No revirar papéis amassados de meu avô, deparei-me com este, que intrigou-me em demasia.
A velha gorda era um destes tipos que eu reparara. De banhas que saltavam dos braços roliços desdobrando-se além do pano de cetim do vestido florido e de um chapéu com um laço demasiado extravagante no topo da cabeça; as dobras de sua pele exalavam um cheiro acre que enjoava-me o estômago: o total desleixo chegara ali. Ao vê-la, precipitei-me a imagina-la em um baile, daqueles dados em grandes salões, rodopiando por entre mesas, dando com algumas que desabavam sob o peso – e outras imagens começaram a pulular em minha mente. Mãos sujas de gordura e bocas brilhosas a devorar pedaços de carnes malcheirosas abarrotadas de vermes que dançavam ao som de todo os gemidos de prazer. Depois o prazer mórbido da prática proibida há milênios – a excitação com os seres ainda tenros. Gritos e risos de insanidade; pássaros que arrancavam os olhos de bebês chorões – malditos; o doce aroma da carne a fritar nas chapas quentes. Meu Deus! O que me acontecia? Eu não podia permiti-los acordarem – de maneira alguma eles tornariam à vida. Corri apressadamente pelo corredor, de volta à minha cabina, abri a porta de súbito, e pus-me a revirar a maleta apressadamente em busca deles. Onde estavam? As serpentes começavam a rasgar o colchão, mas cheiravam a. cheiravam... Cheiravam a amoras. Doces amoras. Começaram a desenhar círculos com o próprio corpo, e começaram a comer a si próprias. Vorazes!
Eu estava a alimentá-los – não podia permitir. Tornei a procurar na mala, e, lá no fundo, dentre maços de cigarros e balas, encontrei-os. Tratei logo do problema e sentei na cama resfolegante. Em poucos minutos apagara completamente, caindo num sono sem sonhos.
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