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AI SE EU PUDESSE TE ABRAÇAR AGORA...
LEANDRO DEL TEDESCO

Amar é nobre.
Cresci decorando tal definição,mas meu coração teimava vagar pelo sótão da solidão.
O cupido me cutucou num dia dourado,quando vi pela primeira vez o esboço de Sabrina,sensualizando sorrisos para a assanhada clientela no balcão do Bar Salutar.
Rezava a lenda idealista que a casta era de difícil diálogo,criteriosa e tremendamente exigente.
Hehe...nunca acreditei em lendas.
-Quer casar comigo?-indaguei,indiferente.
-Se me pagar um drink eu topo!-disse,despojada.
Parecíamos um par perfeito!
Promovíamos travessuras carnais e devaneios conjugais.
Tirei a senhorita de beleza artesanal do acatingado cubículo em que residia e abriguei-a em meu curral.
A vida sofrida que Sabrina levava saturava seus contornos.
Mamãe adorou a decisão.
-Isso num vai prestá!-animou-nos.
Vivíamos enrabichados!
Um dia porém o Xassina,inimigo íntimo declarado,ousou xavecar minha imaculada dama e boliná-la:
-Delícia,delícia...assim você me mata!!!
Distribui bordoadas por toda a extensão facial do fanfarrão.A carcaça dele agonizou,ávida pra se despedir do mundo!
Fui algemado.
Ato abominável!
Crime inafiançável!!
Conduzido ao ócio da cela,me amontoaram entre uma milícia com vasta malícia criminal.Para não incomodá-los,segui à risca as regras de etiqueta carcerária.
Minha tia Luzia sempre dizia em suas fugas que "A liberdade é autocensura para os covardes".
Só pensava em Sabrina!Tatuei-a no braço...e na mente.
Aos poucos assimilei o dialeto prisional,adquirindo as manhas da malandragem e a confiança dos parceiros.
A Dadá,carcereira de doçura diabética,bambaleava o acentuado relevo glúteo pro meu lado.Os detentos perceberam o intento da guardiã.
-Mano,a gente já notamos!-me confidenciou o Dimaior,capitão do time do Xiz FC,preso ao tentar impedir que a polícia o impedisse de roubar um banco.
-Tô fora Dimaior,meu amor tá me esperando no mundão!
O sujeito suspeito me convidou para enfileirar o ataque de matadores do Xiz FC,finalista do Torneio Interno "Sô do Bem".
-Demorô!-concordei.
No domingo de visitas lacrimejei ao ver mamãe no pátio da prisão,com a cara carrancuda.
-Mamãe!!!
Ela descalçou os tamancos e me deu uma sova na frente dos "irmão".
-Cachorro,moleque!Eu num avisei?
A Dadá evitou a lesão dolosa.
-Calma sogra!-gritava,dadadando água com açúcar pra mami.
Acovardado,mantive velada a saudade de Sabrina.
Abusada,a Dadá intensificou o rico roteiro de assédios e entoou:
-Ai se eu te pego,ai se eu te pego...
Minha integridade sentimental permaneceu intacta.
Protocolei tratativas com o Criador em troca da presença de Sabrina em meu cativeiro.Postei centenas de cartas confiante na altivez do nosso nobre sentimento.
Nada da Sabrina dar as caras.
Sagrei-me campeão invicto defendendo o Xiz FC e tive o vulgo rubricado ao lado de grandes mitos da contravenção.
-É nóis!
O Dimaior,triste com meu tédio, insistiu em me animar:
-Convida a Dadá pra sair,"ladrão"...hahaha.
-Tá me tirando,se liga truta,na próxima visita minha mina aparece!
Não barganharia o mais arrebatador dos sentimentos por instantes incompletos de volúpia.
O Domingo chegou!!!
Levantei antes que o sol,dei uma lavadela no calabouço e aguardei ansioso a presença da minha amada.
Eis que a Dadá me trouxe a resposta num envelope semi aberto.
-Eu falei,ela não me esqueceu...eu sabia,eu sabia!!!-propalei eufórico.
Ao abrir a missiva de Sabrina,arregalei os olhos e...

                             Convite de Casamento
                                Sabrina & Xassina
                                    Não Perca!!!

Restou-me olhar para a compadecida Dadá e declamar:
-O jeito é...dá uma fugidinha com você...
          "O amor é um inocente...preso em flagrante".


Biografia:
Jovem escritor de 35 anos que publicou recentemente o livro de crônicas "Kanela na Bola".
Número de vezes que este texto foi lido: 52808


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