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As Artimanhas do Amor
Do Outro Lado da Tela
Alberto Angelo de Assis

Resumo:
Um dos 5 contos que compoêm o livro. Trata da aventura de um amor através da internet. Encontros e desencontros de um sonhador.

O OUTRO LADO DA TELA



Sentado na cama do Hotel, ele repassava sua história. Nascera numa família de classe média, só conseguira concluir o ensino médio. Tinha trabalhado desde os catorze anos. Lembrava-se bem daqueles tempos, seu primeiro emprego tinha sido em uma farmácia como Office-boy. Sempre tivera facilidade em fazer amizades, seu jeito honesto e atencioso facilitava. Mas sempre soube separa-las. Na farmácia ao completar maior idade, deixou de ser o garoto de recado e passou para o serviço interno. Gostava de futebol já naquela época, não perdia um jogo quando lhe convidavam. Não era craque como se diz, mas estava sempre entre os escolhidos. No trabalho nada o atrapalhava, não tinha o trabalho como sacrifício, fazia-o com prazer. Os verdadeiros problemas de sua vida, começaram a aparecer quando seu pai separou-se de sua mãe. Lembrava-se do primeiro dia quando chegou em casa, notou algo diferente em sua mãe.

-     O que houve mamãe?

-     Nada que já não estávamos esperando. Seu pai foi embora.

Engraçado que com o tempo tudo tem outra face. Aquilo o afetou, sua vida começou a mudar. Passou da adolescência para a maturidade em dias. Começaram a surgir os embaraços e os inevitáveis problemas financeiros. Eram a mãe, ele e mais três irmão menores. Analisando alguns de seus atos, nota que a falta da presença paterna mudou o rumo dos acontecimentos. Talvez com os conselhos ou sugestão de um pai, sua vida tivesse tomado outro rumo. Mas o que mais o aborrecia, era não ter reconhecido os sacrifícios que sua mãe fez por eles e seus irmãos naquele tempo. Era fora mãe, pai e amiga. Nessa sua retrospectiva lamenta não ter dado o apoio que ela precisava. Apesar disso não se lembra de ouvi-la lamentar de seu abandono. Mas agora sabia que se não podia fazer o tempo voltar, tentaria recompensa-la. Os tempos das vacas magras acabaram-se. Sua sorte mudara no dia em que adquirira aquele bilhete, há um mês atrás. Como fazia todos os dias separava 45 minutos de sua hora de almoço, para ler um pouco, aliás leitura era seu segundo prazer. No banco da praça lia concentrado, quando um rapaz conhecido seu, aproximou-se oferecendo um bilhete de loteria. Comprou mais para ajudar ao rapaz que era portador de deficiência física, do que por fé em que poderia ganhar. Colocou o bilhete na carteira e retornou ao seu local de trabalho atual, na Biblioteca Municipal. Adorava seu trabalho era como se diz “matar dois coelhos com uma cajadada só” . Tinha verdadeira adoração pelo seu ambiente de trabalho, a atmosfera ali cheirava a aventura, romance e cultura em si. O contato com os livros e com pessoas novas a cada dia não permitia que seu trabalho virasse rotina. Ainda existia uma outra razão para gostar do local: a INTERNET. Todos os dias nas horas em que o computador estava vazio, navegava por horas a fio. Foi numa dessas viagens ao acessar uma sala de bate-papo, que conheceu aquela que seria a razão de estar ali naquele Hotel numa cidade desconhecida. Primeiro conheceram-se por nickname, depois com o passar dos papos trocaram e-mail. A afinidade dos dois eram imensa. Gostavam dos mesmos tipos de filmes e das mesmas musicas. Um dos livros que ela mais tinha gostado, ele lera já duas vezes. Veio a troca de endereço e a seguir contatos telefônicos semanais. Ela morava em uma cidade num estado e ele em outro estado. Eles não se importavam em descobrir a aparência um do outro. Ele estava acima disso. Ela o achava muito inteligente, e ele a achava uma boa aluna. Certa vez em um de seus galanteios a ela comparou-a com as SETE MARAVILHAS DO MUNDO. Foi o ponto de partida para conseguir lhe a atenção total. Em sua limitação pela distância ele utilizava a escrita para conquista-la. Aproveitava que tinha um bom domínio das letras devido as constantes leituras. Ela por seu lado via que seu amigo internauta não era como os outros que ela conhecera. Ele exalava confiança tanto pela escrita como pelo telefone. Suas cartas eram cheias de bom humor, bom gosto e criatividade. Tudo nele a impressionava. Seu final de semana foi normal: futebol, amigos e sonhos. A semana também começava sem novidades. Assim que chegava a biblioteca ligava o computador e como ainda faltavam 2 horas para a abertura das portas aos assinantes. Acessava seu e-mail, existia sempre muitos mas a maioria era de publicidade, que ele sempre limpava. Localizava o que procurava, nunca faltava. Ele enviava e também recebia diariamente noticias dela. Melissa não se esquecia dia nenhum, ele também não. O que começou como passatempo foi crescendo. Como isso podia acontecer com duas pessoas tão distantes uma da outra, ele não sabia. Da parte dele e até onde podia perceber da parte dela, o sentimento que os atraia era o mesmo. Esperava ansioso mensagens dela, a qualquer momento o carteiro chegaria trazendo uma carta sua. Certa vez comentou o assunto com um colega de trabalho que lhe disse:

-     Adam, acesso a net a mais tempo que você. Essa menina deve ser bem feia. Mulher bonita não da essas brechas.

-     Meu amigo não sei se ela é bonita ou não. Gostaria que ela fosse linda, mas o que nos atrai é mais que aparência. A afinidade é muito grande. Você sabe que sou louco por leitura e não é que ela também é!

-     Correção, ela disse que é.

-     Ela é. Trocamos informações sobre diversos livros. Sabes que disso eu entendo.

-     Já perguntou como ela é?

-     Não senti necessidades ainda.

-     Pois faça isso. Aposto que ela é como .....Uma briga de foice no escuro.

-     Essas frases são típicas sua.

Saiu rindo seu irônico amigo deixando-o como se diz “com a pulga atrás da orelha”. Realmente até aquele momento nem lembrou se de pedir lhe uma foto. Ficou pensando na frase de Vinicius de Moraes: “Que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental.” Na primeira oportunidade que lhe surgiu, sugeriu a troca de fotos, o que ela concordou sem nenhuma cerimônia. Aguardou mais ansioso do que de costume a chegada da correspondência. Mas a tão esperada foto chegou pelo seu correio eletrônico. O que viu fez lhe o sangue correr mais rápido nas veias. Não esperava tanta beleza. Os cabelos abaixo dos ombros castanho claro, olhos meigos e castanhos também sua pele era clara como a maioria das mulheres do Sul do país. Tinha vinte e dois anos. O sorriso dela na foto, exprimia mais bondade, sensualidade e ternura do que poderia conter uma tela. Exibiu a foto ao amigo com orgulho, como um troféu.

