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OS SUSPEITOS
Alcivando Lima

Resumo:
Uma mescla da genialidade de M. Zostchenko com a rusticidade dos nossos povos ribeirinhos.

OS SUSPEITOS

                                                                                   Alcivando Lima

“Há algo no ar além de aviões de carreira”.
                                   (Barão de Itararé)


Um quinto de légua era a distância entre a delegacia e o local do crime. Formigas em correição de gente indo ao pé de angico perguntando a quem vinha como foi, porque que foi, se levaram a estrovenga do jegue, se ele tava com os olhos abertos, quem foi o filho de chocadeira que fez isso, minhanossasenhora, quem? -- Se perguntavam, atarantados.
Porém, --- comentavam os muitos, em várias rodinhas que iam se formando ao longo do trajeto --- o danado do jegue tinha o horrível inconveniente de mostrar o facão fora da bainha, toda vez que botava os olhos numa mulher bonita; o bichinho, agradecendo a Deus, empinava o nariz à cata de feromônios e assobiava uns assobios doridos, sacolejava a barriga como a gargalhar e danava a zurrar e a sapatear uns sapateios escalafobéticos e daí, feito cachorro fugindo de foguete, partia pra riba da criatura que se escafedia no capinzal largando chinelo no pasto, xingando-o com uns nomes tão bobagentos que eu, em reverência às pudicas vestais, me declino nomear.
E assim eu, não querendo ser enxerido, zanzava pra lá e pra cá, ora parando numa rodinha ouvindo que aquele jumento era uma desgraça e noutra que não, que o assassino tinha de ficar o resto da vida dormindo com gambá, que quase perdi o restinho dum intrigante relato, por que fiquei feito besta observando a festa que um bode fazia no terreiro. --- Aí minina --- dizia uma risonha baixinha gorducha, me fazendo espichar o pescoço na direção do cochicho --- O casalzinho, podre de chique chegado de fresco da Europa e doidinhos da vida pra comprovar a viagem com fotos, badulaques e filmes, resolvera visitar os donos da fazenda onde Subio pastava junto de vacas e outros que tais. A mulher, de cor trigueira, era bonita que nem o diabo e caminhava que nem uma gazela no cio. O marido, todo varonil dentro de uma indumentária caríssima. Afinal, estavam visitando gente rica e lá iam fazer feio? O que iria pensar os anfitriões? Hein? Ir de bermudas de feira e chinelos fedorentos? Ah ta bão! Bem, como eu tava dizendo --- continuava a baixota gorduchinha ---, o jovem casal, logo que chegou à porteira da fazenda, largou a camionetona nas mãos da filha mocinha e resolvera trilhar a pé o restante da pequena jornada para, assim, melhor apreciar os campos floridos com suas borboletas multicores, admirar os animais e suas crias engraçadinhas, maravilhar-se com as abelhas carregando pólen, embasbacar-se com o vôo dos patos, inebriar-se com o cheiro de bosta de vaca, do mijo de cavalo, enfim, apalpar, olfatar e deslumbrar-se com o bucolismo das nossas plagas. E lá se foram eles de mãos dadas, caminhando placidamente, quando --- Senhora d’Abadia --- Subio, pressentindo mulher no pedaço, sacou do cajado e desembestou-se pra cima deles. A flor desabrochada, vendo o capeta se aproximando, entrou em catatonia ficando à mercê do tarado jegue. O nosso John Wayne, em vez de defender a indefesa do lascivo dragão, não, fez foi tirar o dele da reta, deu uns chiliques aviadados e, que nem um guariba, zuniu pra riba duma mangueira e de lá, trepado nas grimpas, ficou a abanar o chapéu, gritando fininho: Saiiii burro! ... saiiii, enquanto o safado do jegue, estalando a pinhola no peito, cheirava e lambia a socialite e só não ficou bêbado com o aroma de carne mijada, por que Deus deu coragem a um valoroso vaqueiro que a acudiu quebrando uma acha de lenha na cacunda dele, o jegue. Desse dia pra cá, minha filha, --- finalizou a gordinha --- eu pensava que iriam passar o canivete nos ovos dele e não fazer essa judiação com o coitado morto matado desse jeito!
Quem capou, matou e carregou a marreta do Subio? Nem o padre e coroinhas, escapuliam de suspeição, eles também foram vistos tremelicando na cerca.
Sarará e uma mulher por nome Tulina, viventes suburbanos e também vítimas na lista do Subio, foram os primeiros a serem inquiridos pela polícia. Outros suspeitos, incluindo o casal chique, não compareceram por serem pessoas gradas e pessoas gradas, ... bão! o melhor é parar por aqui, mexer em casa de marimbondo pra que? Cisma? ... Né não! ... É siso! ... É seguir ao pé da letra o que preconiza um filósofo chinês, em seu 11º mandamento: “Não deixarás teu fiofó lá em riba pra urubu bicar!” ... Entendestes?
Pois é, afora um arrocho num suspeito aqui, um empurrão num bêbado acolá, o dia transcorreu-se com certa normalidade. O sol pispiava seu ocaso com uma cor tangerina tão bonita que até a lua, morta de inveja, ameaçava abrir suas janelas e só não o fez em virtude dumas nuvens anunciarem chuva de mandar tatu pra loca, quando me desce do carro da polícia científica um cachorrão perdigueiro tido como grande caçador de gatunos, traficantes e demais inocentes. Um fenômeno que estremecia os crédulos e que me levou a rebuscar na memória, um conto de M. Zostchenko, intitulado: O cão farejador, cuja ficção deriva do fato aqui mal contado. Pura coincidência, se me acredita!
Bom, como tava contando, o perdigueiro, todo marechal, foi se chegando e sem pedir licença a seu ninguém, perscrutava fragrâncias próprias de meliantes e mentirosos, acuando como se acua uma perdiz, tal qual se vê nas pinturas.
Santo Deus, esse vira lata tem parte com o cão! Pensei!
Rex, acercava-se de um e punha-se logo a balangar o rabo, fungando provas. O suspeito adquiria uma cor esquisita, uma cor de burro fugido e aí embeiçava uma careta de choro, mas logo, mesmo tremebundo, fincava o pé no chão e arribava o queixo lembrando que era homem e não um bago de milho; com outros, além de repetir os gestos, o sassafrás mijava-lhes nas pernas, abuso de autoridade que Sarará não aceitou pregando-lhe o pé nas fuças e se atracou com o sabujo que só não virou munha nas mãos dele, por que um soldado, espoleta no caratê, deu-lhe uma mugangada no pé da orelha e o Sarará gritou, ai jesuis, revirou os olhos e caiu no capim amassado, provocando um estouro da boiada na ralé, ficando somente uns gatos pingados mais corajosos que, sorrateiramente, foi se esfumando com a desculpa de acudir o feijão no fogo, rezar um terço e coisa e loisa e mais não sei, por que o sevandija aprumou-se no meu rumo e eu aqui ó! ... Trovejei no mundo.


Biografia:
ALCIVANDO FERNANDES DE LIMA, brasileiro, natural de Uruana-Go, (07/07/1947), é escritor e construtor de casas, publicou uma novela com o título IAPOCI & TIVULINA, cujo CDU é 869.0(817.3)-32
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