Aborrecido com um simples salário,
Achou mais graça em ser empresário,
E um belo dia disse: ‘Adeus patrão,
Pois finalmente achei o filão’.
‘A sorte ajuda a quem arriscar’,
Dizia a quem o quisesse escutar.
Falaram com ele, foi tudo em vão.
‘O mundo merece uma lição’.
Não tinha produto, apenas a mente
E mais um discurso de todo envolvente,
“Os outros precisam é de um mentor”.
Assim, decidiu virar consultor.
Parece bem fácil abrir uma firma,
Mas há exceção que a regra confirma!
Aos poucos foi submetido à tortura,
Primeiro: licença da Prefeitura.
Faz mais de um ano que aconteceu,
Percebe que a ordem ele inverteu,
Aflito constata “fui mesmo idiota”,
Primeiro de tudo o Cê Ene Pê Jota.
Definiu , pois pediram, o objeto social,
Bem abrangente, descomunal:
Importar, exportar, industrializar,
E, de vez em quando, até consultar.
Alugou um conjunto no nono andar
De um prédio moderno que foi visitar,
Mas foi instado de forma premente
Conseguir atestado de “não poluente”.
É fato sabido que o nono andar
Representa um risco, e menosprezar
Coloca em perigo andares inteiros.
A benção final foi dos bombeiros.
De todo exausto, quase disse Eureca,
Ouviu: ‘Negativo, precisa de DECA’.
Junte papéis. Não vá desistir.
Bom é papelada, o ruim, produzir.
Impostos choviam, que coisa rara.
Conhecer o motivo o deixou uma arara.
Nasceu um Estado, o Tocantins,
Por isso aumentou um ponto a Cofins.
Até cirurgião, por acaso ministro,
Recriou um imposto de todo sinistro,
A sociedade que leve o fardo.
Vigiou Osíris, depois, Everardo.
Com aquele achado de Jatene Adib
Quase vai de tributos metade do PIB
E dá-lhe Cofins, o Pis mais que dobra.
Azar de empresário , para quem sobra!
Ó, triste destino, em contexto banal.
Vem mais sofrimento nas mãos do fiscal.
Rachid vem direto , sem ser o Harun.
Tragédia, amigo, agüente mais um!
Recebe a visita de um nobre senhor
Que, sem mais nem menos, afirma ‘Doutor,
Seu caso é grave , melhor que confesse
É sonegador de I Ce Eme Esse’.
‘Mas eu nada fiz’ . ‘Por isso é suspeito’
A voz lá de dentro murmura ‘bem feito!’
‘E não é só isso’, diz outro, ‘parece
Está em atraso seu I Esse Esse’.
Foi falta de sorte ou foi mal-andança.
Fez tudo direito. E há esperança?
Seu apetite encontra-se extinto
Só busca a saída do labirinto.
A vida é mesmo um aprendizado
E isso importa? No fim sai tungado.
Ao fim e ao cabo, perde-se tudo.
Mas quem entra nessa, só merece cascudo.
|
Biografia: Alexandru Solomon nasceu em Bucareste (1943), mas vive no Brasil desde os 17 anos. Ao lado de uma sólida carreira empresarial, de uns tempos para cá passou a se dedicar a uma nova paixão: a literatura. Através da sua escrita nunca deixa o leitor indiferente. Um contador de histórias na velha tradição, empregando recursos que vão mostrar ao mundo em que vivemos, algo que pudesse estar perdido. Preparem-se, portanto, para uma surpresa que virá atrás da outra. Pois, Alexandru Solomon, além de humor, vai mais fundo.
Autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar`, ´Um Triângulo de Bermudas`, ´O Desmonte de Vênus`, ´Bucareste` (contos e crônicas) e ´Plataforma G`, além de vários prêmios nacionais e internacionais por sua escrita. |