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Quando a vida se lembra da gente...
Ricardo Alexandre Barbosa

Resumo:
Peça de ato único de caráter humorístico em que o personagem principal se vê surpreendido por uma visita bastante peculiar.

Quando a Vida se lembra da gente...


        Interior. Sala. Tarde.

        Uma sala espaçosa e pouco mobiliada. No centro, um sofá coletivo de pele por sobre um carpete encarnado. Na frente, à esquerda, junto à boca de cena, um móvel pequeno com um televisor de vinte e uma polegadas. Ao fundo, um móvel de sala com diversos bonecos e enfeites, uma torradeira, um liquidificador e um porta-retratos. À direita, a porta.

        Batem à porta. Lucas levanta-se do sofá meio chateado, vagaroso. Pousa o controle. Abre. Do lado de fora está uma moça elegante, extremamente linda. Loira, minissaia, tomara que caia branco.
       
        Moça- (sorridente) Oi!

        Lucas- Oi! (mais satisfeito) Em que posso ser útil?

        Moça- (entrando) Posso entrar? (senta no sofá, descontraída) Sofá bom! Hum! Aconchegante... (levanta-se) Desculpe. Eu nem me apresentei. Eu sou a Vida. Prazer.

        Lucas- Vida?

        Vida- Vida. Vida de vida, meu querido. A própria.

        Lucas- (estendendo a mão para cumprimentá-la) Prazer. Eu sou...

        Vida- (interrompendo-o) Eu sei, eu sei. Lucas. Lucas Valverde Correia. Não é assim?

        Lucas- É sim. Como você sabe?

        Vida- (dando um tapinha no rosto dele) Qual foi a parte que você não entendeu, hein, meu querido? Eu sou a vida. A sua vida.

        Lucas- Minha?!

        Vida- (exibindo o corpo) Não gostou? (sensual, se aproxima dele) Que é que você mudaria na sua vida?

        Lucas- (sem jeito) Na minha vida?...

        Vida- Sim, na sua vida. (no pescoço dele) Fale, que é que você mudava na sua vida?

        Lucas- (ainda sem jeito) Mudava de casa...

        Vida- (insinuante) De casa, é? Por quê? Você não gosta da sua casa?

        Lucas- Gosto... Mas é um pouco pequena...

        Vida- (apertando o queixo dele) Hoje é seu dia de sorte, meu querido. (mostra uma chave) Sua casa nova.

        Lucas- Sério?...

        Vida- (mudando de expressão) Não! Brincadeira. A vida gosta de brincar. (senta no sofá, se espreguiça) Ai!... Sabe que tá meio chato?

        Lucas- O quê?

        Vida- Ser a sua vida, querido. Você não faz nada! Tédio! O dia todo assistindo, hoje, amanhã, todos os dias. Você não cansa?

        Lucas encolhe os ombros.

        Vida- Mas, no fundo, até que você tem sorte. Ter uma vida como eu, não é pra qualquer um, não.

        Pausa.

        Lucas- (sentando-se no sofá ao lado dela, meio que pensando) Não tou entendendo, Vida. Vida, é isso?

        Vida- (concordando) Hmhmm!...

        Lucas- Como que você pode ser minha vida?

        Vida- Oh! (pega a mão dele e coloca na perna dela) Sabe o que um homem faz com a vida dele? Tudo que quiser. (pisca-lhe o olho) Você tá pensando o mesmo que eu?

        Nesse instante entra um homem todo vestido de branco correndo.

        Homem de Branco- Parou, parou! Você não vai foder sua vida, Lucas! Pelo amor de Deus, homem. Olha pra ela, olha pra ela. Sua vida é linda, cara. Você não vai foder sua vida!

        Nesse momento entra um homem todo vestido de vermelho correndo.

        Homem de Vermelho- Vixe Maria! Mas que vida danada de boa, hein? Ah, Deus do céu, eu não aguentaria!... Olha pra essa perna! Ah, mas você só pode ser besta! Recusar uma vida dessas!... Hum! Só queria que fosse comigo!...

        Lucas- (levantando-se) Mas vocês quem são, hein?

        Homem de Branco- Eu sou a Razão.

        Lucas- Razão?!

        O Homem de Branco anui com a cabeça.

        Lucas- E você?

        Homem de Vermelho- Vixe! Não me reconheceu, não, meu filho? Eu sou a Inveja.

        Lucas- Pronto. (cumprimenta-os) Prazer, eu sou o Lucas, agora podem sair.

        Homem de Branco- Mas eu só quis te aconselhar. Só quis ajudar...

        Homem de Vermelho- Deixa-me ficar assistindo. Deixa. Deixa assistir.

        Lucas- (empurrando-os) Embora! Embora!

        Homem de Branco- Depois não diga que não avisei, hein?

        Homem de Vermelho- Desperdiça não, rapaz. Desperdiça não.

        Lucas- Tá bom, tá bom. Adeus, adeus...

        O Homem de Branco e o Homem de Vermelho saem.

        Vida- Noossa! Como você foi decidido! E forte! (examina os braços dele)

        Lucas- Olha, moça, eu não sei quem você é, não faço ideia do que tá acontecendo... Isso tá confuso que só o diabo! Não tou entendendo nada!... É melhor você ir embora.

        Vida- Embora? Você tá me mandando embora?! Você sabe o que você tá fazendo? Você tem noção do que tá fazendo? (principia a chorar, atira-se no sofá chorando)

        Pausa.

        Vida- Eu podia esperar tudo de você... Mandar-me embora, eu nunca imaginei. (chora forte) Que é que vai ser de mim?... Que é que vai ser de mim?... Todo mundo vai tirar sarro... Vida abandonada... Solteira... Ai! Ai! Ai! (levanta-se enérgica, raivosa) Vou pegar minhas coisas.

        Lucas- Suas coisas?! Que suas coisas?

        Vida- Tudo! Tudo! Vai dizer que eu não tenho nada nessa casa?! (pega o liquidificador, a torradeira) Muito tempo do seu lado... Não vou sair de mãos abanando.

        Lucas- Para, para! Você é louca, só pode. Vou chamar a polícia!

        Vida- Chame quem você quiser, seu ingrato. (dirige-se para a porta) Ingrato! Ingrato! Você vai acabar sozinho, seu ingrato! Ingrato! Amanhã venho pegar tudo o resto. Ingrato!

        Vida sai. Lucas senta-se no sofá incrédulo com o que está acontecendo. Instantes depois entra Amadeu.

        Amadeu- Quem é essa que saiu daqui gritando feito louca?

        Lucas- Minha vida, você acredita?









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