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A NOITE EM QUE
HSERPA

A NOITE EM QUE "FECHAMOS" O CENTRO DA CIDADE

Como é que eu podia assistir aula daquele jeito.
Todo dia passava lá na minha escola o 'milico' e o 'francês' filho de um diplomata que tinha voltado da França, por isto o apelido.

Eu era um cara calado, tímido, mas que topava qualquer parada desde que não fosse prejudicial a ninguém, pois só éramos festeiros. Não corria da raia se estivesse no pedaço.

Eu acho que peitava a minha fobia social com arrebatamentos. O meu cabelo, um dia eu fui dormir sem pentear e quando acordei gostei do jeito que ficou e nunca mais penteei, antes sempre ficava, quando repartido, bonitinho, mas meio atrapalhado, pois ficava um lado mais alto, e naquela manhã, eureka, achei o meu ideal, só dava uma ajeitada com a mão e lá ia embora.

E nesta como eu cada vez gostava mais dele, ele foi crescendo, crescendo e acho que fiquei uns três anos sem cortar, eu acho, e o tal, no estilo black power, foi se expandindo para todos os lados. Não tinha como não ver de longe que eu estava chegando. rss

Mas o milico, que tinha um Opala, que na época era o carrão, pulava o muro do quartel ou dava outro jeito de sair, colocava uma peruca rss e ia lá no meu colégio azucrinar do corredor me chamando para sair

Ai é claro eu olhava a cara do professor e olhava para o corredor e o apelo da aventura pesava mais forte.

Eu devia ter uns dezesseis anos, mas a minha turma sempre era mais velha, não sei porquê, mas sempre foi, assim como as minhas companheiras sempre tinham alguns anos a mais do que eu, assim como a minha esposa que tem três a mais também.

Eu digo companheiras porque nunca tive os namoros tradicionais, o caminho nunca foi por aí, pois conversar com uma pessoa já estava bom demais, imagine com a familia inteira e os domingos e os sábados eram muito bons para ficar preso dentro de uma sala vendo televisão. Nada contra, mas...

Estes namoros me fizeram falta, tive que compensar depois de já adulto, bem adulto.

Mas naquele dia lá passou o milico, não com o francês, mas com um outro cara. Um cara que eu considerava um 'mauricinho' enrustido" e eu devia ter visto isto como um presságio.

E lá fomos nós para o carro que cada vez que entravamos, e era quase todos os dias, nunca sabiamos como iria acabar, mas sempre curtindo, pelo menos, um som legal.

Naquela época em Santa Catarina o lança perfurme, apesar de proibido ainda era muito usado nos carnavais. Tive uma vez até um paquerinha com a filha de uma promotora de Santa Catarina, lá na praia de Enseada, que a mãe dava para cada filha e filho um frasquinho, de tão comum que era.

Em São Francisco que era considerado um dos melhores carnavais do sul do país, então, o díficil era achar alguém que não estivesse com um frasquinho.

Eu acho até que o lança perfume tinha a cara do litoral de Santa Catarina, onde na minha infância ainda era liberado, depois foi proibido pois uns e outros espirravam nos olhos de algumas pessoas e estes ficavam irritados. O principio da proibição foi por causa disto e depois considerado como substância ilícita, mas aqui em Curitiba nem se houvia falar.

Mas como tinhamos passado o carnaval em Itapema o milico tinha ainda uns frascos e estavamos lá naquela noite curtindo eles dentro do carro indo para lá e para cá quando vimos 'três princesas' sendo acediadas por três carros.

Um atraz do outro tentando 'ganhá-las' para os seus véiculo e o milico só para embassar entrou também na fila e ficaram lá os quatro carros azucrinando, nós mais por farra, mas as 'moças' para se verem livres daquela zueira entraram no veículo que estava na frente e que só tinha um cara dentro.

E os veículos foram dispersados, mas para o milico não, foi atraz do Corcelzinho GT, que na época era, também, um carro da moda, motor potenciado e tal, e cheio de esportividade.

E o motorista não se fez de rogado e desceu o pau no Corcel, parecendo que também gostou da brincadeira e se mandou e o milico e nós atrás.

E vai para cá e vai para lá até chegar numa pista que o Corcel enganando o milico entrou para a direita e este passou direto, mas como tinha um posto de gazolina ele fez a volta ali e como não vinha carro, seguiu na contra mão até um ponto de travessia e passou novamente para a pista certa.

E encostamos novamente no corcelzinho que entrando à esquerda caminhou para o centro da cidade.

E quando chegamos bem na esquina mais movimentada da cidade e onde era, naquela época, a rodoviária, o sinal fechou e com isto o Cocel parou e o milico parou no lado esquerdo dele e pela direita do Corcel apareceram os três carros da policia que estavam nos seguindo deste o 'cavalinho de pau' dado no posto de gazolina.

E passando pelo lado direito do Corcel fecharam as frentes dos veícuilos e sairam de armas em em mão e em posição de atirar e dizendo para nós sairmos do veículo com as mão para cima.

O milico logo que eles apareceram já tinha colocado o frasco do lança perfurme por baixo da camisa, preso na calça.

E lá fomos nós de mãos para cima para fora do carro, onde já tinha se formado uma enorme aglomeração, claro, nas quatro esquinas.

Fechou o tráfego até nos explicarmos, ou melhor escutarmos o que deveriamos fazer, depois de termos mostrado os documentos.

Quanto a mim e ao 'terceiro' tivemos que entrar no camburão de uns dos carros da policia e o milico foi dirigindo o Opala, com um ou dois policiais juntos, até o distrito da vez.

O 'mauricinho' foi choramingando dentro do camburão: e agora, se o meu pai sabe, e bu bu bu. Dizem que se conhece um homem nestas horas e ali eu só confirmei o que já achava. Bom, ele só não devia era ter entrado onde a praia era muito agitada para ele, mas fomos lá nós dentro do camburão.

Chegando na delegacia ficamos uma duas horas dentro do camburão enquanto o milico estava lá negociando a nossa saida. Tinha familia de uma certa influência e que acionada, entrou em contato com um graduado da policia militar conhecido, que facilitou a nossa saida, mas a pé, pois o veículo ficou lá preso.

E lá saimos, então, nós, naquela noite que prometia tanto, mas que terminou de forma tão frustrante, com a gente indo embora 'chutando lata' e sabendo que aquele 'mauricinho', que estava branco de tão pálido, nunca mais ia se chegar.

Quanto a mim nunca me preocupei muito antes da hora, pois as coisas sempres acabavam se resolvendo.

Naquele dia eu devia ter ficado na escola.

Eh, anos setenta, como eram bons para quem tinha aquela idade que tinhamos naqueles anos.

'Tudo vale a pena quando a alma não é pequena'

*Cabe ressaltar que Lança perfume, além de hoje ser considerado uma droga como outra qualquer, pode levar até a morte, pois aumenta em muito o batimento cardiaco e que dirigir veículo ,hoje, daquela forma é impensável e suicida.

E não misture bebida com direção que você só pode provocar tragédias.

Nem uma coisa nem outra é aconselhável para menores de 90 anos.

'Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de sí mesmo' Roselis von Sass - graal.org.br



Biografia:
Uma vida inteira em busca da realização do saber seguinte: "Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo' Roselis von Sass – www.graal.org.br www.hserpa.prosaeverso.net
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