      -    O que me diz meu amigo.      – disse cheio de orgulho.

-     Caramba Adam, ela é dinamite pura.

-     Como ela é bela.

-     Da até para desconfiar. Será ela mesma?

-     Poxa cara você é meu amigo ou amigo da onça? É dela. Não conheço tudo a seu respeito, mas o pouco que sei faz me acreditar em tudo o que ela já me disse. Tomara que ela também acredite em tudo o que lhe disse.

-     O problema é teu.

O seu suposto problema acabaria hoje, ele pensava sentado naquele quarto de hotel. Mas naquele dia continuou a trabalhar normalmente e como fazia todos os dias, desceu para praça a fim de ler o romance dessa vez, OS SETE MINUTOS de Irving Wallace. Foi na hora de retornar ao trabalho que lembrou-se de conferir o bilhete. Entrando na lotérica procurou o quadro de resultados, o que correspondia a sua extração. Deu uma primeira conferida, prestando mais atenção a TV que apresentava uma reportagem sobre seu time de coração o FLAMENGO. Algo estava errado, parou de ver a reportagem e se concentrou-se na conferência do bilhete. O seu bilhete era numero 85.811 e o resultado estampado no quadro dava como ganhador o bilhete numero 85.811. Pelo sim pelo não conferiu novamente. O bilhete premiado era numero 85.811 e o seu era numero 85.811. Sem sombra de duvida ou colocaram o numero errado no quadro ou ele ganhara. Deus do céu pensou, ele era o ganhador. Quantas vezes havia comprado um bilhete, jogado e apostado em diversos jogos com a esperança de ganhar e saíra frustrado. Agora comprara o bilhete só para ajudar um conhecido e ganhara um passaporte para a mudança de sua vida. Não queria demonstrar que a sorte sorrira para ele e não aos outros, por isso saiu com seu sagrado bilhete e retornou ao trabalho. Foi com grande dificuldades que conseguiu cumprir sua jornada. Quando chegou seu horário de saída, dirigiu se direto para casa. Estava agitado demais para ir a qualquer outro lugar. Precisava se refugiar em seu lar e assimilar a noticia. Ao entrar em casa a primeira coisa que sua mãe lhe falou foi:

-     Adam, infelizmente terei que pegar dinheiro emprestado no cartão de crédito. Sei que você esta apertado, mas com aquelas contas já vencidas, não vejo outra alternativa.

A única coisa que conseguiu fazer foi soltar uma estrondosa gargalhada. Sua mãe olhou-o sem entender. Ele queria falar, dizer lhe algo mas a única coisa que vinha em sua mente era sorrir. Mesmo assim conseguiu dizer lhe:

-     Mamãe, se em três dias eu não resolver isso, iremos ao cartão de crédito. Enquanto isso peço-lhe esqueça nossos problemas financeiros por três dias apenas.

-     Se você diz meu filho, eu acredito. Quer jantar?

-     Não mamãe, comi algo agora a pouco, mais tarde faço um lanche. Obrigado.

Deu lhe um beijo na testa e dirigiu se ao quarto, fechou a porta atrás de si e jogou se na cama. Pegou o bilhete olhou novamente com muito entusiasmo e beijou lhe. Começou a traçar seus primeiros passos. Tinha que acalmar se. Tomou um banho, passou pela sala e disse a sua mãe que iria dormir mais cedo. Respondeu a sua mãe que não estava doente, apenas cansado. Ligou o rádio na sua estação preferida e ficou meditando. Precisou de algum tempo para que o sono viesse, tamanha era sua excitação. No dia seguinte, com planos traçados, contas feitas, foi trabalhar. Na hora do almoço foi com grande alegria que foi ao banco. Cumpriu as exigências necessárias e tomou posse do que lhe era devido. Já não era um cliente normal, sentiu pelo tratamento a ele dispensado pelo gerente. Engraçado era que tinha entrado no banco Adam e saído Adam. O dinheiro mexeu só com sua situação financeira graças a Deus. O dinheiro ganho era suficiente para que parasse de trabalhar se tivesse vontade. Mas resolveu que continuaria com sua vida. Tinha um emprego que era sua paixão. Só por desencargo de consciência, foi ao caixa eletrônico e puxou seu saldo. Quase não acreditou, sabia que aquele saldo era a terça parte do que ganhara pois o restante aplicara. Depois desse dia começou a traçar planos a médio e longo prazo. Mas sua primeira medida foi sacar cinco vezes o valor que sua mãe necessitava para pagar as contas atrasadas. Quando entregou lhe o dinheiro a noite, ela ficou boquiaberta. Desejou logo saber como ele havia conseguido tal quantia.

-     Mamãe, não fiz nada de ilegal. Só que de hoje em diante nossos problemas financeiros acabaram, guarde esta informação só para senhora. Por favor com jeitinho procure descobrir as necessidades dos meninos, quanto precisam para arrumarem suas vidas. Não fale que fui eu que perguntei, depois me diga.

Os tais meninos eram seus irmãos, sempre os tratava assim por serem mais novos. No dia seguinte tratou logo de quitar suas dívidas. Ao telefonar para Melissa, coisa que fazia uma vez por semana, nada comentou sobre o prêmio. A única coisa que fez diferente foi comprar um lindo colar com um pingente em forma de coração e gravar a letra “M” de um lado e do outro a letra “A” e enviar lhe pelo correio. Um mês depois estava num hotel sentado em uma cama aguardando a hora de encontra-la pessoalmente. Como tinha férias atrasadas resolveu tira-la já. Chegou a cidade na noite anterior. Não achou que encontraria uma cidade tão agradável. Desceu do ônibus e entrou num táxi, pediu para ser conduzido ao hotel previamente escolhido. Poderia ter ido de avião, mas como nunca tinha andado preferiu deixar para uma outra oportunidade. Dormiu como uma pedra, acordou no outro dia foi direto tomar café pois estava faminto. Retornou ao quarto e aguardou que sua ligação fosse completada. Ouviu a campainha do telefone, atendeu era sua ligação.

-     Alô, posso falar com a Melissa.

