O ROMANCE ESTÁ MORRENDO?
O romance está morrendo faz tempo. Fragmentou-se em vários subprodutos de consumo, como a telenovela, a história em quadrinhos, o romance policial, a fotonovela, o romance reportagem. Todos estes subprodutos tem a principal função de apenas “comunicar” o conteúdo, usando-se suportes ficcionais para atingir o grande público.
No século das luzes, as idéias de romance estavam baseadas unicamente na percepção como única fonte de conhecimento. Esta situação, no entanto, modificou-se com o passar do tempo. A literatura daquela época contava histórias de cavaleiros em luta com dragões, gigantes, enaltecendo a coragem, ou conflitos individuais e vida cotidiana. Exemplo disso é o romance de Dom Quixote, de Cervantes, o primeiro romance de envergadura.
O romance passou por várias fases em sua trajetória. Cite-se a inovação do romance latino-americano com obras de Cortázar, Garcia Márques, Vargas Llosa, Asturias, Alejo Carpientier. O romance regenerou-se com a pessoa de muitos autores. Vale dizer que Dublin adaptou-o às suas mais diversas situações como: hospital, bordel, bar, alcova. Kafka foi mais fundo ao se rebelar contra o mundo dos cálculos, dos laboratórios.
A grotesca forma de escrever de certos autores atuais parece apressar esta morte ou transformação do romance. O que se quer, além ou abaixo de qualquer coisa, é “agradar ao cliente”, no qual o romance é só mais um “produto”para venda, igualados aqui, a livros, a geladeiras ou picolés.
Um destes subprodutos do consumo é o best-seller – filho do consumismo híbrido do romance, novela de folhetim, histórias, com toques permanentes de ação ou de escândalo, violência ou sexo. Todos estes ingredientes, no entanto, fazem que este tipo de romance “venda melhor”. Resumindo: se uma livraria colocar um Dom Quixote, de Cervantes ao lado de um outro romance atual, que retrate ação, sexo, violência este último é o que venderá melhor. Essa massificação do romance tende a aumentar, porque dá “Ibope”, porque vende. Está longe o tempo em que os escritores romanescos se preocupavam com a consciência humana, com a dignidade do homem, com o ideal de liberdade. O que se retrata hoje, é a busca pela “receita” que dá lucro, mesmo passando por cima destes valores.
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