto, de um dos mais fascinantes enigmas que desafiam a curiosidade do homem. E todos os números que compõem o seu dia-a-dia são, no mínimo, de perder o fôlego.
A começar pela capacidade de radiação, ou seja, de produzir e transmitir energia. Pois qualquer quasar é capaz de irradiar tanto quanto 300 bilhões de sóis ao mesmo tempo. Aliás, se não fosse assim, nem conseguiríamos descobrir um deles no céu, pois os quasares, graças a esse poder portentoso, são os corpos celestes mais distantes que já conseguimos identificar. O PKS 2000-330, por exemplo, encontra-se a 15 bilhões de anos-luz da Terra.
Se quiser, faça as contas: a luz viaja à velocidade de 300 mil quilômetros por segundo; reduzir essa distância a quilômetros significa escrever um número que tem 23 zeros. Há quasares mais próximos, é certo O 3C 273 está a apenas 3 bilhões de ano-luz, o que ainda é muito, mas muito longe. Assim distantes, é natural que os astrônomos nem consigam dizer, com exatidão, o que são eles.
Seu próprio nome já é vago: fonte de rádio quase-estelar, do inglês quasi-stellar radio source, de onde vem o acrônimo quasar.
Como nem todos se revelaram fontes de rádio tão poderosas, foram chamados objetos quase estelares (QSO). Alguma coisa, em todo caso, podemos saber a respeito. Estão em galáxias gigantescas, com diâmetro em torno de 500 mil anos-luz (a Via Láctea, a galáxia onde estão o Sol e seus planetas, tem 100 mil anos-luz de diâmetro).
Eles fazem parte de galáxias ativas, relativamente jovens. Mas isso só podemos perceber quando o próprio quasar envelhece, pois quando jovem ele brilha tão intensamente que ofusca todas as estrelas da galáxia. Sendo assim, é até possível que nem existam mais quasares atualmente. Se o nosso conhecido PKS 2000-330 tivesse deixado de brilhar há 15 bilhões de anos, sua energia ainda estaria chegando à Terra. Essa é mais ou menos a época em que os cientistas supõem que ocorreu o Big Bang, dando origem ao Universo. Dai a idéia de que os quasares são corpos celestes dos mais antigos que conhecemos. Também não há dúvida de que uma força muito poderosa faz com que as estrelas dessa galáxia se mantenham concentradas em torno do seu núcleo, como um rebanho de ovelhas comportadas.
Há aproximadamente uns quatro anos a maioria dos cientistas que se dedicam ao estudo dos quasares chegou a um acordo: esse vigia do rebanho só pode ser um buraco negro — outro enigma fantástico que desafia a imaginação. Se fosse possível olhar o quasar bem de perto, vertamos que do seu núcleo extraordinariamente luminoso saltam longas fontes de gás, que brilham intensamente em tons vermelho - azulados e chegam a atingir o comprimento de 80 milhões de anos-luz—ou 800 vezes maior que toda a Via Láctea.
A principal característica dos quasares parece ser essa: a brilhante, incomum luminosidade do seu centro. Ainda assim, mesmo observado pelo mais potente telescópio ótico, um quasar fatalmente se confundirá com uma estrela comum.
Suas características só começam a ser reveladas quando passam pelos radiotelescópios. Os maiores telescópios óticos têm lentes de 3 metros de diâmetro; os mais modernos, combinando mais de uma lente, conseguem chegar até os 50 metros. Já a antena do radiotelescópio de Jodrell Bank, na Inglaterra, alcança 76 metros.
Mas há outra vantagem: é possível combinar vários radiotelescópios, mesmo que estejam localizados em diversos países ou continentes, e obter imagens que equivalem, por sua nitidez e precisão, à capacidade de resolução de um telescópio ótico que tivesse uma lente de 12 mil quilômetros. Não é exagero dizer que com os melhores radiotelescópios hoje existentes é possível "enxergar" a mão de uma pessoa sobre a superfície da Lua.
Que tais supertelescópios são necessários quando se estudam os quasares ficou claro na noite de 5 de fevereiro de 1963: o astrônomo holandês Maarten Schmidt, trabalhando no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos. decidiu seguir uma súbita inspiração.