Aguardou um instante pois ouviu que ela do outro lado da linha, falava com alguém provavelmente a sua frente. Logo depois:

-     Pronto.

-     Melissa, é o Adam.

-     Não precisava se identificar. Como conheço sua voz, meu adorado amigo. Como estás?

-     Estou bem. E você?

-     Muito bem, a biblioteca já esta cheia?

-     Deve estar como sempre Melissa, estou ligando de outro lugar. Estou com saudades.

-     Também estou morrendo de saudades, quando virá me ver? Vai entrar na internet hoje a tarde?

-     O dia esta mais próximo do que imaginas, infelizmente não poderei. Porém te ligarei de novo, posso?

-     Sabes que sim.

-     Então beijos minha adorada.

-     Te espero. Beijos para você.

Desligou o telefone e como eram 10:30 horas foi tomar banho e se trocar. Andou um pouco pela cidade. Achou-a muito limpa e realmente agradável. Voltou ao hotel, almoçou e tirou o cochilo, sempre que podia apreciava tirar um cochilo depois da refeição, um hábito dizem não muito saudável. Levantou-se 17:00 horas, colocou uma roupa comprada para a ocasião e dirigiu se a pé até o centro da cidade, procurou uma floricultura onde comprou um buquê de rosas vermelhas com arranjos branco. O proprietário perguntou se ele queria que fosse entregue, ele disse que não. Ele mesmo entregaria. Às 17:50 horas estava em pé de fronte a entrada principal do prédio onde Melissa trabalhava, aguardando sua saída. Queria ter lembrado de contratar alguém para fotografar tal encontro. Começaram a sair os funcionários. Procurava ansioso, olhava todos os rostos femininos. Eles também encaravam-no, afinal não é todo dia que viam um rapaz, carregando um lindo buquê de flores vermelhas naquela portaria. Quem receberá tal buquê? Deviam estar imaginando. Ele a viu antes dela nota-lo. Posicionou-se melhor e aguardou que ela se aproximasse mais. Melissa que conversava com uma amiga, de repente dirigiu o seu olhar para a mesma direção que sua amiga , ou seja a de um lindo buquê de rosas vermelhas na mão de um estranho. Primeiro ela notou as lindas rosas, depois levantou seus olhos devagar e seus olhares se cruzaram. Adam notou que ela o reconhecera, não conseguiu distinguir na expressão dela choro ou riso, tamanha era a confusão de seus sentimentos. Ela se deteve por um momento tentando articular uma frase, sem sucesso. Avançou até ele, ainda confusa. Sua amiga que notava a indecisão, perguntou lhe se havia algo de errado com ela.

-     É o Adam !          

Foi o que ela conseguiu dizer. Adam tinha certeza que aquela bonita mulher que agora se aproxima era Melissa. Achou-a mais bonita pessoalmente, do que naquelas fotos que recebera. Quando ela esta bem próxima entregou-lhe as rosas e disse:

-     Tenho duas coisas a lhe dizer Melissa. Primeiro: sempre cumpro o que prometo, estou aqui. E segundo as fotos que me enviou não fazem jus a tua beleza.

Viu que ela aos poucos se acalmava, deu-lhe dois beijos na face e fez o mesmo com a amiga se apresentando. Afastaram-se um pouco da entrada principal pois atrapalhavam um pouco o fluxo das pessoas que saiam do trabalho naquela hora. A amiga aproveitou despediu, deixando-os a sós.

-     Você veio. Quando chegou? Por que não me avisou?

-     Queria fazer-lhe uma surpresa. Cheguei ontem de madrugada.

-     Não acredito, hoje falou comigo de manhã daqui. Por que não me falou?

-     Como disse queria causar um impacto.

-     Adam, obrigado pelas rosas são lindas. Deveria ter me avisado assim preparava algo para você.

-     Melissa, Deus já preparou algo para mim aqui nesta cidade, Você.

-     Vamos, vou cumprir uma das promessas que lhe fiz. Pagarei o chopp.

Saíram lado a lado em direção ao estacionamento. Antes de dar partida no carro, ela virou e disse-lhe:

-     Agora que já assimilei a surpresa, posso te dizer, adorei você ter vindo. Farei todo o possível para que sua estada seja a mais agradável.

-     Minha querida, apenas seja você mesma. Não creio que possas fazer algo que supere sua presença em meu lado.

Com o carro em movimento, começou a examina-la cuidadosamente. Era com certeza mais bela que as fotos. Sua pele era clara, os olhos e os cabelos muito mais castanhos, a voz suave. Nada era diferente do que já conhecia a meses, apenas melhor e muito melhor. E o que seria que ela estava pensando dele. Ele sabia que tinha sido fiel a ela nos contatos que tiveram, sempre falara a verdade. Será que ele estava agradando-a? Ela estava muda ao volante. Ele não quis tirar lhe a concentração, pois era hora do rush e o movimento era intenso em todas as cidades, imagine naquela metrópole. Mas tinha que dizer alguma coisa:

-     Engraçado, nunca tinha te perguntado se tinhas automóvel ou se ia de casa para o trabalho de ônibus? Pensei que sabia tudo sobre você, me enganei. Diriges bem Melissa e sua cidade é linda, reparei ontem a noite e hoje.

-     Há muitas coisas que não sabes sobre mim Adam.

-     Realmente, mais creio que sei as mais importantes!

-     Quais?

-     És sensível, educada, inteligente e bela. Muito bela, Melissa.

-     Me desculpe mais sempre te achei um pouco exagerado.

-     Até sou exagerado em algumas coisas, mais com certeza em outras sou modesto, pois não encontro palavras para descrever. O exemplo é a sua beleza.

Ela presenteou-lhe com o mais lindo e sensual sorriso que ele já recebera. Meu Deus como seria bom se ela gostasse dele, mais do que de um simples amigo. Ele pensou. Tinha ido ao encontro dela com o intuito de conquista-la definitivamente. Sabia que ela gostava dele, mais não até que ponto, teria que descobrir. Em silêncio esperou ela estacionar o carro em frente a uma Choperia de nome ESTRELA DO SUL, o nome tinha tudo a ver com ela. Por ser sexta feira estava repleta, mesmo assim conseguiram uma mesa num varandão. Para sua felicidade no exato momento que sentavam ouviu o cantor iniciar uma das canções que ele mais adorava YOLANDA de Sá e Guarabira. Demorou um pouquinho e foram atendidos.


-     Tudo esta dando certo em minha vida de trinta dias para cá. Nesse exato momento estou tomando um chopp com uma bela e atraente garota, ouvindo uma das musicas que mais gosto. Parece um sonho.

