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CULTURA AFRICANA E SUAS INFLUÊNCIAS NA CULTURA BRASILEIRA
CULTURA BRASILEIRA
Ismael Monteiro

Resumo:
O artigo faz uma análise da cultura africana e suas influências na cultura brasileira















CULTURA AFRICANA E SUAS INFLUÊNCIAS NA CULTURA BRASILEIRA



















1 INTRODUÇÃO

Ao iniciarem a colonização do Novo Mundo os europeus trouxeram os negros para auxiliá-los na colonização do Brasil. A vinda dos negros foi uma migração forçada pela captura e escravidão e possivelmente, foi o maior movimento migratório passivo na história do país. Portugal teve um interesse especial em trazer os negros para trabalharem nas fazendas e engenhos de açúcar, que eram os setores que mais precisavam de braços para o trabalho.
Pode-se dizer que após a vinda dos escravos da África começou a construção da identidade cultural afro-brasileira, ou mais especificamente, o princípio da cultura brasileira.
Os escravos negros tinham uma grande diversidade cultural por causa da sua origem e diversidade de etnias. Os negros vinham de nações agrícolas e eram desembarcados em Pernambuco, Bahia, Paraíba, Alagoas e Sergipe.
Levando em consideração esses aspectos, o presente trabalho tem o propósito de analisar a cultura africana e suas influências na cultura brasileira através de uma breve revisão bibliográfica. Essa revisão vai permitir observar como ocorreu o intercâmbio cultural entre os escravos africanos e a população branca.
     















2 CULTURA AFRICANA E SUAS INFLUÊNCIAS NA CULTURA BRASILEIRA

      Não se sabe com certeza a data exata em que os primeiros negros chegaram ao Brasil. É possível que tenha sido entre 1516 e 1526. Bergmann (1978) cita que possivelmente, foi Martin Afonso de Souza que trouxe os primeiros escravos africanos em 1531. É possível que tenha havido escravos a bordo das embarcações pioneiras de Cabral, já que Portugal praticava o tráfico negreiro desde o século XV. Os escravos eram obtidos por raptos, guerra ou compra.
     Vainfas (2001) destaca que na época do Brasil colonial, pouco se sabia sobre a origem étnica dos africanos traficados para o Brasil. Porém, ao longo do período passou-se a designá-los a partir da região ou porto de embarque, ou seja, das áreas de procedência. Mesmo com a origem diversa desses escravos, dois grupos se destacaram: os Bantos e os Sudaneses. Os povos bantos predominaram entre os escravos traficados para o Brasil, concentrando-se na região sudeste.
     Kavinafé (2010) descreve que os bantos, depois de um primeiro período de autonomia religiosa, assistiram à transformação de seus cultos, que deram lugar à macumba. Os cultos bantos acolheram mais tarde, os espíritos dos índios, surgindo daí um “candomblé de caboclos” e adotaram cantos em língua portuguesa. Os grupos bantos e sudaneses misturaram-se resultando em cruzamentos biológicos, culturais e religiosos.
     Paiva (2001) mostra que o cruzamento cultural desses povos como resultante de uma aproximação entre universos geograficamente afastados, em hibridismos e em impermeabilidades em reapropriações, em adaptações e em sobreposição de representações e de práticas culturais.
     A maioria dos escravos era jovem, com predomínio dos homens. Geralmente eram súditos de algum chefe na África, vendidos como punição por causa de algum crime, ou para pagar dívidas. Muitos eram prisioneiros de guerra, ou presos por incursões para a captura de escravos. Todos os escravos deviam ser batizados, sob pena de passarem ao Estado, segundo Bergmann (1978).
     Freire (2001) mostra algumas influências africanas, especialmente as “mães-pretas”, amas de leite, negras cozinheiras e quitandeiras influenciaram crianças e adultos brancos, no campo e nas áreas urbanas, com suas histórias, com suas memórias, seus hábitos e conhecimentos. Medos, verdades, cuidados, forma de organização social e sentimentos, senso do que é certo e do que é errado, valores culturais, escolhas gastronômicas, indumentárias e linguagem, tudo isso confirmou-se no contato cotidiano desenvolvido entre brancos, negros, indígenas e mestiços na Colônia.
     Como se observa o negro escravo ocupou na sociedade brasileira, uma posição peculiar, infiltrando-se na vida íntima dos brasileiros mantendo uma situação privilegiada no grupo familiar do branco e possibilitou um amplo sincretismo com a família do branco.
Ainda conforme Freyre (2001) os reflexos da herança cultural africana podem ser visíveis no jeito de andar e no falar do brasileiro, pois:

Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela própria amolegando na mão o bolão de comida. Da negra velha que nos contou as primeiras históricas de bicho e de mal-assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. De que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de homem. Do muleque que foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo (FREIRE, 2001, p. 348).


