- Você não deveria ser tão comedido.
- Como devo ser, então?
- Criador do seu próprio universo.
E todos os dias o mesmo diálogo. O simples contra o complexo. Ou seria o contrário? O objeto de complexidade tentava convencer o seu oposto de que a vida deveria ser vivida sem limites, as conseqüências eram comuns e não-doloridas e a prolixidade da alma não deveria ser entendida, mas contemplada ao máximo. E tentava fazê-lo entender que errar era um prazer e perder-se era uma maneira divertida de se achar. O outro o achava vaníloquo e inconseqüente. Lembrou que todas as vezes em que tentou viver sem raias e seguir caminhos tortuosos, deparou-se com algo chamado “devaneio” e a sua razão o fez voltar à normalidade. Passou a exigir de si mesmo apenas o que julgava imperecível.
E a colisão estendia-se por conta própria. Conflitavam sobre o conflito.
- Por isso não nos entendemos. Você vive submisso a todos. Por que esse medo de viver?
- O que preciso fazer para viver da tua maneira?
- Aceitar-se imperfeito. Contemplar o que há de mais humano no universo: a oscilação do ser. O que chamamos de “altos e baixos”.
Cansado do embate, ateou fogo à própria personalidade. Quebrou o espelho sem saber que o choque impetuoso estava dentro de si. Cabisbaixo, voltou ao trabalho.
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