-     Adam, também estou sonhando, não acreditava que um dia te conheceria, por mais que você me afirmasse o contrário.

-     Poderia demorar um pouco Melissa se a sorte não tivesse mudado. Mais que eu viria, não tinha duvida. Já te disse que o que sinto por você é mais que amizade. Começou sim com uma amizade mas cresceu. Eu não teria paz se não te encontrasse ao menos uma vez pessoalmente.

Alguma coisa na fisionomia dela quando ele completou a frase, não o agradou. Como ele não soube decifrar, deixou passar.

-     Ainda bem que você pensou assim.

Conversaram sobre sua viagem, sua impressão sobre a cidade, assuntos diversos. A noite começara abafada agora estava fresca e super agradável. Existiam vários assuntos que só tinham tocado superficialmente durante os contatos que tiveram e que hoje ele queria aprofundar mais.

-     Melissa, você ainda esta sozinha?

-     Só, não! Tenho meus pais e meus irmãos.

-     Muito engraçadinha, sabe que não é isso a que me referi.

-     Estava brincando. Tenho um namorado virtual, você. Não tive tempo de procurar outro. E você?

-     Sempre levei a sério nosso internético relacionamento, por isso estou aqui.

-     Vai ficar quantos dias?

-     Sinceramente não sei, vai depender de você.

-     Se depender de mim não voltas mais.

-     Vamos ver. Vais para casa de seus pais amanhã após o trabalho?

-     Queres ficar aqui?

-     Tanto faz para mim, ficarei onde você quiser. Lá tem pensão ou hotel onde me hospedar?

-     Claro que sim. Na verdade preciso ir, pois é o aniversário de minha irmã. Faremos o seguinte, após o trabalho amanhã, passo no hotel te pego. Chegando lá, procuramos um local para você ficar ou se quiser falo com meu pai e peço para ele deixar você ficar no quarto que tem nos fundos de casa.

-     Nem pense nisso, Melissa. Prefiro ficar em qualquer outro local. Não quero dar trabalho mais que o necessário.

-     Tens dinheiro para ficar gastando com hotel?

-     Da para o gasto, quanto a isso não se preocupe.

Ela queria pagar a conta mais ele não permitiu, por mais que ela protestasse. Ela deixou o no hotel e ao se despedirem acertaram que ela viria no dia seguinte por volta das 13:00 horas para apanha-lo. Subiu ao seu quarto e enquanto tomava um banho ficou meditando. O encontro fora mais formal do que imaginara, havia algum significado nisso? Será que ela perdera o interesse assim que o viu? Lógico que ela não se jogaria aos braços dele, mas um pouco mais de entusiasmo ele esperava. Acabou seu banho, agora de short deitou-se. Não havia nada que pudesse fazer agora, além de tentar dormir. Estava a centenas de quilômetros longe de casa, não poderia voltar sem que definisse uma situação com Melissa. Foi ai que ouviu a campainha do telefone tocar. Atendeu era ela.

-     Adam, desculpe se estava dormindo, é que não conseguiria dormir se não te dissesse algo. Deveria ter dito na mesa mais não tive coragem.

Pronto eis sua resposta , e não deve ser nada agradável, pensou ele.

-     Você é muito bonito, é mais inteligente que pensei.....

Não esta me cheirando bem comentou com seus botões.

-     ....nossa, como te achei agradável. Pronto era isso.

Nossa como ele era pessimista. Sentiu que lhe tiraram um peso das costa.

-     Minha adorada Melissa, primeiro obrigado por seus elogios. Você não sabe como isso me faz bem. Estava nos minutos que antecederam sua ligação pensando justamente o contrário. Olha você não tem nenhuma obrigação comigo por eu ter vindo te encontrar. Vim por um motivo que eu conheço. Tens seus motivos, sua vida, haja de acordo com sua vontade, só sua vontade. Nunca faça nada só para me agradar. Quero te dar e quero de você liberdade para falar e agir, mesmo que isso te desagrade ou a mim. Não quero sentir que estas fazendo algo para mim por pena. Tudo o que fizermos e dissermos será o que estamos sentindo, promete?

-     Sim, prometo. Boa noite.

-     Boa noite, meu anjo.

Como foi fácil dormir após este telefonema. Eram 13:10 horas e eles estavam na estrada. Ele tinha dormido muito bem, acordara e depois do café tinha ligado para sua mãe. Sentado no lugar do carona, observava a rodovia, não tinham trocado muitas palavras até então. Foi ela que quebrou o silêncio:

-     Adam, tem certeza que não quer ficar na casa de meus pais.

-     Tenho Melissa, nem eu, nem eles ficaríamos a vontade. Acha difícil achar uma pensão ou hotel ?

-     Claro que não. O que esta pensando de minha cidade.

Deu um sorriso que mais uma vez mostrou-se sedutor. Ele não podia deixar passar sem um comentário.

-     Você é mais linda quando sorri.

-     Obrigado Adam.

Em mais ou menos duas horas estavam entrando na cidade. A cidade parecia bem aconchegante a seus olhos. Nada de muito transito, prédios ou out-doors. Os habitantes apesar de absortos, tinham uma fisionomia branda, típica de cidades pequenas. Gostou do que viu.

-     Talvez fosse melhor Melissa, você me dar seu endereço e me deixar aqui procurando um local para hospedar.

-     Almoçou no hotel?

-     Ainda não. Mas por favor não se preocupe.

-     Preferiria que você fosse lá em casa para comermos algo, já até avisei minha mãe.

-     Para ser sincero Melissa, há algumas coisas que tenho que fazer, sem as quais não ficarei tranqüilo.

-     Se é assim que desejas.

Após a primeira esquina que atravessaram, ela parou o carro e assim que ele desceu disse:

-     Aquela casa amarela ali é uma pensão, com certeza acharás uma vaga. Mas não fique sem se alimentar e quando resolveres o que tens que fazer me ligue, venho te buscar. Tá bom?

-     Sim, beijos.

Ele tomou o rumo indicado, como a porta estava aberta entrou no que seria a recepção. A pensão era na verdade uma casa grande. O proprietário após ficar viúvo e não tendo filhos, resolveu que juntaria o útil ao agradável. Para não ficar sozinho na casa, transformou-a em uma pensão. Teria companhia e algumas receitas a mais no fim do mês para somar a sua aposentadoria. Na sala havia alguns sofás grandes em volta de uma mesinha de centro repleta de jornais e revistas antigas. Na parede alguns poucos quadros e um tapete enorme que Adam achou horroroso. Com certeza aquela não seria a decoração, de quando a esposa do proprietária ali residia. Aguardou uns instantes e num passe de mágica, surgiu um atendente.