Ele havia observado as linhas espectrais encontradas na luz proveniente de uma fonte de radiação, na constelação de Virgem, denominada 3C 273, que significa: inscrição número 273 no Terceiro Catálogo de Fontes de Rádio da Universidade de Cambridge. Essas linhas espectrais revelam os materiais que compõem o corpo celeste observado — e no caso do 3C 273 havia seis linhas amplas que, no entanto, não se ajustavam a nenhum dos 92 elementos que aparecem na natureza.
Maarten pensou, então: e se as linhas espectrais não estivessem no lugar certo, por estarem submetidas ao efeito Doppler — os deslocamentos para o vermelho ou o azul?
No deslocamento para o vermelho, a luz do corpo celeste se torna mais vermelha do que é na realidade, devido à velocidade de seu movimento no espaço; e, no deslocamento para o azul, ela se torna mais azul.
É o mesmo que acontece com o som de uma ambulância que passa na rua em disparada: quando ela se aproxima de nós, a sirene fica mais aguda; quando ela se afasta, fica mais grave. O deslocamento para o azul equivale à subida do som e indica que o corpo celeste está se aproximando da Terra; o deslocamento para o vermelho indica que ele se afasta. Quase sempre a luz das estrelas apresenta deslocamento para o vermelho, pois o Universo se expande permanentemente e os corpos se distanciam uns dos outros. Nas estrelas comuns, o deslocamento para o vermelho é de 0,1 por cento — ou seja, sua luz fica 0,1 por cento mais vermelha.
Maarten mediu o deslocamento do 3C 273 e não conseguiu evitar um comentário assustado à mulher, quando voltou para casa:
"Hoje me aconteceu algo incrível". Incrível mesmo. O deslocamento para o vermelho que ele medira era de 15,8 por cento. Significa que aquele corpo celeste se afastava da Terra à velocidade de 47 000 quilômetros por segundo.
Só para ter uma idéia: a Terra gira ao redor do Sol à velocidade de 30 quilômetros por segundo. Desde que o astrônomo americano Edwin Hubble (1889-1953) fixou o deslocamento para o vermelho como medida da velocidade de afastamento de um corpo celeste, ficou claro também que essa velocidade aumenta quanto mais longe da Terra esteja o referido corpo. Atualmente, deslocamentos para o vermelho de 15,8 por cento não espantam mais ninguém. Correspondem a uma distancia de apenas 3 bilhões de anos-luz, que é onde se encontram os quasares mais próximos.
O PKS 2000-330 que estamos conhecendo tem 350 por cento de deslocamento para o vermelho: significa que ele se afasta de nós à velocidade de 276 000 quilômetros por segundo — 92 por cento da velocidade da luz — e que está a algo em torno de 15 bilhões de anos-luz de distancia. Depois da descoberta de Maarten Schmidt, os quasares ganharam o seu nome esquisito e entraram para o rol das preocupações dos astrofísicos.
Algumas descobertas foram feitas: eles estão muito longe, viajam a velocidades altíssimas e são muito antigos.
Analisando a radiação de um quasar no campo das ondas de rádio, cujo comprimento vai dos centímetros aos quilômetros, verifica-se que ela provém de uma fonte em forma de ponto. As galáxias comuns são fontes de rádio dilatadas, pois irradiam em toda a sua extensão, embora a intensidade vá aumentando aos poucos de fora para dentro. A radiação do quasar é tão forte quanto a da galáxia, mas está concentrada num único ponto de origem. Durante algum tempo imaginou-se que estrelas gigantescas girassem no núcleo central dos quasares, a velocidades altíssimas — e com isso criando as fortes ondas de rádio que eles emitem.
Cálculos precisos mostraram que tais estrelas não podem existir: ou seriam pequenas demais, ou girariam a tamanha velocidade que fatalmente seriam destruídas.
Pensou-se também no encontro de grandes quantidades de matéria e antimatéria, capaz de provocar radiação tão forte. Mas esse caminho também não é o correto. Por que haveria tanta antimatéria nos quasares se não se encontra quase nada dela em nenhum outro ponto do Universo?
A verdade é que é difícil imaginar como pode ser liberada tanta energia num ponto relativamente pequeno, de forma que o fenômeno possa ser registrado por nossos aparelhos, aqui na Terra, a uma distância descomunal como os 15 bilhões de anos-luz. As imagens obtidas através dos sinais de rádio mostram que as galáxias comuns têm, na parte externa, braços de espiral relativamente planos, e no centro uma parte mais larga, em forma de disco.
