Porque, às vezes, não percebemos o óbvio
Porque nos falta uma visão clara e fria
Daquilo que nos deveria entrar pelos olhos e inebriar a alma
Como tempestade em dia sombrio
Que dá medo e assombro
Que faz esperar pelo Sol
Como tentar conter com as mãos a água que teima em transbordar pela pia
Sem sucesso, com aquela falsa impressão de que estamos fazendo o que podemos
Quando apenas bastaria fechar a torneira aberta ou o registro
Mas estamos cegos, atormentados pelas ideias loucas
Aquelas que nos deixam mudos
Perdidos em nós mesmos e congelam nossas ações por segundos, talvez horas
Porque, às vezes, bastaria uma palavra para cicatrizar a ferida aberta
Aquela que se abriu ao sabor de outras palavras
Que, ditas ou não ditas, ficaram na imensidão da vida
Que enlouquecem pensamentos e nos fazem ter medo de acordar
Que atormentam os sonhos e nos fazem ter medo de dormir
Mas que calam sentimentos completos e contraditórios
Como letra e música
Como verso e canção
Como avesso e direito de um mesmo corpo
Como água e lodo
Como ódio e paixão
As contradições dos sentimentos loucos
Insanos e fortes
Razão e silêncio que calam em nós
Porque, às vezes, nenhuma palavra consegue descrever a verdadeira essência do que é sentido
E nenhuma explicação seria suficiente para preencher o vazio deixado pela ausência das palavras
Então, nada nos resta a não ser calar
E deixar que o silêncio faça sua parte
Acalmando a alma
Aplacando o coração em chamas
Fechando portas e janelas abertas a esmo
Esperando pelo Sol que brilhará depois da tempestade negra.
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