-     Boa tarde meu amigo, gostaria de alugar um quarto.

-     Pois não quanto tempo pretende ficar?

-     Uns dois ou três dias.

-     Não servimos refeições, só café da manhã.

Após o acerto financeiro, ele foi encaminhado a um dos quartos vago. Não era nada luxuoso, mas bem aconchegante. Enquanto tomava banho e trocava de roupa, ficou imaginando o que faria de agora em diante. Já tinha conhecido pessoalmente sua musa, seu sonho. Seus sentimentos em relação a ela, em nada diminuíra, pelo contrário aumentara em virtude da sua beleza. Ela era um belo espécime do “sexo frágil”. Pediu informação ao rapaz da portaria e saiu em busca de uma floricultura onde adquiriu um lindo arranjo. Mulheres adoram flores e a mãe dela não deveria ser a exceção. Como estava faminto e não querendo comer só ligou para Melissa. Ficou acertado que ela o apanharia em quinze minutos, o que obviamente não ocorreu em se tratando de mulher que estava quase pronta, ela tinha dito. Ele tinha voltado a frente da pensão onde ficou aguardando. A espera valeu a pena, com certeza valeria esperar por horas a fio. Quando ele entrou no carro e sentiu o perfume inebriante dela, os cabelos presos em duas tranças, os ombros nus e a pele lisa e queimada provavelmente por sol de piscina. Ele deu um longo suspiro, ela estava exalando sensualidade. Não pode deixar de comentar:

-     Melissa, você é a pessoa que idealizei e guardei na minha parte mais íntima, meu coração.

-     Poxa, que bonito Adam, assim você me deixa sem graça.

-     As flores comprei para sua mãe, espero que ela goste.

Andaram alguns quarteirões, pararam em uma lanchonete. Enquanto aguardavam seus pedidos, ficou observando-a.

-     O que foi Adam?

-     És muito bonita Melissa, confesso que durante esse tempo de contatos pelo telefone e pela internet, morria de curiosidade de te conhecer pessoalmente. Eu estava totalmente envolvido com sua maneira de ver as coisas, mas faltava algo. Não sei qual seria minha reação se não gostasse da sua aparência. A verdade é que pedi a Deus para que fosses bonita ou no mínimo simpática. Lutei contra esse pensamento, contra qualquer tipo de preconceito, mas é difícil.

-     Então você só veio por que viu a foto que te mandei?

-     Não sei! Acho que para o que eu quero, era essencial que fosses bonita.

-     E o que queres Adam?

-     Acho que ainda não devo revelar.

O lanche chegou e saborearam em silêncio, só quando entravam no carro ela falou:

-     Não se preocupe com o que me disse é completamente normal, também tinha essa preocupação. Te achava perfeito demais. Sua história é muito certinha, tinha que haver algo errado.

-     Creio então que todos somos assim, procuramos perfeição. Embora nem todos tenham a sorte que tive. Conheci pela internet uma garota bonita, inteligente, que tem afinidade com alguns dos meus mais diletos gostos. A onde estamos indo?

-     Para minha casa, é aqui perto.

Quando desceram do carro, ele a segurou pelos braços e perguntou-lhe:

-     Pode me dizer se há algum assunto que seus pais não gostam de tocar?

-     Adam, não se preocupe, seja você mesmo e eles te adorarão.

A primeira pessoa a recebe-los foi o pai de Melissa. Após alguns minutos de conversa foi que a dona da casa chegou proveniente da cozinha. Ele cumprimentou-a e lhe entregou o arranjo floral. Notou que este gesto pegou-a de surpresa, mas foi muito bem recebido. Logo chegou a irmã. Era uma família bonita diga-se de passagem. Conversaram sobre vários assuntos até que a matrona da família passou a fazer várias perguntas de caráter pessoal. As quais ele respondia com toda sinceridade. Usou diplomacia e intuição para conquistá-los. Juntava seu bom humor com seriedade na medida certa. Já sabia através de observações feitas por Melissa que sua mãe era o ponto de equilíbrio da família, por isso concentrou-se mais em satisfazê-la com suas respostas.

-     Porque não se casou ainda Adam?

Esta pergunta o surpreendeu.

-     Dona Selma, vou ser sincero com a senhora: Tenho medo de casamento, não da união em si mais da instituição casamento. Não tenho visto muito sucesso nos casais que entram nesta viagem.

Antes que ele completasse sua resposta, ela o interrompeu.

-     Deve ser por eles acharem que é uma viagem de passeio. Não encaram como ela deve ser encarada: “um passo importante na vida.”

Um ponto perdido ele pensou.

-     Desculpe-me mais acho que não fui feliz na minha colocação. Não vejo hoje em dia um casamento que dure mais de três anos. Todos se amam loucamente antes de entrarem na igreja. Mas depois das benções, a união começa a mudar e muitas poucas são para melhor. Realmente tenho medo.

-     Sabe o que ouvi de um pregador certa vez Adam: O casamento é como um rio, para se atravessar: estudasse a correnteza, determinasse aonde quer chegar na outra margem. Ai sim, iniciasse a travessia. O que ele quis dizer é que primeiro os noivos devem planejar as partes práticas da vida a dois, depois plantar em seus corações o que querem alcançar juntos, até onde querem ir juntos. Custe o que custar, pois a travessia não é fácil. Assim podem começar a viver juntos sem medo. Mesmo que a vida a dois seja difícil.

-     Uma excelente definição Dona Selma, pensarei sobre isso.

Resolveu mudar o rumo da conversa para que os outros participassem.

-     Sr. João, Melissa me disse que o senhor gosta de futebol. Esqueci de perguntar se o senhor joga?

-     Gosto muito, mas não posso jogar mais. Hoje só vou ao campo assistir. Você gosta?

-     É um dos meus hobbys. Aonde vou levo a chuteira e o tênis, de repente surge uma vaga.

-     Você joga em qual posição, trouxe sua chuteira?

-     Meio campo. Sempre a carrego.

-     Quer jogar amanhã. O time do bairro vai jogar e sempre falta jogadores, se não vai a conta certa. Se quiser arrumo uma vaga para você amanhã. O jogo é aqui mesmo, temos um bom campo.

-     Claro que quero, isso é se Melissa não tem outros planos?

-     Não tenho Adam, aliás quero ver se não mentiu, quando disse que sabes jogar.