     O intercâmbio cultural entre os negros africanos, indígenas e portugueses foi intenso, notadamente na língua, costumes, modos, comidas, forma de pensar e práticas religiosas. Segundo Paiva (2001) as trocas culturais e os contatos entre os povos de origem muito diversa é algo que fazia parte do dia-a-dia colonial, desde a chegada dos portugueses, pois era ampla a vivência cultural da população negra no Brasil colonial, refletindo amplamente na sociedade do período.
     Do negro recebemos uma grande colaboração étnica, como igualmente a recebemos no processo transculturativo. O negro nos deu muito de sua cultura, em vários aspectos que hoje se fixam na vida brasileira.
     Outras influências dos negros, como na língua são bastante percebidas, como por exemplo: quenga: vasilha de coco; mutamba: árvore; maxixe: fruto verde, dentre outras.
     Na culinária brasileira, a influência africana é citada pela Larousse (1995): o negro introduziu o azeite de dendê, o feijão preto, o leite de coco-da-baía, ensinou a fazer vatapá, caruru, mungunzá, pamonha, acarajé, entre outros. Também modificou alguns pratos portugueses e indígenas, substituindo ingredientes e criou a cozinha brasileira.
     Na música, o samba é uma adaptação das danças e dos cantos tribais dos primeiros escravos que aqui chegaram, apesar de sofrer várias transformações até chegar ao estilo atual (SUA PESQUISA, 2010).
     Outra influência dos negros foi as festas de congadas, que mostra como o negro exerceu ativa nas festas populares dos brancos, apoiando-se nos elementos de sua própria cultura. A batucada é outra festa africana, muito apreciada pelos brancos. Na batucada, existe muito remelexo do corpo e umbigadas, com os instrumentos: o bombo, o pandeiro e a cuíca. A música é rítmica, a festa é dedicada à Nossa Senhora Aparecida, deixando claro que houve uma fusão entre o primitivo motivo da dança e o culto católico, segundo Fernandes (1974).
     Na literatura a influência dos negros encontrou em Castro Alves (1847-1871) o seu portavoz. Ele era chamado de poeta dos escravos. O interesse pelo escravo foi notório também em Gonçalves Dias, com Escrava, e junto com Bernardo Guimarães, deixaram-se penetrar pelo vivo interesse humano pelo escravo. Mas foi com Monteiro Lobato que foi aberto um capítulo bastante importante da influência negra na literatura. Os personagens negros nas obras de Monteiro Lobato que soube criar os personagens negros de maneira a integrar uma postura de integração racial bem definida. Como ninguém, ele descreveu a relação entre negros e brancos, configurando-se uma visão da temática racial endereçada ao público infantil. Ele buscou construir uma imagem de integração dos negros com os brancos, através de histórias folclóricas que passavam de geração a geração, segundo Azevedo (1963).
     Na religião, a contribuição negra é inestimável, pois os africanos ao invés de se isolarem, aprenderam a conviver com outros setores da sociedade. As promessas a santos, pagas com o sacrifício da missa, tinham semelhanças com os pedidos feitos aos deuses e espíritos africanos em troca de oferendas de diversos tipos (AZEVEDO, 1963).
     Na vida sexual, Freyre (2001) relata que as crenças e práticas sexuais se desenvolveram no Brasil com o aporte do misticismo do negro. Aqui pode ser citada a feitiçaria do sapo, que tornou-se o protetor da mulher infiel que, para enganar o marido, basta tomar uma agulha enfiada em fio verde, fazer com uma cruz no rosto do indivíduo adormecido e depois costurar os olhos do sapo.
     Mesmo com todas essas influências, o negro foi discriminado, pois a incapacidade da sociedade nacional de criar uma economia capitalista que pudesse absorver os ex-escravos e os libertos no mercado de mão-de-obra. Ou seja, eles foram expulsos para a periferia da ordem social competitiva, ou para estruturas semicoloniais e coloniais herdadas do passado. Eles sofreram o destino comum de todos os pobres do Brasil. Em linhas gerais, o negro se converteu num resíduo racial. Perdeu a condição social que adquirira no regime da escravidão e foi relegado como “negro”, à categoria mais baixa da “população pobre”. O negro foi vítima da sua posição e da sua condição racial (FERNANDES, 1974).






















3 CONCLUSÃO

     De tudo o que foi dito, percebe-se que a influência dos negros na cultura brasileira propiciou a construção de uma identidade cultural brasileira, uma vez que eles souberam adequar seus comportamentos com os brancos e recriar práticas culturais e de sociabilidade. Sem dúvida, esse cruzamento foi um processo que propiciou uma riqueza peculiar aos brasileiros.
     A inserção de suas práticas e costumes são percebidas até hoje na sociedade brasileira, deixando claro que todo esse universo cultural dos negros contribuiu para aquilo que apreciamos, comemos, lemos e dançamos.
     Porém, pode-se dizer que ainda hoje, a estrutura racial da sociedade brasileira ainda favorece os brancos, impelindo os negros para a pobreza, o desemprego ou o subdesemprego, o que é bastante lastimável, pois o negro ajudou com seu esforço e trabalho a construção desse país, que agora, por força de preconceitos, não o acolhe como deveria ser.



























REFERÊNCIAS


AZEVEDO, Fernando. A cultura brasileira: introdução ao estudo da cultura no Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1963.

BERGMANN, Michel. Nasce um povo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1978.

FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1974.

FREIRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala. Rio de Janeiro: Record, 2001.

LAROUSSE, Grande Enciclopédia Cultural. Sociedade e Cultura. São Paulo: Nova Cultural, 1995.


KAVINAFÉ, Tatá Kisaba. O sacrifício do povo africano cultura Afro-americana. Disponível em <http://www.ritosdeangola.com.br/Historico/historico04.htm. Acesso em: 10 jan. 2010.

PAIVA, Eduardo França. Escravidão e Universo Cultural na Colônia. Minas Gerais: UFMG, 2001.

SUA PESQUISA. A história do samba. Disponível em http://www.suapesquisa.com/samba. Acesso em 25 jan. 2010.

VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.


Biografia:
Sou pesquisador científico há vários anos e possuo conhecimento sobre diversas áreas.
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