(a um poeta morto)
Inerte, cheio de vazio,
Feito a alma do poeta...
Que bebe a ausência secreta,
Do calor de quem partiu.
Em seus destinos iguais:
Um é amargo e sereno,
O outro bebe o veneno
Que conduz ao nunca mais...
A fonte, já sem valia,
Espelha o corpo profano;
Cortado pelos minuanos,
Sonha ver a luz do dia.
Quando emana o desamor
Nos deserdados da sorte,
Sorvem a essência da morte
Pensando beijar a flor.
Na madrugada silente
Acharam o cristal quebrado,
E flores amareladas
Velando a dor de um ausente!
Sob um canto já sem luz,
Sucumbe a mera existência
E no copo, a transparência
Reflete agora uma cruz.
Quem foi e quem seria,
O corpo ali tombado?
Talvez um homem calado,
Transbordante de poesia
Partiu a alma, liberta,
Restou o copo em pedaços,
E quatro luzes escassas,
Pra iluminar o poeta...
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