-     Então Adam depois do jantar ligo para o rapaz e digo que vou levar um atleta. Opa até que enfim a bóia esta na mesa.

Foi o pai de Melissa o primeiro a ouvir o chamado para o jantar. Levantaram e foram todos para a copa onde realmente a mesa estava posta. Ele comeu com grande prazer pois a comida estava ótima. Conversaram sobre culinária e ele prometeu que faria uns torresmo de toucinho de barriga, que seu João disse adorar. Após o jantar os irmãos de Melissa saíram, seu pai foi deitar-se mas antes avisou que o jogo estava confirmado que Adam deveria estar ali na casa dele ás 09:00 horas para que eles fossem ao campo. A mãe de Melissa foi juntar os pratos e assistir novela. Encaminhado por Melissa foram sentar-se na varanda pois a noite estava muito agradável. Sentaram-se um de frente para o outro. Ela com suas tranças e seu vestido frente única. Adam estava muito consciente da feminilidade dela. O perfume era MUSK ele adorava. Também notou pela primeira vez que ela estava usando o cordão que lhe dera.

-     Este colar ficou muito apropriado para você. Me saí bem com sua família?

-     O colar é lindo. Sabes que sim. Falou em futebol e ganhou meu pai. Não sei como sabia que um dos assuntos prediletos de minha mãe é cozinha. Você deu-nos uma aula de culinária, sabe cozinhar mesmo?

-     Algumas receitas sim. Quero fazer algo para você, que tal um churrasco amanhã?

-     Tudo bem se queres ter este trabalho. Mais teremos muitas visitas, lembra-se é o aniversário de Melissa

-     Com muito prazer. Mas terá que assistir meu jogo amanhã, não precisa chegar muito cedo. Se o Jogo é 10:00 horas chegue às 11:00 horas. Promete?

-     Prometo. O namorado de minha irmã joga no time também. Dizem que ele é o melhor do time.

-     Amanhã te digo. Sabe o que esta faltando agora aqui Melissa?

-     Não o quê?

-     Um rádio para ouvirmos algo suave.

-     Por isso não, tenho uma surpresa para você.

Ela levantou-se e voltou instantes depois com um micro system e alguns CDs. O primeiro CD que ela colocou foram os Bee Gees.

-     Comprei pelo seu conselho, gostei muito.     

Ela disse voltando a sentar-se de frente para ele.

-     Não imaginas quantas vezes sonhei com esse momento.

-     Verdade?

-     Sim, o que começou como um simples passatempo, hoje é grande demais para ser ocultado.

-     O quer dizer com isso Adam?

Ele pensou por alguns minutos. Será que era salutar se declarar para ela agora. Não conhecia os sentimentos dela. Ela tinha se mostrado uma ótima anfitriã. Deixará escapar umas poucas palavras, que ele no seu estado podia empolgar-se, nada que o encoraja-se a declarar-se a ela. Mas a despeito de tudo resolveu que era a hora. Já a adorava a algum tempo, bem antes da viajem. E esta adoração só veio aumentar-lhe o desejo. Decidiu.

-     Quero dizer que estou apaixonado por você, Melissa. Quero dizer que vir te conhecer só fez aumentar minha paixão.

Procurou perscrutar aqueles lindos olhos a procura de um indício que pudesse lhe dar uma esperança. Não achou nada de encorajador.

-     Adam, gosto muito de você. Estar contigo aqui para mim é um grande prazer. Sua presença aqui confirmou tudo o que eu já sabia a seu respeito. És um homem de caráter, inteligente e bonito. Mas não posso dizer que o que sinto por você seja paixão. Para ser sincera não sei o que é.

Talvez se ela tivesse o dispensado seria menos doloroso, pois ficaria com raiva, viraria as costas e voltaria para sua vidinha. Mais agora estava em duvida lutar ou recuar.

-     Melissa, estou apenas te dizendo o que sinto em relação a você. Estou aqui por livre e espontânea vontade. Você não tem obrigação nenhuma para comigo, a não ser sua amizade já declarada.

-     E tens minha amizade total, Adam. Cansei de dizer-lhe o quanto gosto de ti. Mas não é paixão. Me desculpe se te fiz vim de tão longe por nada, nem sei o que dizer agora.

-     Minha querida eu disse o que tinha para dizer e você fez o mesmo. Era o que eu queria ouvir? Não! Mas é a verdade e isso é importante.

Por dentro ele se remoia. Não estava preparado para a negativa dela. Sempre achou que o sentimento dos dois era mútuo. Ledo engano. Como sair agora desta situação.

-     Melissa, eu estou apaixonado por você isso é axioma. E isso não mudará apesar dessa ausência da sua parte. A única coisa que mudará são minhas atitudes. Não no que diz respeito ao modo de te tratar e de me portar a você. Estou muito feliz com a acolhida que me dera, ninguém poderia ter feito melhor. Sou muito grato.

A solução da lavoura foi a mãe de Melissa que apareceu para perguntar se ele queria um cafezinho. Ele recusou e alegando que teria de dormir cedo para o jogo do outro dia, despediu-se das duas.

-     Melissa, como a pensão fica há apenas uns seis quarteirões, não se dê ao trabalho de tirar o carro da garagem. Vou caminhando, a final a noite aqui é linda. Dona Selma o jantar estava magnífico. Combinei com a Melissa fazer um churrasco amanhã aqui na casa da senhora, espero que não se importe?

-     Claro que não. Ela me falou desse seu dote.

-     É verdade. Por favor avise a seu esposo que estarei aqui amanhã às 09:00 horas. Uma boa noite para senhora e para você Melissa.

-     Vou te levar, Adam.

-     Por favor não faça isso. Agradeço mais não é necessário. Prefiro mesmo ir a pé. Mas faço a questão de te ver amanhã no campo como combinamos.

-     Eu irei.

-     Ótimo. Boa noite.

Saiu demonstrando uma confiança que não possuía. Durante a pequena caminhada fez um balanço daquela viagem. Fora atrás de uma mulher que o atraia. Estava sendo um bom passeio, não havia nada que reclamar. O fato dela ter lhe negado a realização do sonho, não a condenava. Ela não lhe tinha dito:

-     ....venha estou te esperando apaixonadamente.

