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svengarlitz abadias

MOREIRINHA

Moreirinha é um mal sucedido homem de 40 anos. Aparência desleixada, óculos de lentes grossas e roupas anos 70. Trabalha há 20 anos no mesmo escritório de contabilidade, seu primeiro e único emprego.
“ O seu Rubens foi o único que me deu oportunidade quando eu vim do interior por isso eu fui ficando...”
Moreirinha é casado há 15 anos com Maristela, advogada que fez fama e fortuna graças ao espírito empreendedor e ao enorme talento. É temida pelos oponentes e louvada pelos clientes que disputam seu talento, além de não cansarem de admirar seus atributos físicos.
Moreirinha e Maristela se conheceram no início da faculdade. Ele, Contábeis, ela Direito. Ambos chegados há pouco do interior. Certo dia se olharam no bar da faculdade e começaram a conversar. Por sugestão de Maristela e por economia, foram dividir um apartamento com mais um colega do Moreirinha.
Do kitinete dos tempos de faculdade para o triplex onde moram teve muito esforço da Maristela.
As pessoas olham para aquele casal e não entendem, mas ninguém tem coragem de perguntar.
Na realidade o nome do Moreirinha é Julio César Moreira, mas a Maristela quer que o chamem de Moreirinha, pois o diminutivo lhe cai melhor e é mais compatível com seus talentos.
Mensalmente a Maristela faz uma reunião no escritório para os empregados e seus familiares. Todo mundo já sabe: pobre do Moreirinha. Quando precisa de algo a Maristela simplesmente olha para ele e ele vem correndo:
- Sim, Mari ?
- Em vez de ficar sentado por que você não vai circular e ver se todos estão servidos ?
- É para já, Mari.
Somente a Ingrid, telefonista parece se importar, mas não fala nada. É muito arriscado. Pobre Ingrid, como a natureza foi injusta com ela: acomodou-se com a gordura, acabou desistindo de ser bonita.
Era sempre assim, o Moreirinha tinha que ser humilhado e tinha que ser na frente de todos. Há quinze anos, do mesmo jeito, só mudavam os lugares e os motivos
Em casa era pior, a indiferença.
Jantavam, depois iam para o quarto, cada um para o seu, normalmente sem se falar.
Quando Maristela tinha necessidade de sexo, apagava a luz e chamava o Moreirinha, ele já sabia, entrava em baixo dos lençóis e mecanicamente satisfazia a sua mulher, levantava-se pegava suas roupas e ia para seu quarto.
Apesar de muito assediada, Maristela jamais se sentiu atraída por nenhum outro homem, nunca tivera um amante.
Certo dia o Moreirinha recebeu um telefonema de uma pessoa que ele não via há anos. O Fábio. Fábio era o colega de início de faculdade que dividiu o apartamento com o Moreirinha e a Maristela. Combinaram de se encontrar para jantar.
No outro dia pela manhã, na hora do café o Moreirinha criou coragem e disse:
- Mari !
- Maristela levantou o olho por cima do jornal como se tivesse ouvido um fantasma e não respondeu, simplesmente ficou olhando.
- O Fábio me ligou, convidou para jantar na casa dele hoje, que você acha ?
- Vai.
Fábio havia se tornado um oftalmologista de renome, era um homem extremamente bem sucedido e tinha uma família espetacular jamais esqueceu do apoio prestado pelo Moreirinha (que ele chamava de Júlio) no início da faculdade e pela grande amizade que tiveram até se separarem após formados.
Quando Moreirinha chegou para jantar se abraçaram fortemente e após algumas cervejas Fábio teve coragem e perguntou ao amigo:
- Você ainda está com a Maristela ?
- Sim, ela é muito boa pra mim e não posso me queixar do meu padrão de vida. Com o salário de Contador que eu ganho como iria ter o conforto que eu tenho ?
- Lamento meu amigo que você tenha se contentado com tão pouco. Mas mudando de assunto, por que você não dá uma mudada no visual ? Vamos fazer uma cirurgia corretiva e abandonar estes óculos ?
- Não sei, acho que tá bom assim e talvez a Mari não queira.
- Prometa-me que você vai perguntar ?
- Vamos ver.
Despediram-se com o compromisso que se veriam sempre.
No outro dia no café da manhã Moreirinha novamente criou coragem e disse:
- Mari, posso te fazer uma pergunta ?
- O que ?
- O Fábio disse que eu poderia fazer uma cirurgia e deixar de usar estes óculos pesados, você deixaria ? Ele diz que pela nossa amizade não cobraria nada.
- Pior você não vai ficar mesmo.
Moreirinha fez a cirurgia e aproveitando a sugestão do Fábio também mudou o corte do cabelo.
No outro dia na hora do café Moreirinha surpreendeu a Mari espiando-o por cima do jornal e por incrível que pareça chamou-o para seu quarto à noite pela segunda vez na mesma semana.
Moreirinha olhou-se no espelho e acreditou que poderia, nem que fosse por um momento, ser outra pessoa.
Ligou para o Fábio e disse:
- Amigo, quer ser meu sócio ?
- Quero, partindo de você eu topo qualquer negócio, mas não tenho tempo, você sabe.
Naquele dia Moreirinha falou com seu Rubens e disse que iria embora do escritório, queria montar uma floricultura com duas pessoas amigas e já tinha vendido o carro para pagar a sua parte.
Naquela noite Mari o chamou para o quarto e ele disse:
- Só vou se for com a luz acesa, quero ver seu corpo que há anos não vejo.
Mari focou estupefata e deu-se conta que quem estava na sua frente de cuecas não era o Moreirinha e sim o Júlio César. Concordou. Fizeram amor como nunca, Júlio César acordou no quarto da Mari, na sua cama, com ela abraçada ao seu pescoço. Júlio César levantou-se bem devagar, saiu somente com a roupa do corpo, não tomou café e foi embora para nunca mais voltar.
Júlio César, Fábio e Ingrid a recepcionista, montaram sua floricultura, Fábio pouco tempo depois recebeu todo seu dinheiro de volta e saiu da sociedade.
Júllo César jamais amou ou amará Ingrid, mas casaram-se e moram juntos em um pequeno apartamento de um quarto.
Mas o que Júlio César quer é a vingança, quer a dor diária e eterna de uma mulher loucamente apaixonada por um homem que poderia ter sido seu em vez de fazê-lo andar a seus pés, trocada por uma mulher feia, quer que todos falem e comentem no escritório, nas ruas, para sempre ...






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