Nos quasares, falta esse disco: a ponta de irradiação parece saltar diretamente de uma esfera. A explicação mais plausível para sua intensa luminosidade é a concentração de grande número de estrelas na parte central, apertadas como sardinhas em lata. É claro que essa comparação é forçada — ainda quando muito próximas, as estrelas estão a considerável distância umas das outras.
Outra hipótese, mais recente, é que os quasares e sua extraordinária capacidade de radiação seriam fruto do choque ou encontro de duas ou mais galáxias.
Isso provocaria o desvio das órbitas das estrelas e dos movimentos das nuvens de gás interestelar, e tudo seria então engolido pelo buraco negro. Como se vê, há muito ainda que pesquisar e descobrir sobre esses fantásticos corpos celestes. Em janeiro passado, uma centena de cientistas reuniu-se em Tucson, Arizona, EUA, num congresso internacional destinado exclusivamente a discutir os quasares e as inúmeras teorias construídas em torno deles. As conclusões começarão a ser conhecidas nos próximos meses. Esses cientistas estão certos de que estão nos quasares as pistas mais promissores para confirmar e para que cheguemos, enfim, à compreensão da origem do Universo.
Boxes da reportagem
Deles nem a luz consegue escapar Os buracos negros são uma engenhosa criação teórica que explica muita coisa no Universo, mas nada provou até agora, que eles existam de fato. Ninguém viu um buraco negro, pois eles têm características muito peculiares. Uma nave, para sair de um planeta, ou de um corpo celeste qualquer, deve ter uma velocidade suficiente para escapar à força de gravidade desse corpo. Os foguetes que levam satélites para a órbita da Terra devem subir a 11 quilômetros por segundo. Para sair da Lua são necessários 2 quilômetros por segundo. Já para sair do Sol seriam necessários 600 quilômetros por segundo.
Agora imaginemos um corpo celeste que fosse tão denso, com matéria tão concentrada, que exigisse mais de 300 000 quilômetros por segundo. Nesse caso nada poderia escapar dele? nem a luz, que viaja a essa velocidade — a maior que pode ser atingida, segundo as leis da Física. Os buracos negros são assim. Não podemos vê-los. porque eles não permitem que a luz saia e chegue até nós.
Segundo a Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein a força gravitacional da matéria retarda a passagem do tempo. Quem olhasse um corpo muito denso a distância veria que o tempo ali corre devagar. O efeito dessa diminuição da velocidade do tempo será aumentar o comprimento da onda da luz emitida por esse corpo. Se a densidade do corpo aumentar além de um certo limite. O tempo pára, o comprimento da onda de luz torna-se infinito — o que significa que ela deixa de existir e a luz se apaga. É provável que os buracos negros se formem com a morte das estrelas maciças. As camadas exteriores da estrela explodem, dando origem a uma supernova; e as camadas interiores implodem — e da implosão surgiria o buraco negro. Outros podem ter aparecido já na formação do Universo, quando densidades extremas marcaram a explosão do Big Bang.
É o possante campo de gravidade dos buracos negros que oferece a única possibilidade de detectar sua presença. No céu existem muitas estrelas duplas, que giram uma em torno da outra, muito próximas. Descrevem uma espécie de círculo centrado num ponto situado entre elas. Se uma dessas estrelas fosse um buraco negro, só seria vista sua companheira, descrevendo um círculo aparentemente sozinha — mas a influência gravitacional da outra se faria sentir. Alguns casos desse tipo são conhecidos.
Outra hipótese para explicar a origem dos buracos negros são os quasares, potentes emissores de radiação. A origem dessa radiação concentra-se num ponto minúsculo, no centro da galáxia. Parece paradoxal invocar a presença de um buraco negro para explicar um corpo que irradia tanto.
É possível, pois o buraco negro atrai e devora tudo que está por perto: nuvens interestelares, planetas, estrelas. Graças à sua poderosa atração, esses corpos caem nele a uma velocidade prodigiosa — e nesse instante se aquecem e brilham intensamente, até atravessarem uma linha imaginária chamada horizonte do acontecimento. O que passar dessa linha não volta, nem mesmo a luz.


Biografia:
Um Pensador Contemporâneo.
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