Ela sempre o achara inteligente, interessante até bonito, porém não o suficiente para apaixonar-se por ele. O que fazer agora? Ir embora amanhã mesmo? Com certeza teria uma longa noite pela frente. Chegou a pensão mais cedo que esperava. A porta principal ainda estava arreganhada. Cumprimentou o atendente e subiu a seu quarto. Ligou para sua mãe como fazia todas as noites. Tomou um banho, mas nem isso o aliviou. Tentou ver TV, ouvir rádio e nada. Tudo o irritava. Deitou-se avaliou seu problema por um tempo, depois pegou o livro que estava lendo SHOGUN de James Clavell e leu algumas paginas, será que o capitão John Blackthorne ficaria com a Mariko-sama. Aposto que não. No outro dia recolheu o livro que estava jogado na cama e o guardou. Conferiu as horas, tomou banho, desceu para um bom café. Foi ao encontro do pai de Melissa. Teria de encará-la o dia todo. Sem problemas ele sabia como fingir. Numa praça logo a frente encontrava-se algumas pessoas entre ela o Sr. João. Agora pensaria só no seu futebol. Afinal tinha uma reputação a zelar. Foi apresentado a todos os presentes, a maioria eram jogadores do time. Como só estavam aguardando ele para se dirigirem ao campo, seguiram. Um belo campo. A outra equipe também estava se reunindo. Depois de alguns minutos vestiram os uniformes e ele estava em seu habitat. Realmente ele jogava bem. Já no intervalo estava sendo assediado pelos companheiros de equipe. Sua atuação no segundo tempo foi estupenda. A Jornada era épica pois a outra equipe era bem superior. Apesar da derrota ele saiu como herói. O cunhado de Melissa também era um excelente jogador, juntos foram o equilíbrio entre as equipes. Quando saiu do vestiário em direção a um barzinho que existia no estádio, deparou-se com ela vindo em sua direção. Cumprimentou-a não friamente mas contido.

-     Adam, tenho que admitir você joga muito bem. Não entendo muito de futebol, mas as pessoas aqui fora falaram que você é um craque, o melhor da partida. Perguntaram a meu pai onde te conheceu. Fiquei muito convencida pois foi eu que te trouxe aqui.

-     Craque não Melissa, mas realmente sei jogar.

Um senhor que ele não conhecia ainda, se aproximou

-     Chama-se Adam, não é?

-     Sim, senhor.

-     Meu nome é Antonio Martins e sou presidente deste clube. Temos uma equipe que vai disputar um campeonato entre bairros. Por acaso assisti ao jogo e confesso que não tenho visto muitos jogadores com o seu futebol. Você é profissional ?

-     Não senhor. Para ser profissional me falta muito ainda.

-     Existe muitos profissionais, que não chegam a seus pés, não é mesmo João.

O pai de Melissa tinha se aproximado.

-     João, estou convidando o Adam para integrar nossa equipe, que vai disputar a copa do interior.

-     Vai aceitar Adam?          

Perguntou-lhe o pai de Melissa.

-     Sinto-me honrado Sr. Antonio. Mas não devo ficar muito tempo por aqui. Tenho que regressar ao trabalho.

-     Mais minha filha tinha me contado que você pretendia ficar uns 30 dias. Esta copa durará por volta de trinta a quarenta dias até a final. Daria tempo para você jogar.

-     Prometo pensar no assunto, sr. João. Sr. Antonio muito obrigado pelos elogios.

Após tomar um copo de cerveja com os novos amigos no bar do estádio, pediu licença e junto com Melissa saíram para providenciarem os ingredientes para o churrasco. Na casa de Melissa ele assumiu totalmente os preparativos. Era coisa que ele conhecia de longa data. Quando mais tarde chegaram o Sr. João e outros convidados, o churrasco já estava quase no ponto. Melissa ajudava sua mãe na cozinha.

-     Adam, porque não fica até o próximo fim de semana. Jogue só o primeiro jogo, que é o mais difícil.

-     Sr. João, estou realmente tentado a fazer isso. Antes de ir descansar falo com o senhor.

Durante toda a tarde em nenhum momento ele conversou com ela, mais de duas palavras. Ele as vezes a observava de longe, ela era linda, agradável, sexy, tantas virtudes. Nestes momentos seu coração enchia-se de dor. Por mais que ele quisesse esconder, não conseguia. Estava totalmente apaixonado por ela. Ele fazia de tudo para evitar uma maior aproximação, pois sabia que não suportaria. As 17:00 horas todos estavam saciados. Dona Selma disse-lhe em determinado momento que ele era um bom churrasqueiro, com alma de gaúcho. Resolveu que era hora de ir. Depois das despedidas aceitou a carona do cunhado de Melissa, Ronaldo que também estava de saída. Mesmo com os protesto de Melissa, declinou de todas as ofertas dela.

-     Melissa, resolvi ficar mais esta semana aqui. Assim vou jogar domingo. Amanhã seu pai vai me levar no escritório do Sr. Antonio para acertarmos uns detalhes. Não se preocupe comigo estarei bem aqui. Teremos treino terça e quinta-feira. Amanhã o Ronaldo vai me levar a um jogo de Futsal. Como vê terei a agenda cheia. Amanhã te ligo na mesma hora de sempre. Nos veremos no fim de semana.


Sentiu que ela se decepcionou. Deu-lhe dois beijos de despedidas e foi para o carro que o aguardava. Não era este o desfecho tão sonhado para coroar seu fim de semana ali. Quando chegou a pensão agradeceu a carona. Entrou na pensão e subiu direto ao quarto para tomar um banho e descansar um pouco. Só acordou com o som da campainha do telefone. Era Melissa convidando-o para jantar com eles. Quando olhou no relógio para verificar as horas, levou um susto. Tinha dormido quase quatro horas. Não era de admirar que estivesse se sentindo tão bem disposto. Não queria que ela ficasse o pajeando só por obrigação. Agradeceu e disse que por não estar com fome, iria descansar mais um pouco, mentiu. Vestiu-se e saiu a fim de fazer um lanche. Num barzinho logo a frente, arrumou uma mesa vazia, fez seu pedido e ficou observando a clientela. O pedido chegou e quando ia dar o primeiro gole no seu chopp, viu que um rapaz se aproximava, a princípio não reconheceu, mais logo depois reconheceu como um dos jogadores de seu time, de nome Renato.

-     Como é Adam, tudo bem?

-     Tudo bem Renato.

-     Posso me sentar na sua mesa?

-     Claro.

-     Que jogo hoje heim?

-     Nosso time precisa de mais jogadores, Renato.

-     Sempre falta.

Enquanto conversavam juntou-se a eles na mesa, Michele irmã de Melissa, Ronaldo seu namorado e mais um casal que ele não conhecia. Depois das apresentações, o assunto voltou a futebol. As garotas conversavam entre si alheias ao assunto. Quando surgiu uma oportunidade Adam perguntou a Michele:

-     Será que se eu convidasse sua irmã, ela viria?

