Atordoado, o jovem acordou em um canto qualquer no centro da cidade. Sentia sede. Juntou alguns trocados que tinha nos bolsos de sua calça jeans e foi à lanchonete mais próxima comprar um suco. Ao dirigir-se ao atendente, um senhor de meia-idade,que no momento enxugava alguns copos, não conseguiu produzir palavra alguma. O jovem não tinha voz.
Internamente, o jovem gritava, esbravejava, mas o senhor apenas continuava a ignorá-lo, sem nem mesmo parar a atividade a qual se designava. O jovem começou a gesticular, e nada, o jovem era invisível. Viu que na mesa ao lado, dois executivos conversavam sobre uma notícia qualquer que haviam visto no jornal, e achou que talvez o problema fosse com o atendente da lanchonete mesmo, que não conseguia enxergá-lo (os óculos de lentes grossas que o senhor portavam o fazia crer nisso), então começou a iniciar o mesmo processo com os homens sentados á pequena mesa. O resultado foi nulo.
Perambulando pela cidade, o jovem repetiu o processo imensas vezes, e só recebeu resposta ao encontrar-se com outros jovens, que impressionantemente compartilhavam da mesma situação. O jovem via na mídia sua imagem como referência de beleza, mas também via sua imagem como a marginalização da sociedade em qualquer jornal que assistisse. Derrotado, o jovem se afastou cada vez mais daqueles que não o ouviam, e sua sede aumentava cada vez mais.
O suco que queria? O jovem esquecera. Sua sede era de respeito, era de alguém que o ouvisse, que o orientasse. Cansado, o jovem repousou no mesmo local aonde dormiu, na solidão do esquecimento da sociedade.
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