-     Gostaria se ela estivesse aqui, mas como você não quis jantar lá em casa, ela já voltou, saiu de carro depois de te ligar.

Agora sim tinha se afogado na lama, aquela resposta o nocauteou. Achava que com sua conduta de deixa-la livre daria o resultado que ele esperava, enganou-se. Ela já voltara para sua vida do dia a dia. Foi um duro golpe.

-     Michele, vim de longe para tentar conquistar sua irmã. Achei que seria fácil pelos contatos que tivemos. Mas na verdade já viu que não foi? Sua irmã tem namorado ou um paquera aqui?

-     Que eu saiba, não. Engraçado ela sempre falava em você.

-     Deve ter se desiludido. É a vida.

Foi a própria Michele que o convidou para ir a um outro bar onde haveria musica ao vivo. No princípio não gostou da idéia, mas foi convencido pelos outros. Cada qual pagou sua conta e dividiram-se em três carros e foram. Na verdade ele se divertiu bastante pois o conjunto era muito bom, muitas músicas que ele como um eterno romântico adorava. Se ele força-se a barra um pouquinho não sairia dali sozinho, porém não chegara a hora ainda. Voltou a pensão e dormiu. Arrependeu-se de não ter ido embora pois a semana se arrastou. Melissa por algum motivo que ele não procurou saber, não veio na sexta feira como sempre fazia. Aguardou o sábado com ansiedade ela tão pouco chegou. O engraçado era que tinha ligado para ela diversas vezes durante a semana, e ela nada lhe comunicara. Os seus diálogos eram os mesmos, mas as frases que ela lhe dizia já não eram as mesmas. Realmente ela mudara. A única coisa que salvou o fim de semana foi o tão comentado jogo. A equipe que o Sr. Antonio montara era um timaço, mesmo assim ele se sobre saiu entre os melhores. Sua equipe ganhou por 1 X 0 e ele foi o autor do gol, cobrando um pênalti. Churrasco e cerveja rolaram soltos. Recebeu a promessa do Sr. Antonio, de que se o time fosse campeão ele receberia a sua medalha. Adam fez questão de afirmar que se o time chegasse a final, ele viria nem que fosse para assistir ao jogo. Após a comemoração resolveu ir a casa de Dona Selma despedir-se.

-     Dona Selma vim conhecer sua filha com uma boa imagem dela, volto levando a certeza de que ela é o espelho da família. Muito obrigado pela acolhida.

Com o Sr. João, já tinha conversado no campo. Ronaldo se prontificou para leva-lo na rodoviária. Não adiantou a recusa, ele insistia. Passou na pensão, pegou suas coisas, pagou a conta, agradecendo o atendente. Na rodoviária comprou a passagem no guichê e voltou para se despedir de Ronaldo. Deram um abraço e este voltou para o carro a caminho de casa. Como o ônibus iria demorar mais meia hora, sentou-se numa poltrona e fechou os olhos, tinha muito que pensar e planejar. Havia tempo de sobra. Ligou para sua mãe avisando que estava voltando. Antes de viajar havia lhe revelado a origem do dinheiro para despreocupá-la. Quando se dirigia a banca a fim de comprar uma revista, seu celular tocou. Sabia quem era.

-     Adam?

-     Tudo bem, Melissa.

-     Não. Não está tudo bem. Gosto tanto de você. Quero lhe dizer que lamento não ser tão romântica como você.

-     Melissa.

-     Por favor espere deixe-me falar. Não sei se teria coragem de fazer o que fizeste, vir para um lugar desconhecido, atrás de uma pessoa que nunca vira face a face. Sei que cansei de te convidar, mas verdade, não esperava que viesse. Sempre fui uma menina medrosa, não como minha irmã. E é essa cautela em demasia que me fez afastar um pouco de ti. Foi medo. Você demonstrou-se ser uma pessoa extraordinária, conquistou todos a minha volta. Hoje aqui só, neste quarto, consigo enxergar com bom seria se estivesses ao meu lado. Te liguei para pedir-lhe uma nova chance. Não te amo como confessares me amar, mas vi hoje claramente como é fácil te amar. Pronto era isso que eu queria dizer-lhe.

Surpreendido com a declaração, pensou um pouco.
-     Sabes como me deixa feliz, Melissa. Façamos o seguinte, amanhã te ligo ás 09:00 horas como sempre. Terei um convite a te fazer. O ônibus vai partir. Melissa prometo fazer de tudo para me amares. Beijos minha doce Mel.

Ocupou seu lugar no ônibus. Tentou dormir mas não conseguiu. Esta ligação mudava novamente seus atos futuros. Enquanto o coletivo ganhava quilômetros e quilômetros, sonhava. A chuva começou a cair, no princípio fina, depois mais intensa. Amanhã convidaria Melissa para ir lhe fazer uma visita num próximo fim de semana. Com certeza teria mais oportunidades de demonstra-lhe sua paixão. Sabia que era possível conquista-la. Em sua mente já começava a traçar as viagens, os locais onde leva-la. Com certeza o que ela sentia poderia não ser amor hoje, mas seria, ele tinha tudo ao seu lado. Sonhava de olhos abertos. Estava feliz.

Melissa que andava apressada a fim de chegar a sua sala o mais rápido possível, evitava parar para falar com qualquer conhecido. Ele ligaria ás 09:00 horas em ponto. Se ele disse 09:00 horas seria 09:00 horas. Até isso era bom nele, a pontualidade. Ela cometera um erro. Ela não o amava, mas quem não começaria a amar o Adam. Ele é tudo o que uma mulher pode querer. A sua maneira de ser era contagiante. Foi sua própria mãe que lhe abriu os olhos. As amigas de sua irmã ficaram em polvorosa por ele. Por que ela não poderia se apaixonar por ele. Com a pressa que caminhava e sua determinação de chegar a sala na hora marcada, não reparou na reportagem que estava sendo transmitida na TV que ficava ligada na recepção do prédio onde trabalhava. Se tivesse prestado atenção, como alguns estavam prestando, teria lido a relação das vítimas fatais no acidente ocorrido na noite anterior, na colisão de um ônibus de passageiro e uma carreta que vinha em sentido contrário, numa rodovia federal. Na relação das vítimas encontraria um nome bem familiar ADAM C. SILVA.



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Contos As Artimanhas do Amor Alberto Angelo de Assis


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